A história do manejo das armas decorre paralela à da própria humanidade.
O homem tem vindo desde a sua origem, a inventar armas de madeira, de pedra e depois em metal. Serviam rapidamente para caçar, regularas querelas particulares, os combates entre tribos e entre nações.
A primeira lâmina de espada de que se tem notícia foi encontrada no túmulo de Sargão, o primeiro rei de Ur em Acade, é de bronze e é calculado ter mais de 50 séculos.
Entre todos os povos, o estudo do manejo das armas tomou imediatamente um lugar importante. Vinte séculos antes da nossa era, os chineses tinham já os seus mestres de armas.
No Egipto, a esgrima parece ter surgido 4 séculos antes dos jogos olímpicos da Grécia antiga. Com efeito o baixo-relevo do Templo de Medinet-Abou (Alto Egipto) construído por Ramsés III em 1190 A.C. evoca uma competição: as armas são emboladas, as mãos são protegidas por uma coquille análoga à do sabre, certos esgrimistas têm a face protegida por uma máscara. O júri e as organizações são reconhecidos pela pluma de que estão munidos.
Na Índia, um livro sagrado têm os princípios sagrados da utilização das armas, e os brammes davam lições em lugar público; sabe-se por Homero que eles empregavam uma espada longa que podia tocar de ponta e por corte.
Em Atenas, o Hiplomachie teve aceitação.
Segundo Platão, numerosos mestres (os hoplomachés) ensinavam ganhando significativa remuneração. Organizaram concursos para homens e crianças.
Por parte dos Romanos, não somente os gladiadores eram treinados na técnica do gládio, mas também os legionários, pelos "Doctores armorum". Exercitavam-se sobre o campo de Marte com o manejo do Vectis, espécie de moca que fazia as vezes de gladio. No ano 648, um cônsul fazia dar lições de esgrima aos seus soldados.
Confiava tais missões aos que formavam os gladiadores. Os mais hábeis recebiam dupla ração de víveres, os outros chicotadas.
Entre os povos que entram na história no início da Idade Média, o manejo das armas, de forma mais ou menos acertada, tinha igualmente uma grande importância. E não somente para a guerra mas também para os lances pessoais e duelos judiciais, cuja origem se atribui aos povos Escandinavos e Germanos, os quais rendiam honrar à Espada - Denominada "ESKERMIE" - dedicando-lhe hinos. Nestas civilizações até os próprios reis se submetiam a duelos.
Com a queda do império Romano, as tribos Germanas que haviam conservado em grande parte os seus costumes espalharam-se por toda a Europa. O duelo desenvolveu-se em conjunto com a Cristandade, admitindo-se como prova material dos "Desígnios de Deus", prática que continuaria durante toda a idade Media como parte integrante da cavalaria.
Os Francos tiveram como armas ofensivas, principalmente uma espada curta, forte e afiada, com melhor tempera que a dos seus antepassados os Gauleses - mais bravos que bem armados.
Durante a dinastia Carolíngia generalizou-se o uso de coletes de cotas de malha para resguardar o corpo. Esta protecção rapidamente se completou com mangas e calças de malha. Mas foi fundamentalmente durante a dinastia dos Capetos que os combatentes para se protegerem se carregaram de ferro.
O combate entre cavaleiros quase invulneráveis fez aparecer uma esgrima singular, sobretudo quando à cota de malha se veio juntar a armadura lisa, compostas por placas de ferro, cuja fabricação se irá aperfeiçoar até ao século XVI. Esta esgrima consistia em derrubar e romper armaduras com pesadas armas. Criaram-se armas especiais para penetrar nas juntas das armaduras e para as atravessar.
No século XIV apareceu a espada a duas mãos: era pesada e comprida a fim de quebrar os membros através da couraça. O documento mais antigo data de 1410: evoca a necessidade de suprimir o adversário por todos os meios. Em 1443 o alemão Talhoffer descreve a esgrima a duas mãos, com machado, pique, escudo, adaga, punhais, etc.
Durante muito tempo a esgrima fez-se sem habilidade, só reinando a força brutal. Graças ao progresso da civilização e mercê das guerras, as armas aperfeiçoaram-se, os métodos de combate progrediram e descobriu-se as vantagens da habilidade da ciência e da astúcia sobre a força.
No século XVI produs-se um fenómeno totalmente inovador no panorama da esgrima. A descoberta da pólvora na Europa e aperfeiçoamento das armas de fogo, que ao contrario do que nos leva a pensar, foi muito útil para o desenvolvimento da esgrima pois tornaram as armaduras obsoletas. A nobreza teve que se debruçar num manejo mais hábil da espada pois o povo e burguesia perante a impossibilidade de adquirir armaduras devido ao seu elevado preço se tinham especializado na habilidade para suprir a falta de protecção.
Ao que parece a esgrima moderna teve o seu ponto de partida em Espanha. Em 1474, os espanhóis Pons e Pedrós Torres escreveram os primeiros tratados do desporto.
Aí se manteve estacionário, um tanto teórica, até aos meados do século XVI, depois desenvolveu-se na Itália. Estudada como uma ciência exacta, expandiu-se depois para toda a Europa.
No século XVI uma nova arma aparecia: A Rapiére; cuja guarda continha os "trous" a fim de poder apanhar a lâmina adversa. As armaduras são sucessivamente substituídas pelo broquel, adaga e a capa.
O século XVII é aquele em que a esgrima conhece o seu verdadeiro impulso.
Em primeiro lugar o aparecimento do Florete, armas inofensiva de lâmina flexível, terminada por um botão em forma de flor, que permitia simular o duelo sem risco de ferimento.
Depois a invenção da máscara que aumenta as possibilidades de treino. E sobretudo o estudo aprofundado das posições e movimentos como testemunham as obras que foram sendo publicadas em numero crescente: " A academia da Espada" (G. Thibaust, 1628), "Teoria da arte e prática da Espada" (Philibert de la Touche, 1670), "O exercício das armas e o manejo do florete" (Le Perche du Coudray, 1676), "O mestre de armas no exercício da espada" (DE Liancour, 1686) e "A arte do feito de armas ou da espada" (Labat, 1696), para citar só os mais conhecidos até ao fim do século
O século XVIII caracteriza-se por uma prática muito convencional: as saudações, reverencias e outras posições afectadas ocupam um lugar importante.
Os últimos tratados do século XVIII e os primeiros do XIX são mais científicos, vêem-se aparecer muitos mestres de armas, atiradores de execelente nível , ou velhos oficiais do exército de Napoleão. A França conhece a viva predilecção pela esgrima o que provocará uma ebulição de ideias sobre a sua prática e ensino. Como "Tratado de Arte de Armas" (1818), La Boessière é o primeiro autor a dar as directivas pedagógicas para a composição de uma lição. La Faugère, Jean-Louis Gomard ("La théorie de l'escrime", 1845), Bertrand, Camille Prévost ("A teoria da esgrima", 1886), J.J. Renaud, entre outros, os técnicos mais célebres.
O Conde Koenigsmarken, da Polônia, inventa, em 1860, a espada de lâmina estreita, mais próxima da espada para esgrima que se conhece hoje. Em 1891, o Dr. Graeme Harmond transforma a esgrima em desporto de competição nos Estados Unidos.
Fim do século XIX é assinalado pela renovação dos Jogos Olímpicos: em Atenas em 1896 pela iniciativa do Barão Pierre de Coubertin, ele próprio grande esgrimista. A esgrima é representada por 4 países e 13 atiradores nas modalidades florete e sabre. A espada entra no calendário a partir das Olimpíadas de Paris, em 1900.
Também nos jogos Olímpicos de Paris, mas em 1924, surge a primeira competição feminina, de florete.
A partir de 1906 criam-se as primeiras federações nacionais de esgrima e em 1913 nasce a Federação Internacional. A partir desse momento organizam-se as grandes competições, dá-se forma a um regulamento internacional para as provas e se aperfeiçoa o desporto da esgrima.
Desde essa data até aos nossos dias muitas foram as evoluções experimentadas mas a que mais deve ser assinalada é sem duvida o desenvolvimento tecnológico do registro electrónico que permite assinalar o toque através de um aparelho sinalizador.
A história da Esgrima
Miguel Andrade Gomes
21 Maio de 2006
http://www.miguelgomes.com/
No comments:
Post a Comment