Saturday, December 01, 2007

Grande sucesso na tertúlia de 1 de Dezembro de 2007!


A Tertúlia do Bar do Além encerrou com chave de ouro o ano de 2007, no oitavo ano da sua actividade ininterrupta, desde que iniciou o ciclo de almoços debate sob o título, o oculto às claras, em setembro de 2000.


Ao todo foram já realizadas em Alenquer, quase 100 iniciativas de caracter pedagógico, e em ambiente aberto, sobre temas de natureza fraterna e universal, metafisica, histórica, sagrada, simbólica ou esotérica, mas sempre valorizando a dimensão espiritual, a liberdade de pensamento e as demais regras de são convivio social, em especial a Tolerância, e a Solidariedade em Paz.



Destacam-se a qualidade dos oradores, a riqueza dos temas, e algumas acções feitas no exterior do Bar do Além, como uma visita guiada aos jardins e subterrâneos da Quinta do Palácio da Regaleira, uma visita ao Convento e Castelo de Tomar, e uma peregrinação (pedestre) a Santiago de Compostela por 160km do caminho francês.
Em 2008 acham-se já previstos os seguintes almoços-debate:
Vera Xavier, 19 de Janeiro, Previsões astrológicas para 2008
Cnadida Loureiro, 23 de Fevereiro, Transmigração de almas
segue-se a personalidade mistica e esotérica de Maria, um representante da religião Bahai, um orador sobre a Ordem de Ourique, Pinharanda Gomes sobre a canonizaçao de D. Nuno Alvares Pereira, etc...



O último almoço debate de 2007, reuniu mais de 40 tertulianos para debaterem o tema da homeopatia, regressão de memórias e vidas passadas, com o Dr. Daniel Ribeiro, tendo sido moderador o secretário da Tertúlia, Prof. dr. Nandin de Carvalho. (foto)


Nota:
A Tertúlia do Bar do Além, é uma associação sem fins lucrativos, cujo símbolo é o eclipse do Sol sob a Lua.

A Tertúlia não dispõe de estatutos, nem de quotas, nem de joias, nem de regulamentos, nem reune em assembleias gerais, nem sequer realiza eleições, mas tão sómente reune em sessões mensais, aos sábados pelas 12h, seguidas de ágape, sendo os convites/avisos expedidos unicamente por mail aos seus membros.

Para ser admitido, como membro de pleno de direito, é necessario preencher três requisitos: 1) inscrever-se por e-mail, 2) consultar este blog.... e 3) participar pelo menos numa tertúlia por ano!

Wednesday, November 21, 2007

tertúlia de 1 de dezembro, Daniel Ribeiro sobre regressao....




iriodiagnose,
e regressao de memórias e vidas passadas
data 1 de Dezembro, as incio às 12h na Tertúlia do Bar do Além, no Alenquer Camping (www.dosdin.pt/camping) Reservas indispensáveis, pelo mail bar.do.alem@gmail.com .
ementa completa com entradas, bacalhau verde gratinado, sobremesa surpresa, vinhos da região demarcada de Alenquer, ou refrigerantes e café, tudo incluido 17,50€
Lotação limitada.

orador, Daniel Ribeiro
curriculum:




Daniel Fernando do Nascimento Soeiro Ribeiro

Nascido em Lisboa a 13 de Fevereiro de 1936
Ex-seminarista, com formação em Filosofia, entrou na Medicina em 1976 e doutorou-se em Medicina Tradicional, na Open International University.
Ex-Professor do ensino secundário, de Português, História e Filosofia, ex-Profexsor Universitário e Presidente do Conselho Científico na Escola Superior de Biologia e Saúde e ex-Professor Convidado no Instituto Piaget, na disciplina de Epistemologia de Introdução às Ciências Biológicas.
Na ESBS foi professor das seguintes disciplinbas: Etiopatogenia Humana e Diagnósticos em Naturologia, Iridodiagnose, Homeopatia, Ecobiologia das Memórias, Filosofia da Medicina Tradicional, e Epistemologia das Ciências Biológicas.
Foi dirigente da Associação Portuguesa de Naturopatia e da Federação Nacional das Medicinas Naturais.
Exerce clínica Naturológica-Homeopática, em Oeiras, e exerce a Hipnose, para Regressão das Memórias.
Tem participado em vários Congressos de Medicina Tradicional.
É Presidente da Sapientia Vitae, Associação Cívica e Filosófica de Reflexão e Solidariedade.
Foi jornalista em onze jornais e revistas e autor de programas no Rádio Clube de Moçambique e no Rádio Clube Português e é escritor, com alguns livros publicados, de ensaio científico, nomeadamente acerca da Sida, assim como livros de poesia, e aguarda a publicação de várias obras, ainda na gaveta, nomeadamente de teatro e poesia e prestes a acabar um longo tratado filosófico, a intitular-se Humana Ciência.
Foi Director do Pelouro Cultural da Fnat/Inatel, onde, a 16-12-1973, foi acusado de comunista, subversivo, perigoso, e donde foi expulso, em 1975, por desobediência às hierarquias comunistas.
A convite do, então, Director-Geral dos Serviços Prisionais, criou e dirigiu, em algumas cadeias centrais, um Curso de Dinamização Sócio Cultural para reclusos e funcionários, donde acabou por ser afastado, assim como o próprio Director-Geral, por ter descoberto e denunciado o ambiente de alta corrupção e de desumanização.
Foi actor e encenador amador e profissional e continua a realizar vários recitais de poesia.
É Maçon, na Grande Loja Legal de Portugal/Grande Loja Regular de Portugal.

Tuesday, November 20, 2007

Tertúlia do Bar do Alem prepara viagem a INDIA para 2008

A tertúlia do Bar do Além de 17 de Novembro, com Pedro Teixeira da Mota foi muito participada sobre o tema Hinduismo...e neste momento ja se prepara uma viagem de estudo a India Mística

Será em 2008, porvavelmente em setembro/Outubro por cerca de 12 a 15 dias....
Aceitam-se sugestões de percursos...ver mais em
http://www.popular-india.com/travel-guide-to-india.pdf




Saturday, October 27, 2007

Bar do Além....ponte do Halloween no Camping


Clientes do Bar do Além,
Membros da Tertúlia do Bar do Além,
Clientes do Alenquer Camping,
preços especiais de 31/10 a 4/11
em 3 noites paga duas !
em 3 copos paga dois !

Tuesday, October 23, 2007

Budismo e Notas, pelo Prof Paulo Borges no Bar do Além


( Mesa da Tertúlia do Bar do Além, em Alenquer, Com o Prof Paulo Borges e o moderador)

Budismo
O Dharma ou a Via do Buda, conhecido no Ocidente como Budismo, consiste nos ensinamentos e métodos transmitidos pelo Buda Shakyamuni (566-486 a. C.) para que os seres realizem a sua própria natureza de Buda, definida como um estado da mente livre de todos os obscurecimentos conceptuais e emocionais e no qual assim perfeitamente se manifestam todas as suas qualidades cognitivas e afectivas, nomeadamente a omnisciência, a visão da natureza última de todas as coisas, e um amor e compaixão infinitos e imparciais por todos os seres.
A base do ensinamento do Buda Shakyamuni consiste na exposição das Quatro Nobres Verdades, segundo uma perspectiva terapêutica: 1 – o diagnóstico é o reconhecimento de que todas as experiências condicionadas ao longo da vida são dukkha, termo que implica as noções de sofrimento, insatisfação, mal-estar, frustração e imperfeição; 2 – a etiologia consiste em indicar como causas de dukkha a ignorância, no sentido do desconhecimento da natureza última da mente e das coisas, que leva à percepção de uma separação e dualidade entre o eu e o mundo e daí ao egocentrismo do desejo possessivo e da aversão; 3 – o remédio consiste no nirvana ou cessação do sofrimento por abolição das suas causas; 4 – a aplicação do remédio é a via que assume três aspectos: ética (não prejudicar nenhum ser vivo e fazer tudo para o bem de todos), meditação (libertar a mente de todos os conceitos e emoções negativas que a agitam, desenvolvendo uma atenção concentrada, calma e pacífica) e sabedoria (o conhecimento directo da natureza pura de todas as coisas e o viver em conformidade com isso, pondo a vida ao serviço do bem e da libertação de todos os seres).
Assumindo aspectos filosóficos e religiosos de acordo com as necessidades dos seres e das culturas onde se manifesta, o chamado Budismo é fundamentalmente uma via para curar e libertar a mente do facto de ser causadora de sofrimento para si e para os outros.




Para um diálogo e uma espiritualidade inter e trans-religiosos: uma reflexão a partir de Agostinho da Silva e de Sua Santidade o XIV Dalai Lama.




Paulo Borges
(Universidade de Lisboa)
Cremos que um dos maiores desafios de sempre, mais urgente no actual momento histórico, é contribuir para que a religião, um dos factores mais constitutivos da experiência humana, mas também dos mais indutores de conflito, por suscitar as adesões mais passionais e irreflectidas às re-velações e re-presentações da verdade absoluta, se converta em estímulo ao diálogo, à compreensão mútua e ao progresso espiritual e social. Cremos também que isso só será possível, sem sacrifício das diferenças religiosas, expressão da riqueza e diversidade do património e da experiência humanos, por um aprofundamento de cada uma que, relativizando as formulações doutrinais e dogmáticas à experiência ético-espiritual do sentido último das coisas e do bem comum, permita reconhecer as diversas tradições religiosas e também laicas como mediações e vias diferentes para um mesmo ou semelhante fim. Contudo, a subordinação das vias a um fim que as transcende enquanto tais, e que vemos como a plena realização humana na experiência da natureza última e comunitária da realidade, deve acompanhar-se da consideração de que, para cada homem e grupo humano concreto, com características psicológicas e condições histórico-culturais diferenciadas, esse fim se atinge mediante a via específica que melhor se lhes adequa, prevenindo-nos das ambiguidades do sonho, por vezes bem intencionado mas perigoso e ingénuo, de uma única religião ou via universal. Pretendemos considerar aqui estas questões a partir das propostas de dois autores que têm sido interlocutores privilegiados da nossa reflexão: o Professor Agostinho da Silva, cujo centenário do nascimento ainda se comemora, e Sua Santidade o Dalai Lama, que visitou Portugal recentemente.


É conhecido o entusiasmo de Agostinho pelo culto popular do Espírito Santo, originado no séc. XIII e hoje presente nos Açores e no Brasil, cujo simbolismo da coroação da criança como Imperador do mundo, da libertação dos presos e do banquete gratuito vê como o do pleno cumprimento do Espírito pelo pleno cumprimento do homem. Nessa religiosidade de expressão portuguesa e lusófona, centrada na experiência e revelação de um “absoluto” ou Deus que por vezes designa apenas como “Espírito” e outras como “nada que é tudo” 1, não encontra uma “religião” que seja “mais uma entre as outras”, mas antes “o aviso” de que todas, juntamente com as experiências ateias, agnósticas ou anti-religiosas, manifestam esse centro e essa fonte indeterminados e inefáveis e o desejo de fusão nele. No que respeita aos religiosos, o imperativo do Espírito é que, “sendo obrigação essencial de cada um converter-se à sua própria religião, numa vontade contínua de aperfeiçoamento seu e dela, nunca será plenamente religioso se não entender cada uma das outras religiões como se sua fosse” 2.
O que segundo Agostinho se manifesta no culto popular do Espírito Santo, invocação do absoluto para além das suas diferentes representações, religiosas ou não, é que o sentido último de toda a religião é a união do humano e do divino, fazendo com que uma vida religiosa só seja verdadeira quando, seguindo uma determinada via para tal, reconhece que todas as outras, e todos os que as seguem, visam o mesmo fim, sendo vias equivalentes à sua e viandantes semelhantes a si, como caminhos e caminheiros que, partindo de diferentes pontos no sopé de uma montanha, vêm convergir, encontrar-se e unir-se no cume. A verdade e o aperfeiçoamento das próprias vias religiosas dependem assim deste seu reconhecimento mútuo como caminhos fraternos e convergentes. Instância trans-religiosa, o Espírito Santo seria esse centro onde todas as vias convergem e do qual dependem os seus dinamismos e vitalidade próprios, consoante a imagem, de procedência taoista, do centro imóvel e vazio que permite o movimento da roda 3.
O verdadeiro ecumenismo consiste pois em “ver todas as religiões como os vários aspectos” dessa “religião do Espírito”, entendida como a sua quinta-essência unificante, e em se reconhecer e experimentar que os praticantes das diferentes religiões podem entre si aprender e ensinar os diferentes aspectos de uma mesma vida religiosa. O ecumenismo não é assim mero apêndice desta, simples “contrato” ou acordo de convivência tantas vezes incomodamente exigido pelas circunstâncias históricas, culturais e políticas como algo com que as religiões localmente maioritárias condescendem apenas à superfície e não sem mal disfarçada sobranceria, fruto do complexo de superioridade resultante da convicção de serem as únicas ou privilegiadas eleitas ou mediadoras da verdade, o que, na perspectiva agostiniana, seria um dos aspectos do próprio pecado contra o Espírito Santo, em sua imprevisível e inobjectivável manifestação 4. Ao contrário, o ecumenismo é expressão e constituinte da vida religiosa e espiritual plena, a vida dessa “religião do Espírito” (talvez lhe pudéssemos chamar simplesmente espiritualidade) que, em seu fim e perfeição última, abandona e transcende todas as formas, meios e símbolos exteriores – “ritos”, “orações”, “sacramentos” – para se perder/encontrar na fusão com o real, o divino e o incondicionado 5.


Propondo o aprofundamento da experiência ecuménica como experiência religiosa de descentramento de si para o outro, mas também, a nível superior, de descentramento da própria vida religiosa para o viver em Deus, ou para a vida de Deus 6, e assim a passagem do “ecumenismo cristão” ao “ecumenismo universal” 7, Agostinho revoluciona a noção de Igreja católica, recordando que “catolicismo, quer, etimologicamente, dizer universalismo”, sendo-lhe exigido um “ecumenismo” não limitado apenas a “cristãos”, mas extensivo a todas as religiões e mesmo a agnósticos e ateus 8. Implica isso fomentar consciências humanas verdadeiramente católicas, ou seja, “totais”, no sentido de meta-confessionais e apenas romanas por aspirarem, “alargando o ideal de Roma antiga”, a “que seja todo o homem cidadão do mundo”, passando-se enfim “da província ao Universo” 9.
“Igreja Católica”, para Agostinho, passa a ser sinónimo da Comunidade “Universal” e “ecuménica” de todos quantos autenticamente se esforçam pelo fim de todas as divisões, discriminações, antagonismos, opressões e limitações, a todos os níveis, do espiritual ao económico, passando pelo racial, social, pedagógico e político. Irredutível a qualquer religião e confissão e de todas integrante, junto com o ateísmo e o agnosticismo, ela é a comunidade revolucionária metanóica de todos os homens que lutam pela transformação radical de si e do mundo. “Revolução” que exige, no culminar místico da ética e da espiritualidade agostiniana, encontrar e ser “a essência que a tudo liga”, pleno cumprimento da mais funda vocação existencial de cada homem 10.


Na verdade, o supremo centro e condição de possibilidade dessa transformação íntima reside num aprofundamento da experiência do divino, pois da sua “escassez” procede afinal a multiplicidade de discursos teológicos, práticas rituais e disputas entre “sistemas de crença” – e diríamos mesmo, agostinianamente, dos próprios “sistemas de crença”, nascidos, tal como a “religião”, do “medo” inerente à cisão sujeito-objecto 11 - , bem como a agitação, publicidade e competição proselitista e moralista. É sua convicção que a vida religiosa evolui para se “ver Deus como superior às igrejas”, presente em todas as religiões e “mais pronto” a manifestar-se em cada “coração” humano – mesmo em quem o nega ou ignora – do que em actos meramente formais que não venham do “espírito” 12.
A espiritualidade e o ecumenismo agostinianos cumprem-se todavia não numa nova religião, sincrética, que a todas reúna e transcenda, nem mesmo enquanto “religião do Espírito Santo” 13, mas antes numa experiência espiritual do divino ou do absoluto, radicalmente íntima e inobjectivável no espaço e no tempo 14 – isso que designa como “metanóia” ou “samadhi” - , acessível por muitas vias, religiosas ou não, e assim compatível com a existência dessa pluralidade diferenciada de caminhos que só será em definitivo transcendida quando todos os homens comungarem a mesma experiência, inaugurando a trans-histórica era do Espírito Santo ou “os tempos de ser Deus” profeticamente anunciados 15. Não obstante, para aqueles que desde já antecipam essa experiência plena ou o seu vislumbre, considerando a partir daí a pluralidade diferenciada das religiões e vias, esta torna-se extremamente relativa ou mesmo evanescente 16, como para o centro vazio da roda que pudesse observar os múltiplos raios que dele partem e nele convergem ou para o viajante que, havendo chegado ao cume da montanha, pudesse contemplar, a toda a volta, as múltiplas veredas que lá igualmente conduzem 17. A experiência do divino ou absoluto como “Nada que é Tudo” permite assim conciliar todas as formas, nomes e imagens divinas com a sua total ausência, negação ou superação. Sendo uma transcendência de todas as vias, religiosas ou não 18, ela converte-se, ao mesmo tempo, e por isso mesmo, no sentimento da sua plena e total integração e cumprimento, sem qualquer contradição, como não há contradição em considerar os raios da roda inseparáveis do seu centro vazio ou o cume da montanha inseparável de todos e cada um dos caminhos que de lá partem e lá conduzem 19.


Âmago de todas as religiões, é dentro delas e por via delas, ou pelas vias negativa e abstencionista do ateísmo e do agnosticismo, que a suprema experiência espiritual se pode dar. Se todas as possibilidades religiosas, o ateísmo e o agnosticismo são igualmente vias, ou seja, mediações, para algo que, enquanto i-mediato, a todas igualmente legitima, dinamiza e transcende, significa isso que nunca houve, não há e nunca poderá haver uma religião ou via única que seja a religião do Espírito, no sentido de ser a única verdadeiramente dele procedente e a ele conducente ou a mais verdadeira de todas as que dele procedem e a ele conduzem. Tal como na imagem do movimento da roda de muitos raios convergentes no centro imóvel e vazio, a manifestação e a busca dessa experiência assumirá sempre - no seu início e até à Hora sem tempo em que todas as consciências se hajam reconhecido na comum Origem e Fim - uma irredutível unimultiplicidade humana, cultural e religiosa, sendo o reconhecimento dessa unidade e convergência na diversidade que pode permitir e suscitar essa harmonia e diálogo inter e trans-subjectivo, inter e trans-cultural e inter e trans-religioso que Agostinho considera uma das tarefas maiores da humanidade contemporânea e a vocação superior dos povos de língua e cultura portuguesa.

Quanto a Sua Santidade o Dalai Lama, constatando o facto lamentável de que a religião seja historicamente causadora de tantos conflitos, atribui-lhe duas causas principais: a própria “diversidade religiosa”, doutrinal, cultural e de práticas, e os “factores contextuais políticos, económicos e outros, principalmente a nível institucional”, que se lhe associam. Vê a solução destes na “secularização” e sobretudo na separação entre as hierarquias religiosas e as instituições estatais, enquanto a dos primeiros passa pela promoção da “harmonia inter-religiosa”, aspecto importante da ética de “responsabilidade universal” que advoga 20.
Avalia primeiro a relevância da religião no mundo actual. Se a “crença religiosa” não é indispensável para a felicidade, bem como para o cultivo ético de valores humanos e espirituais como amor, compaixão, paciência, tolerância, perdão e afins, é sua convicção serem estes “mais fácil e eficazmente” promovidos “no contexto de uma prática religiosa”, vantajosa no confronto com a adversidade e por mostrar a necessidade da ética, encorajando a “responsabilidade em relação aos outros”. Independentemente das mutações histórico-culturais, a religião mantém-se relevante na medida em que o ser humano continua a sofrer e ela visa vencer esse sofrimento 21.
Sendo as religiões incontornáveis e potencialmente benéficas, trata-se de ver como as harmonizar, o que considera depender da sua compreensão mútua, da identificação do que a impede e do encontrar caminhos para o superar. “O maior obstáculo à harmonia inter-religiosa” reside na falta de apreço do valor das “tradições religiosas” entre si, baseada numa longa ausência de comunicação entre elas, inviável todavia no mundo contemporâneo, cuja crescente complexidade e interdependência suscita o contínuo confronto com a diversidade cultural, étnica e religiosa 22. Aponta assim quatro vias, por si praticadas, para vencer a ignorância e promover a compreensão mútua mediante o diálogo inter-religioso: 1 – encontros entre eruditos onde se debatam as convergências e sobretudo as divergências entre as confissões; 2 – encontros entre praticantes genuínos de diferentes religiões que assim partilhem a experiência e compreensão da sua própria prática religiosa; 3 – encontros ocasionais entre diferentes líderes religiosos para orarem em conjunto, sobretudo importantes pelo efeito social do exemplo; 4 – peregrinações conjuntas de pessoas de diferentes religiões aos lugares sagrados de uns e outros 23. Estas práticas tornam evidente para os seguidores de cada religião que os ensinamentos das outras são, tais como os da sua, “fonte de inspiração espiritual e de orientação ética”, que, apesar das diferenças doutrinais e outras, todas as grandes religiões visam melhorar os indivíduos mediante o desenvolvimento dos valores fundamentais, e que as vidas dos seus fundadores são idênticos exemplos de “disciplina ética” e “amor pelos outros” 24.
A par do diálogo inter-religioso há todavia que implementar e aprofundar na vida quotidiana a prática da sua própria religião, trocando a adesão e o comportamento formal exteriores, ou meramente intelectuais, por um esforço sincero de transformação interior 25. Relativizando a “conversão”, no sentido de mera adesão a uma dada religião, à “transformação espiritual” efectiva, Sua Santidade exorta a que a conversão a outra religião não seja condicionada pela sedução por meros “aspectos culturais e rituais” ou por uma expectativa de menor exigência. Manter a mesma religião ou mudar de religião de nada serve se o sujeito permanece escravo da sua negatividade, sendo como “um paciente com uma doença mortal que lê um tratado médico em vez de seguir o tratamento prescrito” 26
Esta “importância primordial da prática sincera” revela-se também pela descoberta de que, a par da ignorância mútua, o factor que mais causa “desarmonia religiosa” é a “relação doentia dos indivíduos com a sua fé”. Quando se faz da religião uma “posse” ou “marca” que supostamente nos distingue e superioriza aos outros, há uma perversão fundamental pela qual se a utiliza para reforçar a atitude egocentrada em vez de a aplicar com o descentramento que exige. Se a religião não purifica o coração e o espírito, libertando-os de preconceitos e emoções negativas, são estes que a envenenam e desvirtuam 27.
Segundo Sua Santidade isto decorre de um outro problema, inerente a todas as religiões, que é o de cada uma se apresentar como a “verdadeira” e de o seu caminho ser assumido como “o mediador exclusivo da verdade”. Se cada praticante necessita de um compromisso total com a sua fé, há que conciliar isso com o facto das múltiplas “reivindicações semelhantes” e com, no mínimo, a aceitação da validade dos ensinamentos de outras religiões, mais fácil no plano ético do que no metafísico 28.
Na sua perspectiva da religião, isso é possível assumindo as diferentes religiões como remédios espirituais que não podem considerar-se eficazes em si e por si, fora da constatação dos seus efeitos em cada doente e doença concretos, verificando-se que o que é salutar para uns não o é para outros. Nesta abordagem pragmática, a eficácia terapêutica é o que importa, sendo inútil e nocivo discutir a superioridade teórica de uma religião sobre outra 29. Mesmo que para cada praticante seja necessária a ideia de uma só verdade religiosa, há que admitir a sua multiplicidade social. Essa diversidade é aliás uma “grande riqueza” e a semelhança das religiões em termos éticos não implica a sua unidade essencial, não se podendo escamotear as suas diferenças metafísicas e soteriológicas, apesar de, enquanto budista, as considerar a todas como manifestações da natureza de Buda (a natureza última das coisas) adaptadas às diferenças humanas, históricas e culturais 30. Daí que Sua Santidade não advogue “uma nova ou melhor religião mundial”, pois isso sacrificaria as diferenças específicas de remédios comprovadamente eficazes para tipos humanos diferenciados 31. Propõe antes que se desenvolva o sentimento do “pluralismo religioso”, fundamental para o respeito dos direitos humanos. Um parlamento mundial das religiões consagraria essa multiplicidade e a sua gestão democrática, evitando os extremos do fanatismo religioso e do sincretismo 32.
Se os religiosos se converterem em exemplos de vidas conformes aos seus princípios e de harmonia inter-religiosa, poderão pronunciar-se com autoridade sobre grandes questões da humanidade, como a paz e o desarmamento, a justiça política e social e a ecologia. Não sendo assim, é natural o descrédito 33.
Seja o que Agostinho da Silva designa como a experiência do Espírito Santo, ou do incriado fundo de si e do mundo, seja o que Sua Santidade o Dalai Lama designa como natureza de Buda ou, em termos laicos, como a profunda “transformação espiritual” referida, é assim a indeclinável condição de possibilidade de um efectivo diálogo inter e trans-religioso que assuma religiões, ateísmo e agnosticismo, em sua irredutível diversidade, como vias possíveis para uma vida ética e espiritualmente mais plena e um mundo melhor. Sem os colocar ao mesmo nível, cremos que ambos protagonizam a emergência do novo paradigma trans-antinómico que, numa encruzilhada crítica e dramática da civilização e da aventura humana, pode promover um verdadeiro Renascimento integral e planetário.
(Conferência proferida em 5 de Maio de 2007, no 1º Encontro Internacional de Lisboa, “Religiões, Violência, Razão”, organizado pelo Grémio Lusitano)
Resumo:
O objectivo deste estudo é considerar a possibilidade e exigências de um diálogo e de uma espiritualidade inter e trans-religiosos a partir das propostas de Sua Santidade o Dalai Lama e Agostinho da Silva.
Abstract:
We consider the possibility and demands of a religious and trans-religious dialogue and spirituality on the basis of the proposals of His Holiness the Dalai Lama and the Portuguese philosopher Agostinho da Silva
Palavras-chave: diálogo inter-religioso, Espírito Santo, Dalai Lama e Agostinho da Silva
Key words: inter-religious dialogue, Holy Ghost, Dalai Lama and Agostinho da Silva
1 “Crente é pouco sê-te Deus / e para o nada que é tudo / inventa caminhos teus” – Agostinho da Silva, Uns poemas de Agostinho, s.l., Ulmeiro, 1990, 2ª edição, p.22; “Do que é o Espírito Santo / só diga quem fique mudo / que palavra há que me leve / àquele nada que é tudo” - Quadras Inéditas, s. l., Ulmeiro, 1990, p.36; “Oxalá por saber tanto / me apeteça ficar mudo / só então vendo sem ver / aquele nada que é tudo” – Ibid., p.88. Cf. também: “a isto de nada e de tudo / seu Deus os homens chamaram” – Uns poemas de Agostinho, p.64; Ibid., p.123; Quadras Inéditas, p.88. A identidade Deus-nada é também sugerida na seguinte quadra: “Se Deus quisesse ocupar / lugar a si mesmo igual / preenchia todo o nada / e o deixava tal e qual” – Ibid., p.113. Cf. Paulo Borges, Tempos de Ser Deus. A espiritualidade ecuménica de Agostinho da Silva, Lisboa, Âncora Editora, 2006; Romana Valente Pinho, Religião e Metafísica no Pensar de Agostinho da Silva, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2006.
2 Cf. Agostinho da Silva, Educação de Portugal, in Textos Pedagógicos II, introdução e organização de Helena Maria Briosa e Mota, Lisboa, Âncora Editora, 2000, pp.104-105. Destacamos: “Repete o Espírito, absoluto de existência, que Deus tanto está na missa cristã como na ablução muçulmana, tanto se manifesta pelo orixá africano como pelo taoismo chinês, tanto resplende nas danças do Xingu como nos mitos de Timor; repete, ao considerar os ateus, e não esquecendo que são ateus os budistas, ao considerar os agnósticos ou os que se dizem anti-religiosos, quando são apenas contra o explorar-se o que é religioso com objectivos que o não são, repete o Espírito que Deus brilha no reverso das medalhas exactamente como no anverso; e repete o Espírito que sendo obrigação essencial de cada um converter-se à sua própria religião, numa vontade contínua de aperfeiçoamento seu e dela, nunca será plenamente religioso se não entender cada uma das outras religiões como se sua fosse” – p.105.
3 “Os trinta raios unem-se no cubo [de roda]; mas é do espaço vazio (para o eixo) que o uso da roda depende” – Lao Tsé, Tao Te King, I, 11, in The Texts of Taoism. The Tao Te Ching of Lao Tzu. The Writings of Chuang Tzu, I, tradução de James Legge, Nova Iorque, Dover Publications, 1962, pp.54-55. Ou, como traduz o próprio Agostinho, que tinha a obra como uma das suas leituras preferidas: “Os trinta raios convergem para o eixo, / mas é o vazio do meio / que faz andar o carro” – “Li Bai e Lao Tse (traduções inéditas de Agostinho da Silva)”, edição e apresentação de Manuel Pina, Revista Internacional de Língua Portuguesa (Lisboa, Novembro de 2004), pp.269-317, p.280. Recordemos a equivalência desta imagem a outra anteriormente utilizada, quando afirma “que todos os rios partem das mesmas fontes e que os aspectos diversos apenas vêm da diversidade dos caminhos” – “Algumas considerações sobre o culto popular do Espírito santo”, in Ensaios sobre Cultura e Literatura Portuguesa e Brasileira, I, p.334.
4 Cf. a nossa interpretação em Paulo Borges, Tempos de Ser Deus. A espiritualidade ecuménica de Agostinho da Silva, pp.151 e seguintes.
5 “[…] ecumenismo não consiste no lento negociar de tratados de acomodação entre arqueologias sobreviventes nem se resume a ecúmena à porção limitada de hemisfério norte em que mais se enraizou a mensagem de Cristo, dando-se aqui de barato que são já de Cristo as Igrejas cristãs e não apenas o vagaroso, doloroso, quase sempre interrompido esforço para que finalmente um Deus possa fazer coincidir seu Descimento da Cruz com o descimento da cruz que desejamos para todos os homens.
Ecumenismo consiste em ver todas as religiões como os vários aspectos […] da religião do Espírito, que um dia, na sua forma última e pura, abandonará todos os ritos pelo de viver a vida graciosa, trocará todas as orações pelo perder-se em Deus, e, tendo atingido a realidade, lhe serão sacramentos símbolos só. […] ver-se claro que pode muçulmano ensinar a cristão o que é a Fé, pode cristão ensinar a confucionista o que é a Esperança, podem todos juntos ensinar a todos, procurando que os outros estejam sempre melhor e sejam sempre melhores e tenham sempre o melhor, o que é a Caridade. Ecumenismo não é contrato, é vida; vida plena e cogulada, como Deus a quer” – Educação de Portugal, in Textos Pedagógicos II, pp.105-106.
6 Parece-nos que Agostinho vai aqui ainda mais longe do que um outro eminente pensador ecuménico contemporâneo, Raimon Pannikar, cujas teses são em geral muito convergentes com as agostinianas: cf. toda a obra El Diálogo Indispensable. Paz entre las religiones, prólogos de Enrique Miret Magdalena e Pierre-François de Béthune, O. S. B., tradução de Germán Ancochea Soto, Barcelona, Ediciones Península, 2003, em particular as pp.75-80.
7 Cf. Fernando dos Santos Neves, Do Ecumenismo Cristão ao Ecumenismo Universal, Lisboa, Edições Universitárias Lusófonas, 2005.
8 Cf. Agostinho da Silva, “A Difícil Prova”, in Textos e Ensaios Filosóficos II, organização e estudo introdutório de Paulo Borges, Lisboa, Âncora, 1999, p.248. Escreve Raimon Pannikar: “Es instructivo notar que el primer concepto de católico (kat’holon), que sugería una religiosidad completa que abrazaba toda la vida, incluída la corporal, y que ofrecía a quien la seguía todo cuanto ha menester el hombre para su plenitude y salvación (“secundum totum”, traduce aún San Agustín), fue interpretándose como una categoría geográfica y cultural, muy en consonancia com el espíritu expansionista y colonizador de Europa” - Iconos del Mistério. La experiencia de Dios, Barcelona, Península, 2001, 3ª edição, corrigida e aumentada, p.97.
9 “Talvez houvesse, quanto ao conjunto, que formular uma hipótese: a de que a Igreja está apenas atravessando uma garganta de serra, de que está somente sofrendo, como lhe compete, sua própria paixão, de que, crucificada, ressurgirá, não já para as limitações da terra mas para toda a amplidão dos céus, não já companheira dos Estados mas servidora dos homens e querendo não já somente uma sociedade justa, que isso o farão os homens, mesmo sem ela, mas uma sociedade de homens justos, isto é, santos; de homens que entendam a todo homem e a todo o vejam como irmão e até como irmão superior, qualquer que seja a raça ou o credo; que tenham qualquer problema material dos outros como sua pungente aflição de espírito; que possam dispensar o sinal exterior do sacramento por serem de sagrada estrutura; que se digam católicos, isto é, totais, por estarem dentro eles, com eles, o muçulmano e o budista; que se digam apostólicos por todos os dias, infatigáveis, se pregarem a si próprios que devem ser melhores do que são; que sejam romanos por quererem, alargando o ideal de Roma antiga, de que deveriam ser herdeiros os homens que falam português, que seja todo o homem cidadão do mundo: que passemos da província ao Universo” – Agostinho da Silva, “Desfiladeiro”, in Textos e Ensaios Filosóficos II, p.257.
10 “Esta é a revolução a que nos chamam, esta a presença que se impõe, este o diálogo que se tem de travar. Temos todos de estudar muito, de pensar muito e, sobretudo, de ser muito, com todas as dificuldades que nos levantam ou natureza ou hábitos ou ambiente ou ambições; tem de nos ser pão quotidiano a diária humilhação de nos sentirmos piores do que queríamos ser; temos de saber e sentir e nos convertermos ao que são os homens do zen ou do candomblé até que encontremos, e sejamos, a essência que a tudo liga; se formos incapazes de o dizer ou escrever, sejamo-lo, o que vale mais, e rezemos, para que o sejam os outros. Se o não fizermos, não cumpriremos o ao que viemos; e que dirá quem nos mandou quando chegarmos de mãos vazias e olho baixo?” – “Nota a Cinco Fascículos”, Ibid., p. 265.
11 Cf. “Ecúmena”, in Ibid., pp. 191-192 e 194.
12 “[…] se os homens acreditassem bastante em Deus não haveria tanta teologia, tanto rito, tanta disputa entre as várias crenças ou sistemas de crença; estou em pensar que o ecumenismo actual demonstra que os homens estão a entender melhor o que é religião e vêem como Deus esplende nas religiões dos outros, não só nas deles. Há escassez de Deus, por isso ainda há tanta Igreja e tanta concorrência e tanto apelo à disciplina, como obrigação de fila em colectivo. Abunde Deus e se calarão a propaganda e os códigos.
[…] está indo a religião para o caminho de ver Deus como superior às igrejas e até corno mais pronto a aparecer no coração de cada homem, mesmo no daqueles que se dizem ateus, do que em burocracias ou nas cerimónias que vãs são quando do espírito não brotam como sua linguagem e presença” - “Quando não há, el-rei o perde”, in Ibid., pp.288-289.
13 Cf. “Goa. Cadernos Teológicos”, in Textos Vários. Dispersos, introdução e organização de Paulo Borges, Lisboa, Âncora Editora, 2003, p.189.
14 Cf. Só Ajustamentos, in Textos e Ensaios Filosóficos II, p.137.
15 “Mas os tempos virão, os tempos de ser Deus; […] Pois serão deuses: sem uma política que os force a ser manhosos como escravos; sem religiões que se estabeleçam sobre o medo; e sem escolas que logo de princípio, pela carteira, a cópia e o ditado, nos modelam para as facilidades do trânsito e nos abortam para o infinito de Deus – “Teologia Humana”, in Ibid., pp. 232-233. Cf. o sentido da oração de Cristo ao Pai: “para que sejam um como nós”; “a fim de que todos sejam um. / Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, / que eles estejam em nós”; “para que sejam um, como nós somos um” – João, 17, 11 e 21-22. Recordemos, todavia, que o fundamento desta vocação e possibilidade de se ser Deus radica, na revelação veterotestamentária, na própria constituição divina do homem mortal: “Eu declarei: Vós sois deuses, / todos vós sois filhos do Altíssimo; / contudo, morrereis como um homem qualquer, / caireis como qualquer dos príncipes” - Salmo 82 (81).
16 Como diz Agostinho, profunda e lapidarmente: “Se és de uma religião, cumpre-a, tendo simultaneamente a certeza de que tudo aquilo é nada” - Pensamento à Solta, in Textos e Ensaios Filosóficos II, p. 146.
17 Usamos esta alegoria por ser mais familiar ao nosso imaginário cultural tradicional, que vê o divino ou o absoluto como o cume de uma ascensão piramidal, conscientes embora de não corresponder a outras formas de simbolizar o caminho e o acesso à experiência última e integral da realidade ou da vida plena e incondicionada. Poderíamos assim substituí-la, noutros contextos, pela imagem da descida, a partir de distintos pontos na superfície e por distintos caminhos subterrâneos, ao mais fundo imo da terra, onde todos se encontram. Seja como for, esse cume ou esse fundo, essa subida ou essa descida, simbolizam para nós o acesso ao que está para além de qualquer conceito de, e oposição entre, transcendente e imanente, alteridade e identidade, alto e baixo, céu e terra. Sobre a relatividade cultural destas representações e a necessidade de uma “visão inter-cultural”, cf. Raimon Pannikar, De la Mística. Experiência plena de la Vida, pp.64-66.
18 Também em São João da Cruz, que Agostinho estudou em Espanha, se identifica o “deixar o seu caminho” como um “entrar em caminho” ou o “passar ao termo e deixar o seu modo” – de “entender”, “gostar” e “sentir”- como o “entrar no [termo] que não tem modo, que é Deus” – cf. São João da Cruz, Subida del Monte Carmelo, II, 4, 5, in Obras Completas, edição crítica, notas e apêndices de Lucinio Ruano de la Iglesia, Madrid, BAC, 2002, p.300; cf. ainda: “[…] cuando una alma en el camino espiritual a llegado a tanto que se ha perdido a todos los caminos y vías naturales de proceder en el trato com Dios, que ya no le busca por consideraciones ni formas ni sentimientos ni otros modos algunos de criaturas ni sentido, […]” – “Cantico Espiritual (B)”, Canção 29, 11, in Ibid., p.858. Ou mais explicitamente: “Deus, o Omnipotente e Omnipresente, não está incarnado (encarcerado) em nenhum credo nem religião, porque para onde quer que vos volteis aí está o rosto de Deus” – Muhyi-l-Din Ibn’Arabi; “Não sou nem cristão, nem judeu, nem muçulmano. Não sou de Oriente nem de Ocidente […]” – Jalal-al-Din-Rumi – citados in Raimon Pannikar, De la Mística. Experiencia plena de la Vida, p.97.
19 Daí a afirmação: “Claro que sou cristão; e outras coisas, por exemplo budista, o que é, para tantos, ser ateísta; ou, outro exemplo, pagão. O que, tudo junto, dá português, na sua plena forma brasileira” - Agostinho da Silva, Pensamento à Solta, in Textos e Ensaios Filosóficos II, p. 175. Cf. também: “O homem perfeito seria teísta e ateísta pois que é Deus ser e não ser […]” – Ibid., p. 157. Recordemos sempre a origem desta singular posição em Teixeira de Pascoaes, na fórmula mais explícita do que designará como ateoteísmo: "O homem que nega o seu próprio ser, imita Deus, o único ateu perfeito; e tornou-se, por isso, Criador. A Criação tem a assinatura de Lucrécio" - Santo Agostinho (comentários), Porto, Livraria Civilização, 1945, pp.275-276.
20 Cf. Dalai Lama, Ética para o Novo Milénio, tradução de Conceição Gomes e Emília Marques Rosa, Lisboa, Editorial Presença, 2000, p.160. Sobre a “responsabilidade universal”, cf. o capítulo 11, pp.121-128.
21 Cf. Ibid., pp.160-161.
22 Cf. Ibid., pp.161-162.
23 Cf. Ibid., p.162. Cf. também Id., A Bondade do Coração. Uma perspectiva budista sobre os ensinamentos de Jesus, tradução de Filipe Valente Rocha, Porto, ASA, 1998, 2ª edição, pp.53-54.
24 Cf. Id., Ética para o Novo Milénio, p.163.
25 Cf. Ibid., p.164.
26 Cf. Ibid., pp.166-167.
27 Cf. Ibid., p.164.
28 Cf. Ibid.
29 “Penso algumas vezes que a religião é como um medicamento para o espírito humano. Não podemos realmente avaliar se um remédio é eficaz independentemente da utilização e da condição específica do doente. Não podemos dizer que o remédio é excelente devido a este ou àquele ingrediente. Se deixarmos de fora o doente e o efeito que o remédio tem nele isso deixa praticamente de ter sentido. O que tem sentido é dizer que no caso de tal doente com tal doença esse remédio é o mais eficaz. Em relação às tradições religiosas é o mesmo: podemos dizer que tal tradição é a mais eficaz para tal indivíduo. É nocivo tentar discutir, com base na filosofia ou na metafísica, se uma religião é melhor que outra. O importante é que seja eficaz para cada caso” – Ibid., pp.164-165.
30 Cf. o ensinamento que presenciámos em Paris, em Outubro de 2003. Sobre a natureza de Buda, cf. Arya Maitreya, Buddha Nature. The Mahayana Uttaratantra Shastra, registrado por Arya Asanga, comentário de Jamgön Kongtrül Lodrö Thayé, explicações de Khenpo Tsultrim Gyamtso Rinpoche, traduzido por Rosemarie Fuchs, Ítaca, New York, Snow Lion, 2000.
31 Cf. Dalai Lama, Ética para o Novo Milénio, p.165.
32 Cf. Ibid., p.166.
33 Cf. Ibid., p.168.

Monday, October 15, 2007

proximas tertúlias do Bar do Além: 2007/2008



a seguir...17 de Novembro sobre Hinduismo...




Proximas Tertúlias

do Bar do Além 2007/o8
em almoços debate
(VIII ano de actividade, Ciclo "O oculto ás claras"


reservas indispensaveis, lotaçao limitada, mapa de acesso em www.dosdin.pt/camping
calendário das seguintes tertúlias
20 de Outubro, Budismo por Prof. Paulo Borges
17 de Novembro, Hinduismo por Teixeira da Mota
1 de Dezembro Iriodiagnose, regressão de memoria (vidas passadas)
por Daniel Ribeiro

19 de Janeiro, previsões astrológicas para 2008 por Vera Xavier
outros temas......Ocultismo, Wicca, Bahai, Ordem de Ourique, animismo da Guiné, etc

Wednesday, October 03, 2007

apresentação de três livros de Vitor Adrião em Sintra



Vitor M. Adrião e Via Occidentalis Editora convidaram a estar presente na apresentação da trilogia

«Quinta da Regaleira», «Portugal Templário» e Lisboa Secreta


que teve lugar no Sábado, 13 de Outubro, pelas 16:00 horas,
no Atelier de Mestre Almeida Coval


Apresentação pelo Professor Dr. Luís Nandin de Carvalho
NOTA SOBRE OS TEMPLARIOS:

*El contenido de las mismas se revelará el próximo 25 de octubre en elVaticano**El Gran Priorato de España – Priorato Magistral de la OSMTJ satisfechoporque la verdad sobre la Orden del Temple salga a la luz, como forma de restituir el honor de una Orden cuyos miembros entregaron sus vidas por losmismos motivos por los que fueron falsamente acusados y condenados.
**Orden del Temple*La constancia y el esfuerzo por demostrar una injusticia histórica parece comenzar a dar sus frutos. Precisamente en el año en que se conmemora el DCCaniversario del inicio de la persecución de la Orden del Temple por el Reyde Francia, Felipe IV el Hermoso, el Vaticano anuncia la publicación de las actas originales de los juicios, que fueron extraviadas por error en elsiglo XVII y descubiertas en el 2001 por la investigadora italiana BárbaraFrale.Por todos es sabido que las persecuciones, torturas y farsa de juicios que culminaron con la muerte en la hoguera del Gran Maestre Jacques de Molay en1314, no consiguieron acabar ni con el prestigio, ni con la propia Orden delTemple, que ha sobrevivido de distintas formas y maneras hasta nuestros días.
Una Orden del Temple que, tras siglos de clandestinidad y dispersión, volvióa aparecer públicamente tras el Convento General celebrado en 1705 enVersalles, auspiciado por el Duque de Orleáns, y que hoy, bajo el nombre de Orden Soberana y Militar del Temple de Jerusalem (OSMTJ), sigue defendiendolos mismos postulados que antaño, con la lógica adaptación a unos tiemposdiferentes.
El próximo 25 de octubre el Vaticano presentará oficialmente la publicación "Processus contra templarios", que incluye 799 fieles y exclusivasreproducciones de las actas del proceso, que demuestran lo que desde laOSMTJ se viene defendiendo desde hace más de 300 años, que las acusaciones contra el Temple se basaron únicamente en confesiones arrancadas trashorribles torturas, que esta farsa se ejecutó por orden del Rey de Franciacon el objetivo de despojar a la Orden del Temple de sus bienes y de conseguir un claro efecto político en la época, y que sólo pudieron llevarsea cabo por la debilidad del papa Clemente V, que no supo o pudo enfrentarsea la prepotencia del Rey francés, y a una orden, la del Temple, que a pesar de su poderío militar no levantó un dedo contra hermanos cristianos, comoasí lo decía claramente su Regla, aunque en ello le fuese su propiadestrucción.Finalmente la verdad comienza a prevalecer, y como ya adelantaba el Gran Priorato de España en su web oficial en enero del 2006, la presión deamplios sectores cristianos, que demandan desde hace tiempo que el Vaticanoproceda a la revisión del proceso llevado contra la Orden del Temple, va a comenzar a cumplirse dentro de unos días.El primer paso se dio el año pasado con la publicación en la web delVaticano del llamado "Pergamino de Chinon", que contiene la absolución deClemente V al último Gran Maestre del Temple, Jacques de Molay, y a los otros miembros de la Orden, afirmando textualmente que "los líderestemplarios son reintegrados a la comunión y a poder recibir lossacramentos" .
Un demoledor documento donde el papa reconoce haber tomado una decisión ambigua, suspender a la Orden, al no poder hacer frente a lapresión que recibía del Rey Felipe IV. Haciendo mención a que lasdeclaraciones de herejía fueron arrancadas a los templarios bajo tortura,tachando de "chantaje" la actitud de la monarquía francesa.Como ya publicó la web oficial del Gran Priorato de España el pasado año,todos los indicios apuntaban a que el 2007 podría ser el año elegido para la rehabilitació n pública de la Orden del Temple por parte del Vaticano, trasla publicación de la prueba que absuelve al Temple y a sus líderes,aprovechando el setecientos aniversario de su persecución por parte del Rey Felipe el Hermoso, con la connivencia del Papa Clemente V, y el primer pasoparece que lo podremos ver el próximo 25 de octubre.
En una sociedad actual sin valores, donde en algunos países profesar la fecristiana supone el castigo e incluso la muerte, o donde un falso laicismosataniza las creencias cristianas; la OSMTJ sólo pretende reivindicar supuesto de antaño, la primera línea de defensa de los valores cristianos, si antes con las armas, hoy con la palabra, la pluma y sobre todo el ejemplo.--

Thursday, September 27, 2007

Texto do almoço debate de dia 29/9 sobre O Caminho de Santiago








Experiências
psico somáticas
do Caminho de Santiago de Compostela


Resumo da intervenção proferida no almoço debate da Tertúlia do Bar do Além,




em Alenquer em 29 de Setembro de 2007





Se tiver que resumir toda a experiência psico somática de 8 dias de peregrinaçao, pelo caminho francês a Santiago de Compostela. pela Galiza, seria através de uma tosca seta amarela pintada num muro, ou pedra de xisto negro, ou no tronco de uma arvore, ou desenhada no chão. Porquê?

Por muitas razões. Por algumas impressões, e sensações.
Porque é uma via para o conhecimento, muito mais do que para um simples saber. Porque este caminho que reflecte na Terra, o das estrelas da Via Lactea, induz às mais profundas reflexões, que podem remontar a reminescências de povos da Atlântida, aos Gigantes do Genesis biblico, como aventa Louis Charpentier 8Santiagod e Compostela Enigma e Tradição, tradução da edicção francesa Laffont, 1971).

Primeiro, porque a seta não é mais do que uma concha vieira estilizada, símbolo do Caminho, hoje de Santiago, na sua componente proto cristã, e proto romana de Finsterra ou Finisterra. Prova de chegada ao fim da Terra conhecida até ao século XIV, e contraprova no regresso de ter atingido a meta proposta. Simbolo material tambem da civilizaçao costeira dos concheiros, sendo a concha simultanemente utensilio alimentar como colher, e prato do peregrino, malga de sopas, ou concha de agua de fontes de caminho. Não esquecer também o simbolismo mitológico da concha, fonte de vida, oriunda do Mar, caso do nascimento de Venus do quadro de Boticelli, ou ainda da concha baptismal, do renascimento, como quando São João Bpatista (irmão se Sao Tiago) baptizou Cristo nas margens do Jordão.




Segundo, por que pela sua cor amarela, bem identifica a rota solar milenaria dos povos da Europa em busca do mistério do Sol, que naturalmente não permitiam encontrar o local do seu nascimento a leste, pois a oriente a alvorada marca precisamente o início do periplo solar diurno. Ora a busca do Sol (e do ouro da sabedoria) só se poderia fazer para ocidente, buscando-o a poente...onde afinal o encontravam a mergulhar nas aguas do Atlantico. Isto obviamente quando se entendia que era ao sol que andava a volta da Terra... ver http://nautilus.fis.uc.pt/astro/hu/movi/corpo.html

Terceiro, porque este símbolo, triangular permite transformar qualquer pedra bruta em pedra cúbica, em pedra filosofal, de simbolismo tangivel a exprimir o domínio da mente sobre a matéria. A seta inserida numa pedra ou arvore transfigura-a em sinal. E não sera que a seta não é equiparável a uma estlizada pata de ganso, também com três veios, de acordo com a tradição celta, o mensageiro do outro mundo, e portanto situar-se na seta uma indicaçao de um caminho da morte inciático, isto é, da morte desta vida para ganhar um outro renascimento?


Assim, a seta, e amarela, é bem mais significante que apenas uma direcção. Sinaliza bem mais do que o destino para que aponta, pois evidencia e cataliza uma percepção, transmite uma verdade e um segredo. A seta é a simbiose elucidativa para quem procura um caminho espiritual, através de uma caminhada física, possibilitando assim e simultaneamente, a peregrinção interior, e a exterior. Isto é a dimensão e valência esotérica, e a exotérica. A seta é, e revela aquele iniciático e bom caminho. nem uma rota turística, nem uma senda de penitentes.



Desde modo, para quem tem olhos que não apenas vêm, mas que também observam, e que não apenas observam, mas também decifram, a seta amarela seja virada para a esquerda, seja voltada para a direita, ou mesmo empinada, e na vertical, só tem um significado último: apontar o caminho certo, para ocidente, para o poente, para o âmago da concha vieira, que nos aparece ao longo do caminho de Santiago em três posições distintas, das quais uma incorrecta, ou meramente profana.


A concha vieira, na vertical, com o seu epicentro voltado para cima, é a que está a encimar os marcos kilométricos, como representa a foto. Normalmente está esculpida em baixo relevo em granito, e de forma impressiva visa fálicamente, assegurar a justeza do caminho. É uma afirmação de presença confirmativa de que se está no caminho (sagrado) certo, que ainda falta percorrer uma determinada distancia kilométrica nela indicada, e simultanemante encerra um confiante símbolo protector do peregrino. Note-se que a distância indicada em Km é sempre reportada ao caminho que falta percorrer até Santiago de Compostela.





A concha horizontal com o seu epicentro à esquerda, em design simbólico correcto, representa tambem a caminhada para o ocidente, e evidencia a pluralidade de caminhos (francês, português, primitivo, etc) que permitem atingir esse objectivos pelos raios estilizados que equivalem às suas nervuras. Trata-se de um símbolo feminio de taça, recipiendiária, que indica a via para um acolhimento dos que buscam a verdade. Pode ser tambem usada como sinalização em vez das setas que esta estilização da concha natural comporta, e assim com o epicentro à esquerda se essa é a direcção correcta, e com ele para a direita se for este o rumo a tomar. (na foto esta concha aponta o caminho para ocidente, para a esquerda, e em sentido convergente, qualquer que seja a versão do caminho a percorrer).




A terceira concha que nos aparece ao caminho, é uma versão monstruosa, de mau gosto, e de insensibilidade simbólica, e consiste no prolongamente fálico na nervura média central da concha, de modo a poder evidenciar uma seta que aponta para o exterior da concha, e não para o seu interior, como esotericamente é a mensagem correcta no modelo acima descrito. Nada significa, senão um exercício profano de design incipiente, feito em prancheta, em abstracto, e revelador de ignorância cultural. (na foto esta concha pretende apontar o caminho para a direita).

Tudo isto para dizer que o Caminho de Santiago tem uma dimensão holística e uma origem proto-cristã, multimilenar, de natureza universal e iniciática, e transcende em muito o aspecto religioso, e ainda mais a natureza cristã e católica da motivação obvia de quem busca o túmulo de São Tiago (Santiago, St Jacques ou Saint James, em castelhano ou gallego, francês e inglês, e Jacobo em latim, e Giacomo em italiano), o apóstolo de Cristo, cavaleiro mata mouros também, irmão de São João, decapitado por ordem de Herodes no ano de 44, e depois levado de barca para um local que se veio a denominar de Compostela, (campo da estela ou do túmulo? campo de estrelas?) pelos discipulos deste evangelizador, onde foi sepultado. Numa palavra: já Sao Tiago para evangelizar a Ibéria, percorrera o caminho (o primitivo?) antes mesmo dele se chamar de Santiago...seguiu na terra a projecção da via lactea do céu, e assim parece ficar tudo dito.


Mas não fica. O caminho de São Tiago tem múltiplas dimensões secretas e misteriosas, por exemplo porque é que na XVII carta do Tarot da Estrela parece representada a via láctea, elemento fulcral do caminho? E porque é que no túmulo de Cralso MAgno, em Aix La chapelle, um baixo relevo espõe a revelação que lhe é feita pela representaçao da via lactea, do Caminho de Santiago?


Este facto - a sepultura de um apóstlo, veio a justificar a declaraçao de Santiago de Compostela (conjuntamente com Roma ) como as únicas cidades santas da Europa! Também este facto veio a determinar que no convento de Samos, O futuro Rei castelhano Alfonso II tivese sido educado e preparado para ser um dos grandes protectores e difusores do sepulcro de Santiago (redescoberto no final do século VIII), acção prosseguida entre outros, por Alfonso IX, falecido em Sarria em 1230, e peregrino de Compostela. Entretanto, em 1170 fora fundada a Ordem de Santiago (cruz e espada), e a que se juntou também a Ordem de Malta (antes Ordem de São João de Jerusalém) para protecção dos peregrinos no Caminho. Por outro lado a Oriente desenvolviam-se as Cruzadas, e a afirmação da Ordem do Templo (templários) para proteccção dos peregrinos.




Por isso anotam-se...agora, também alguns apontamentos da dimensão universal de Santiago, e que remontam a druidas, pagãos, celtas, pedreiros, monges, cavaleiros, construtores de catedrais, peregrinos cristãos, e de outras fés, crentes e não crentes:

No alto da cúpula do transepto da Catedral de Santiago o Olho de Deus inserido num triângulo, idêntico ao mesmo símbolo maçónico...do Grande Arquitecto do Universo, neste mesmo sentido, logo à entrada da Cidade a referencia estatuária ao peregrino Templario, guardião do caminho, mas com a cruz de Malta (?) e não com a cruz de espada de Santiago, sequer a cruz Templária.... Porém, o certo é que também guardaram o caminho de Santiago.

Mas não se pense que estes elementos sintomáticos são todos pertença do passado. Contemporaneamente há simbolos maçónicos feitos por peregrinos, e inseridos em varios pontos do caminho, como é exemplo do esquadro e compasso, que consta no painel de indicação de uma ciclovia, junto a roda dianteira da estilizada bicicleta (ver foto). E será que a última étape do caminho francês, tem mesmo o número 33, o mesmo do ultimo grau do Rito Escocês Antigo e Aceite da Maçonaria Universal? e Tiago...não foi também Mestre Tiago, um dos muitos ajudantes de Hiram Abiff, arquitecto contrato por Hiram rei de Tiro, apedido do reai Salomão para construir o Templo em Jerusalem? e Tiagos não eram os membros de uma confraria de pedreitos iniciados?
E que dizer do princípio ternário sempre presente no caminheiro, caminhante ou peregrino de Santiago. Não esta sempre em permanente articulação do seu corpo (os pés, e em geral todo o esforço físico) com o seu ânimo e determinação ( a alma ou coração) e num quadro de elevação do espírito à comunhão com o Universal?
E o facto demonstrativo afinal, da universalidade do Caminho de Santiago, está na própria emissão do certificado do peregrino, nos respectivos serviços, que nos apõem o ultimo carimbo na credencial, e verificam que efectivamente os ultimos 100km de caminho foram percorridos a pé...aqui é necessario preencher um questionário, e explicitar se a razão da peregrinaçao se deveu 1) a motivos religiosos, ou 2) religiosos e outros motivos, ou a 3) motivos não religiosos. Será surpresa dizer-se que as cruzes (no dia em que chegamos) em motivos religiosos são minoritárais, largamente minoritárias, avultando as motivações não religiosas?
Assim, o Caminho de Santiago é um percurso milenar, contrário ao sentido de rotação e de translação da terra em volta do Sol, antídoto à força centripeta, centrífugo, que se traduz numa viagem iniciática ao universo, numa peregrinação ao interior de nós mesmos, de reencontro com as perguntas ancestrais de quem somos, donde vimos e para onde vamos. Caminhando sozinho, não se sente o iniciando desamcompanhado, quer porque está em sintonia com o universo e o cosmos, de que faz parte, e que reflecte, e é dele reflexo, quer porque sente nos seus passos um solo pisado desde ha milhares de anos, por milhões de outros passos de outros peregrinos, que utilizaram a mesma rota do sol, o mesmo caminho de Santiago. Que repetem no solo a via lactea celeste. Está pois o peregrino acompanhado, e entre espíritos.

Fazer o mítico e místico caminho de Santiago, a pé, é decididamente uma experiência metafísica, para a qual só se deve aventurar quem estiver preparado, e estará preparado espiritualmente, todo aquele, e sempre, em algum momento da sua vida, se sentir a sua alma solicitar-lhe. Acrescente-se, que como experiência iniciática deve o caminho de Santiago ser percorrido em peregrinação, não em romaria, nem em excursão, nem em procissão. As oportunidades de meditação individual são constantes, e estas, sem espartilho de canones de rezas, ou modelos pre fixados, são mais dificeis, mas mais livres, abrangentes e promissoras. Só percorrendo o Caminho, é que se pode compreender que nós não fazemos o caminho, o Caminho é que nos faz, ele é que nos encaminha....

São raros os grupos numerosos, e se como na foto se vislumbram, são muitas vezes escolares, enquadrados por professores em experiencia pedagógica. Para os autênticos peregrinos não se trata pois de uma visita turistica de grupo. Nem de um martírio, nem de um simples cumprimento (pagamento) de promessa. Santiago deve ser pura e simplesmente a resposta a um chamamento ou motivação interior, que se encontra no silêncio da caminhada a solo...individual. Sózinho, mas não só.










Note-se ainda, que há peregrinos em cadeira de rodas, como a emocionante jovem korena, altamente deficiente, que a empurrava, assistida por um familiar, (ver ao lado foto) num esforço impressivo. Como também há peregrinos em bicicleta (estes para o serem reconhecidos têm de percorrer 200Km) e ainda há peregrinos a cavalo, cujos percursos nem sempre são coincidentes com os andarilhos pedestres.
Por mim, decidi ir a Santiago e ser romeiro, (mas não em rumo para Roma) porque surgiu uma oportunidade que me permitiu materializar uma intenção que já há longos anos vinha a alimentar. Precisava de falar comigo, ...eu e eu, tinhamos mesmo de falar um com o outro, e para tanto, o local e o tempo, foi em Setembro de 2007, e no caminho de Santiago.







Segui a pé, dia após dia, incluindo o do equinócio do outono, procurei por setas amarelas, e segui conchas, atravessei pontes, rios e ribeiros, passei por abrigos, quintas, fontes e fontanários, capelas, igrejas, casas, espigueiros, tabernas, albergues, calçadas, passei por pontes e calçadas romanas, sempre para Ocidente, e reparei que na perseguição do Sol, não havia caminho sinalizado de regresso. De facto, não há volta do Caminho de Santiago, pois ninguém volta o mesmo. Quem regressa volta diferente. E não volta pelos mesmos passos.



E segui os ultimos 152 km da peregrinação, desde a origem em O Cebreiro, depois Tricastela, seguindo a via pedestre por San Xil para Sarria, Porto Marin, Palas de Rey, Melide, Arzua, Pino, Monte do Gozo, e Santiago. Provavelmente cerca de 160km reais a pé. O Primeiro selo ou carimbo na credencial, foi a 17 de Setembro, último a 24, já no termo da Catedral de Santiago. Ficou em falta a ida a Finisterra, a Noya, possivel lugar de desembarque de um dos muitos Noés sobreviventes do dilúvio universal..


Passo a passo, em passadas regulares, com o som do rufar restolhado das botas na areia, no granulado de pedra desfeita , no roçar da rocha, e a pontuação metálica do pico do bordão. com a respiração a sublinhar esforços de subidas lá fui progredindo nos 152 Km. Ao longo de 8 dias.








Segui apoiado num varapau, bastão, cajado, bordão, stick, báculo, pico ou pau...(mas não numa bengala, nem numa vara) .É essencial para assegurar a combinação ternária propulsora com os dois pés, desenhando estes, no chão, os tres pontos do triangulo do equilibrio. Três passos são iguais a uma passada. Vi quem se desempenhava da marcha com dois bastões tipo ski sueco...num andar mais rapido...mas o objectivo nem era a marcha, nem a competição, mas a progressão do caminheiro, do andarilho, do peregrino, do romeiro, certa, pausada e compassada...ou seja ao ritmo de 1 passo, 2 passos, 3 passos e aqui, ferroar o bastão no chão ,pontuando a tripla avançada., alavancando a passada .














E se no chão ficam marcados os três passos, em esquadria triangular, o pico férreo do bastão, penetra na terra ou fere a rocha, depois de descrever um segmento de arco, tal e qual um segmento de um compasso...cruza-se o arco do compasso com o esquadro da passada, e temos um ...esquadro e compasso....ritmado, ritual. A geometria sagrada fica assim evidenciada, naturalmente. Bon Camino...pois.

Nas subidas nunca olhava ao cimo da montanha desencorajadora e desafiante, se o desafio era o caminho, a resposta era progredir, passo seguro, passo atrás de passo, sem parar a meio de subidas, de escarpas ou declives. Só lá do alto. arfante, se olha para trás, a ver o percurso vencido, o avanço ganho, e de olhos no horizonte a busca da meta seguinte. Sozinho comigo mesmo, com os meus medos ou receios, meus anjos e demónios, e com as minhas forças, mágico peregrino solitário, vou-me reconhecendo como parte integrante da Natureza. E por todo o lado, o milagre, a presença do Grande Arquitecto do Universo.

O tempo de peregrinação é o tempo de uma vida, nem sempre em alta, nem sempre em baixa, nem sempre chuva, ou sol, ou granizo. Há ceú azul, céu cinza, céu negro, há até céu branco e luminescente, há arco iris, há fumos no horizonte celeste, há ventos e redemoinhos, há folhas que esvoaçam, há a presença dos espiritos e das almas de gerações, e de gerações, da Humanidade que connosco se renova e renovará.

Santiago é um caminho, não é apenas um destino, a menos que este sejamos nós proprios. Nós, os nossos vivos, os nossos pensamentos, sonhos e pesadelos, ideias,
e ideais, e memórias, dos nossos mortos, dos nossos amigos, presentes, e dos que já se ausentaram...o nosso eu, quota parte do Universo. Todos incensados pelo botafumeiro no transepto da Catedral de Santigo ...durante a missa do peregrino das 12h do dia seguinte ao da chegada. Aleluia...


...Depois, tudo quase se termina quando exibido o nosso certificado de peregrinação com os carimbos (selos) apostos pelo locais visitados, desde igrejas, a albergues, tabernas ou alojamentos, se confirma que os dias passados, correspondem aos km percorridos, no mínimo de 100km, a partir do marco que identifica esta distância (ver foto), e nos é emitida a compostela em latim emitida em nosso nome, atestando a conclusão da peregrinação, em diploma simples mas digno, identico ao reproduzido no início deste texto.

Mas em boa verdade, o fim do Caminho, é o princípio do nosso Caminho, em nova etape, com novo Conhecimento, uma nova ascese, aquirida uma nova consciência do essencial da natureza da nossa existência.

Nota: