Bar do Além, Tertúlia de 15 Março de 2003
Palestra do Coronel João Santos Fernandes
OS CELTAS E OS CRISTÃOS
Em toda a História da Humanidade sempre houve e haverá uma única Matriz Espiritual dos Povos, a qual se vai metamorfoseando em diversas religiões ou credos de fé, nos sucessivos ciclos evolutivos de Raças e sub-Raças, moldada por Seres Superiores, descidos ou não à Terra, tudo em nome de um Deus ou de Deuses, conforme os Tempos, local geográfico ou culturas existentes.
Assim aconteceram Messias, Profetas, Xamãs, Iluminados, Avatares, Aparições ou cultos da Natureza para o desenvolvimento espiritual do ser humano. Semi-deuses, heróis, magos, sacerdotes, monges, apóstolos, teólogos, santos, pastores, ascetas, pregadores e reis irradiaram depois um ideal de Fé, com mais ou menos ardor, pela palavra e/ou pelas armas, convertendo povos, através dos seus chefes ou governantes, procurando a expansão de uma nova Mensagem.
Falharam a maioria das religiões, até hoje, por três causas principais:
· A própria natureza do ser humano, longe de estar liberto dos vícios da matéria.
· O enfatizar da explicação do Caminho para o seu Deus, em vez de se potenciar a Verdade de que Ele está dentro de nós mesmos.
· A dogmatização demasiada da Fé e da Esperança, face à Mensagem da Trindade do Logos Manifestado (todas as religiões se baseiam numa Trindade) que pretende religar a evolução do ser humano, quase sempre com nexo causal com o acentuar do distanciamento das raízes da Mensagem, secularizada pelo poder eclesiástico.
Tudo isto se complica com os diversos «ismos» da mesma Mensagem difundida, apresentando a Cristã três polaridades principais: católica, protestante e ortodoxa.
Vamos restringir a análise à realidade geográfica Europa-Ásia dos dois últimos milénios, herdeira de 3 pilares importantes:
· A Matriz indo-asiática e indo-europeia. A primeira centrada no hinduismo, xintoismo e budismo. A segunda centrada no odinismo, alastrando da Ásia ao Mar do Norte (zona dos Curganos), venerando os Deuses Ases (daí o nome de Ásia), dando origem aos povos celtas. A escrita mais relevante foi o sânscrito, o rúnico e a de ideogramas.
· A Matriz afro(N)-asiática(Menor), com as Divindades dos Impérios da Antiguidade até Cristo (Assíria, Pérsia, Egipto, Grécia e Roma). Independentemente da denominação dos Deuses, sendo os principais uma Trindade, predominava o culto pela Grande Mãe da Humanidade. A escrita teve uma evolução gráfica (excepto a hieroglífica), de cuneiforme à latina, mas com cambiantes diversas: aramaico, cirílico, árabe e copta, principalmente.
· A Matriz restrita da Ásia Menor-Egipto, ligada ao Antigo Testamento e às diásporas das Tribos até ao Novo Testamento, de onde emergem 3 ramos principais: judaísmo, islamismo e cristianismo. Três são as figuras emblemáticas: Abraão, Moisés e Cristo. Mais tarde juntar-se-á a figura do Profeta Maomé, sedimentando-se o islamismo.
Vamos dar um salto na História até à institucionalização do cristianismo como religião oficial do Império de Roma. Só passados 3 séculos, em 313, é que é lavrado o Édito de Milão para este efeito.
Tinham-se miscigenado festividades, tradições, efemérides e cultos de outras civilizações no cristianismo, sobretudo de origem greco-romana, egípcia e bretã. Roma já estava na sua fase de decadência, com uma degradação moral da sua sociedade. Serão precisos ainda mais 100 anos, sobre o Édito de Milão, para que o Imperador Honório decretasse a expulsão e confiscação dos bens a todos quantos não cumprissem a fé oficial decretada: o Cristianismo. Tinham passado 400 anos após Cristo.
Então qual é a realidade dos séc. IV e V na Europa cristã?. Vejamos, em traços gerais, como estava a Mensagem de Cristo:
v O apostolado de São Martinho de Tours dá à Europa o primeiro Mosteiro, em 360. Após o ter fundado ele é já Abade e Bispo em 371. Esta dualidade de cargos ajudou a expandir a fé cristã nas Gálias. A separação dos dois cargos iria provocar muitas clivagens no cristianismo, uma «luta» entre Abadia e Catedral. O primeiro Bispo gaulês de Lyon, capital das Gálias, lutava por uma pureza cristã, não papal e romanizada. O seu nome, Ireneu, de origem grega, espelhava também o seu pensamento helénico. Para muitos a Grécia cristã era o berço da incubação religiosa, sendo disso estandartes São Paulo (judeu, cidadão romano, de cultura e escrita grega), São João (desterrado na ilha de Pathmos, no mar Egeu, onde terá tido a Revelação do Espírito Santo), Santo André (o Protókletos de Cristo, evangelizador do Peloponeso, morrendo mártir na cidade de Patras) e o dogma da Natividade, reactivado pelo Concílio de Éfeso, o qual, com o dogma da Trindade, cativaria toda a cultura nórdico-celta.
v O cristianismo na Grã-Bretanha desenvolveu-se nas regiões não ocupadas pelos Romanos, na Escócia (cujo Patrono é Santo André) e na Irlanda, sendo disso expressão a presença de Bispos bretões no Concílio de Arles, em 314, um ano depois do Édito de Milão. Lenda ou mito, realidade ou ficção, é um facto que o primeiro Bispo da Ilha Bretanha se toma por José de Arimateia, tio de Jesus, comerciante de estanho, viajando assim para fabricar o bronze. O simbolismo do Sangue de Cristo, recolhido em Cálice, por José de Arimateia, será semente para a futura lenda do Santo Graal e do Rei Artur, depois sabiamente explorada pelo Império Plantageneta.
v São os tempos de São Patrício, Apóstolo da Irlanda. Bispo enviado para o Ulster, em 432, pelo Papa Celestino, ele era um bretão, filho de um decurião do Exército de Roma. Raptado aos 6 anos de idade, torna-se discípulo de um Druída. Fugiu anos depois, mas aprendeu toda a cultura celta, a qual, na sua vertente sacerdotal, pouco ou nada tinha de tradição escrita, pois todo o conhecimento iniciático era transmitido oralmente.
v São os tempos de Santa Brígida, Patrona da Irlanda, entre 450 e 525, recebendo o véu do Bispo Macaille. Funda o Mosteiro Kildare (leia-se Igreja dos Carvalhos), continuando a tradição dos Mosteiros mistos, proibidos pela Igreja de Roma. Séculos mais tarde, por ironia das religiões, todas estas raízes e posturas vão ser apoiadas por Roma contra o anglicanismo, consolidado por Isabel I e por Oliver Cromwell, causas remotas de uma realidade de hoje entre o litígio Irlanda-Inglaterra.
v São os tempos de Pelágio, herdeiro dos saberes dos Santos do Mosteiro de Lérins (Hilário, Bispo de Poitiers, Loup de Troyes, Cesaire d’Arles e de Honorat, Bispo de Arles), instruídos, como ele, no Arquétipo cristão do Mosteiro de Marmoutiers, fundado por São Martinho de Tours. É desta «corrente» de Pelágio, do centro-norte cristão, que se vai estabelecer a “guerra” com Santo Agostinho, apoiado por Roma. Apesar do Papa Inocêncio ter excomungado Pelágio, logo a seguir o Papa Zózimo vai reabilitá-lo, brotando a “raiva” de Santo Agostinho na sua mais célebre frase:baptize-se primeiro, explique-se depois.
Na discussão teológica Pelágio-Agostinho encontramos a principal raiz cristã divergente celto/bretã-romano/latina que irá moldar, a partir do séc. V, todo o cristianismo (a azuleijaria irá representar Santo Agostinho, sentado em carroça triunfante, esmagando o corpo de Pelágio, veja-se o painel de azulejos da Sacristia do primeiro Mosteiro Jesuíta do Mundo, na Igreja da Senhora do Socorro, em Lisboa, doado por D. João III em 1542). De igual modo, similares clivagens nascerão entre Ordens Monástico-Militares, como Templários-Cátaros e Templários-Teutónicos, mais tarde na Reforma e Contra-Reforma. Mas vamos abordar as mais importantes divergências de Pelágio e Santo Agostinho:
Ø O Criador, para Pelágio, deixa o ser humano entregue à sua sorte. Não era Eva o símbolo do pecado, mas sim Adão, como uma Queda dos Anjos do Livro de Henoch. Uma batalha antiga como no odinismo, entre os Deuses Ases e Vanes, similar em todas as mitologias. Feito à imagem e semelhança de Deus Manifestado, ambos possuem a dualidade Bem-Mal, Luz-Trevas. O modo de vergar a «consciência» de Deus é pelo jejum, prática ancestral hindu (prayopavesana), praticada por todas as religiões, mesmo na simbologia material de Gandhi contra os ingleses, no séc. XX, ou pelos militantes do IRA, seja como recurso do que não se consegue obter, a greve da fome.
Ø Para o pensamento odinista é inaceitável o conceito de inferno. O cristianismo propaga-se na cultura nórdico-celta-germana porque Jesus Cristo, ao morrer, faz ressuscitar o dogma druída de que a morte é o meio de uma longa sucessão de vidas, permanecendo Ele na Terra, após a Ressurreição, 40 dias, período sagrado para a contagem celta. A descida aos «infernos» de Cristo é vista como a visita ao Reino dos Mortos (Reino de Hel), por duas noites ( matriz lunar, oposta à solar de Orfeu e Osíris, por um dia), encaixando no mito de Balder, o Deus nórdico, arrastado ao Reino de Hel por Loki. Para ultrapassar este diferendo do conceito de «inferno», imposto por Roma, o cristianismo irlandês inventa o conceito de «purgatório» que é aceite pela doutrina cristã-católica.
Ø As cerimónias do baptismo e da confissão, para além da tonsura, foram concessões mútuas entre os dois cristianismos. Roma aceita a confissão de origem germano-celta, auricular, um alívio para os embaraços que já causava a confissão pública. Maior resistência ouve com o baptismo, por parte dos Bispos bretões e alguns Abades do centro-norte da Europa, quanto ao tempo (idade), modo e significado para esta cerimónia. O baptismo de Cristo para uns era o fim de uma etapa iniciática de formação, outros viam uma aceitação consciente de purificação e entrega, esgrimindo sempre com a idade do baptismo de Cristo. Prevalece a argumentação de Santo Agostinho, possivelmente cedendo a outras diferenças que ainda hoje marcam rituais de ortodoxia cristã.
Ø Certo é que a condenação de Pelágio, lavrada pelo III Concílio de Éfeso, em 431, se prendeu apenas com o facto de ele negar a necessidade da graça e por ter defendido contra Nestório a unidade de pessoa no Cristo e a maternidade divina de Maria que daí procede. Com a morte de São Patrício no dia 17 de Março de 461 (Festa Nacional na Irlanda) tudo ficou diferente para sempre.
Os séculos seguintes levantariam mais questões de jurisdição eclesiástica entre Abades e Bispos, mesmo entre dioceses, face a independências e consolidação de fronteiras (como sucedeu em Portugal), mas a única Matriz Espiritual do Mundo iria enquadrar toda a liturgia cristã nas divisões emergentes da quadratura de equinócios e solstícios, acertados lunarmente, como o já expressavam a gnose germano-celta, derivada do Arquétipo da Árvore Yggdrasill e da gnose judaico-clássica, derivada de Moisés e do Arquétipo da Árvore da Vida hebraica, de saber Essénico. Vejamos, com exemplos mais conhecidos de todos, uma síntese do que atrás se disse:
q A simbologia das “Árvores” expressam o mesmo número de esferas (sefirotes), um total de 10. A nórdica Yggdrasill representa-se por 9 esferas, estando a 10ª oculta (Upgard), integrando os 7 Mundos suplementares. Todas as Ordens Religioso-Militares, de raiz Templária em Jerusalém, vão perpetuar este octógono de Construção, nos seus símbolos e graus, mesmo no erguer dos seus Templos, como o irão fazer os arquitectos de Mosteiros e Catedrais. O septenário dos Mundos, são os 7 dias da semana e da Criação, os 7 Véus do Templo com o candelabro de 7 Braços, as 7 das 10 Esferas da Árvore da Vida que correspondem à Formação-Criação-Emanação (as 3 restantes respeitam à Acção), tal como se constrói o ser humano nos seus 7 vórtices de energia (vulgo chackras), estando o 8º em seu redor. A Cavalaria Espiritual de Alá ou Hierarquia Sufi irá estabelecer 50 Graus evolutivos, tantas as Portas de Luz da Árvore da Vida. Hoje a ficção de Tolkien nos dá a saga do Senhor dos Anéis, todo um mito emanado da Árvore Yggdrasill. Mas sempre o anel foi símbolo de domínio/poder e amor/sabedoria. Dos Prelados aos Cavaleiros das Ordens, da Realeza aos Lentes, tudo é selado como no anel do casamento, usado este em dedo de Apolo, Deus do Sol. Cristo, Sol da Vida. Deixemos alguns exemplos para meditar: o Templo de Delfos não seria o Templo dos Elfos?; o receptáculo de bronze de 12 bois (1 Reis, 7-23) fundido por Hiram, não seria similar ao tanque da Fonte Hvergelmir, da Esfera Nifheim, do Mundo das Brumas?; deste Mundo nórdico não saem os mitos das Brumas de Avallon, a ilha das Maças de Ouro?; Portugal não tem o mito do Encoberto, tal falsamente associado a D. Sebastião?; o Mundo dos Gigantes nórdicos (Esfera Jotunheim), como os Ciclopes de Hércules, não será arquétipo de David-Golias?.
q O que Júlio César não conseguiu ao fim de 10 anos de guerras com as Gálias, fê-lo a Virgem Maria depressa. O símbolo da Grande Mãe das origens odínicas era a Deusa Dana. Por sua Mãe se chamar Ana (Santa) a penetração e conversão cristã foi um «milagre», tanto mais que os seus antigos Deuses se chamavam Tuatha Dé Dannann (hoje temos as histórias de Connan) e eram simbolizados em Trindade, no Triskel, a tríplice espiral ou o tríplice triângulo (símbolo da molécula ADN). A Virgem Negra da Catedral de Chartres, destruída pelos republicanos no séc. XVIII, é a expressão continuada de um culto nórdico que está longe de estar extinto. Lembremos ainda a simbologia sagrada das árvores: o freixo nórdico ou o carvalho celta; a oliveira cristã ou a figueira budista; a acácia da Arca da Aliança e o cedro do Templo de Salomão; o pinheiro do Natal.
Abordemos, em sequência, a liturgia cristã no que ela tem de correspondência às divisões por equinócios e solstícios, acertos lunares e datações solares. Desde a Antiguidade até à Idade Média que o todo económico e social dependia de dois pilares principais: a pastorícia e a agricultura. Assim o Inverno e o Verão eram os marcos principais, como o eram as sementeiras e as colheitas. A divisão quaternária das estações do ano fixavam festividades, rituais, efemérides, celebrações e forais, originando ainda estes 4 «braços», como pontos de contagem, a 4 divisões principais do ano celta, tomadas a partir de 40 dias, antes ou depois, de cada equinócio ou solstício. Assim:
q Divisão principal: dias 1 de Novembro, Fevereiro, Maio e Agosto
q Divisão secundária: dias 11 de Novembro, Fevereiro, Maio e Agosto.
Antes de analisarmos estas datas importa dizer que 40 é um número místico por excelência, não cabendo aqui a sua análise. São os 40 anos de deserto, com Moisés. São os 40 dias de deserto, com Cristo. São os 40 anos de Maomé, com a Revelação do Arcanjo São Gabriel. São, no conto infantil, Ali Bábá e os 40 Ladrões. Em suma, é a Quaresma espiritual e a Quarentena física ou da medicina.
Era lógico que novas religiões fossem cativar estes marcos para os seus fiéis. É este cenário que agora nos vai ocupar. Assim:
v DIA 1 de NOVEMBRO:
Festa de Fim de Verão, atribuída a Samain. Dia de Ano Novo celta. Evocação da comunicação vivos-mortos. Dia do Reino de Hel, raiz ancestral do actual Halloween, Reino da Morte da Árvore Yggdrasill. Para a Igreja de Roma é o Dia de Todos-os Santos, com o sequente Dia de Fiéis Defuntos. A memória dos povos, neste culto dos mortos, apenas sofreu influência de Roma na proibição da embriaguez destes dias que «facilitava» a «comunicação». Mesmo assim tal prática vai ser adiada para 11 de Novembro, Dia de São Martinho de Tours (40 dias antes do solstício), antes dedicado ao filho de Odin, o Deus Thor, gigante e bebedor, Deus da guerra, do trovão e do raio. São Martinho também tinha sido, por imposição do pai, soldado do Exército de Roma, até aos 22 anos. A sua capa, símbolo da Protecção da França, era levada à frente dos Exércitos, servindo, em tempo de paz, para prestar juramentos solenes, dando nome ao oratório que a guardava. Hoje as pequenas igrejas chamam-se, por isso, capelas.
Outrora não se circulava pelos caminhos, nas duas noites do Ano Novo, senão a pé, para não atropelar os mortos. Os túmulos eram deixados abertos (Irlanda) e as actuais festividades comerciais do Halloween mais não fazem que revivificar este culto, tendo, no entanto, consequências funestas para quem as pratica sem espiritualidade. “Susto ou Prenda” tinha idêntico vector no “Pão por Deus”, no “Tostãozinho pró Santo António”, na dádiva ao “corcunda” (afagando as costas), mesmo na moeda atirada às fontes celtas. Ainda hoje nos EUA todas as eleições têm lugar após a semana do Halloween, em 3ª feira, um ritual reactivado pela «Nau Mayflower», a nossa «Nau Catrineta» ou «Barca Bela». O Presidente Roosevelt tenta contrariar apenas a tomada de posse dos Presidentes, para obviar à profecia de morte que recaiu neles desde 1840 (de 20 em 20 anos), mudando de Março para Janeiro tal acto. Em vão tal esforço. O que foi jurado por George Washington sobre a Bíblia não pode ser alterado. Basicamente disse o 1º Presidente que os EUA não deviam interferir com a Deusa Europa.
v DIA 1 de FEVEREIRO:
Festa da Pureza e do Elemento Ar, atribuída a Imbolc. Deus que talvez fosse Loki na tradição odínica, pois desconheço melhor explicação. É um facto, no entanto, que era o tempo de exorcismos, de renovação, de lavagens de mãos, pés e cabeça. Deus Loki, o Set egípcio que leva à morte Osíris, levando à morte Balder no Reino de Hel, identifica-se com igual período das Festas ancestrais de Perséfone, com os sacrifícios a Plutão ou Feburius, daí Fevereiro.
Para a Igreja de Roma é a Festa da Purificação da Virgem Maria e da Apresentação de Jesus ao Anjo da Aliança, uma Lei Mosaica que obrigava a que 40 dias após o nascimento as mães levassem os seus filhos ao Templo, ofertando 1 cordeiro ou 1 pomba, conforme a sua riqueza. Se esta Festa é a 2 de Fevereiro, para cumprir os 40 dias pós 25 de Dezembro, este dia fecha o ciclo santoral do Tempo após a Epifania. Colocou a Igreja de Roma a 1 de Fevereiro o mais simbólico Santo da morte: Santo Inácio. Algemado e entregue às feras, nas perseguições do Imperador Trajano, este 3º sucessor de S. Pedro, simboliza para os cristãos a morte perante o Mundo e nós mesmos, sendo testemunho que Cristo está em nós.
Ainda neste tempo, celebra-se a 3 de Fevereiro o Dia de São Brás (Blasius ou Blaiser, o Sopro do Fogo), simbolizado com 2 Velas acesas, em «aspas» ou Cruz de Santo André, o Patrono da Escócia e da Rússia. Benze a Igreja as Velas para serem usadas no leito dos moribundos, nas tempestades e nos perigos de toda a ordem. A Mensagem cristã do dia seguinte, dos 2 lobos (e 2 corvos) que acompanhavam o Deus Odin, está em dia de Santo André Corsino, Bispo de Fiesole, falecido em 1373. Sonhou sua mãe que tinha dado à luz um lobo que logo se transformou em cordeiro, ao entrar na Igreja dos Carmelitas. A Mensagem sagrada da Purificação é : lobos pelo pecado, sejamos cordeiros pela penitência. Este Santo foi desordeiro na juventude e prudente após entrar para a Ordem do Carmo. Os corvos de Odin estão em São Vicente.
Mais curioso se torna o Dia 5. Dedicado a Santa Ágata ou Águeda (cidade de Portugal), ela é a Virgem Siciliana, Padroeira das mães jovens e violadas, também das amas de leite. Diz-se que em 251, em Catana, o Governador Quintiano a tentou violar. Não o conseguindo lhe mandou dilacerar peito, logo curado por S. Pedro. Morreu, orando, após o seu corpo ser rolado sobre carvão incandescente, misturado de agudas pedras. Ainda hoje os italianos acreditam que o seu manto pode acalmar o vulcão Etna, o Fogo da Deusa Europa. Talvez seja o Arquétipo de Melusina, a Serpente, que volta para amamentar os seus filhos.
Para fecharmos as Festividades de Fevereiro recordemos que a 11 de Fevereiro de 1858 (40 dias antes do equinócio) surge a Virgem de Lourdes. Neste Dia diz o Missal: “...A festa de hoje recorda o triunfo de Maria sob a serpente a que se refere a liturgia septuagesimal.”. Por 18 vezes (Arcano Maior Lunar, com os dois lobos de Odin, em Tarot) desce esta Virgem na gruta do rochedo de Massabielle até 16 de Julho, Dia que também já lhe era Consagrado, como Virgem do Monte Carmelo, desde 1245, quando aparece a São Simão Stock.
v DIA 1 de MAIO:
Mês da Deusa nórdica Idunn, guardiã das Maçãs de Ouro (Maçã de Eva), do rejuvenescimento e da imortalidade. Os celtas iriam restringir o Arquétipo nórdico às Festas de Beltaine, ou do Fogo de Bel. São Patrício, Apostolo da Irlanda, transportou este Fogo para a Vigília Pascal. Outrora acendiam-se fogueiras, saltando-se sobre elas e o gado era levado às proximidades das chamas para ficar fértil e sem doenças. É o mês de Maria e do Fogo do Espírito Santo que desceu sobre os Apóstolos. Tempo de castidade, sendo desaconselhável os casamentos neste período.
Era o mês de eleger a Rainha de Maio coberta de flores, escolhendo-se donzela ou rapaz, símbolo de andróginia, castidade e Natureza. Tal prática foi sendo proibida, mas subsiste na Suécia, Tirol, Pirinéus, Borgonha, Alemanha e Portugal (no Algarve as refeições do 1º de Maio são ao ar livre). Conservamos destas Festividades, semelhantes aos Mistérios de Eleusis, onde a Deusa Deméter era a Deusa do Trigo, o Dia da Quinta-Feira da Espiga, em ramo de floração de Maio e da oliveira, Tempo do Espírito Santo que antecede o Domingo da Ascensão.
A imagem da noite anterior ao 1º de Maio é a da noite de Fausto de Goethe, a noite de Walpurgis. Coincidência litúrgica do Dia de Santa Catarina de Senna, a donzela que faz terminar a longa noite de Avignon de 70 anos, «obrigando» o Papa Gregório XI a voltar a Roma, tantos os anos do cativeiro dos judeus na Babilónia. Mas o mais relevante das Festas de Maio que persiste é a Árvore de Maio. No 1º dia subia-se às montanhas para colher a árvore mais direita (freixo, choupo, pinheiro ou abeto), sendo posta a secar, depois de desramada, no centro da paróquia, para ser queimada, por padre, monja ou frade, na noite de São João Baptista, a 23 de Junho, a cristianização dos Fogos de Beltaine. A Igreja de Roma ainda hoje, liturgicamente, a 3 de Maio, abençoa Cruzes e Varas, saídas do desramar das árvores, um ritual instituído pela Imperatriz Helena, mãe de Constantino, que se designa a Invenção da Verdadeira Cruz.
Falar hoje de Fátima, a 13 de Maio, é ainda recuar a algo de mais profundo nesta polaridade sagrada e oposta 1 de Maio-1 de Novembro. A primeira «Fátima» é de 13 de Maio de 610, data decisória do Papa Bonifácio IV ao transladar todos os restos mortais dos Mártires das Catacumbas para o Templo de Agrippa, o Pantheon dos Deuses criado por Augusto, consagrando-o à Virgem Maria e aos Mártires. Em 835 o Papa Gregório IV (também IV) fixa a data para o Dia 1 de Novembro, de Todos-os Santos. A Virgem de Fátima de 1917 advertiu para o martírio perante novos Imperadores, por isso chorou o Papa João XXIII e dedicou o Concílio Vaticano II (40 anos em 2002) à Padroeira de Portugal, encerrando a I Sessão a 8 de Dezembro, Dia da Mãe.
v DIA 1 de AGOSTO:
Mês dos rituais de casamento, da fertilidade das searas e dos rebanhos. Mês da metamorfose do Deus Lug casando com a Irlanda. São as terras de Lugo, geografia celta de Compostela (Campus Stella-Campo da Estrela), de Sant’Iago, implantação da Peregrinação do Ocidente, raízes da Lugúria portuguesa e genovesa, braço-dado dos Descobrimentos.
É o mês e o dia 1 do deus nórdico Heimdall, o Vigilante da Árvore Yggdrasill, Porteiro entre o Mundo dos seres humanos e dos Deuses, associado ao Deus Ermin ou Irmin, resultando para o cristianismo a palavra Ermida ou Capela dos Bosques ou dos ERMOS. Até passado recente, dedicava-se o dia 1 de Agosto ao Vigilante, Porteiro das Chaves, dos Céus: São Pedro. É hoje o mês dos Apóstolos São Pedro e São Paulo, nome da Basílica de Roma. Evocam-se as Cadeias de Pedro e os Anéis de Paulo.
As primeiras, de 2 pedaços, têm 44 elos alongados, sendo 11 destinados a ligar as mãos e 23 terminados em 2 semicírculos para pendurar o pescoço. Os Anéis de Paulo eram 4, usados no seu cativeiro em Roma. Limalhas destas relíquias eram ofertadas pelos Papas em ocasiões de muita solenidade.
Era o mês da Morte mística da Deusa celta dos alimentos, Tailtin, terminadas as colheitas, dando origem à cidade de Tailtown, do Rei da Irlanda. É também o mês dos 2 mistérios mais emblemáticos da liturgia cristã: Transfiguração de Cristo (6 de Agosto) e Assunção de Maria (15 de Agosto).
Para finalizar esta miscigenação espiritual importa recordar que o cristianismo é um ritual assente na matriz lunar. Embora o início do ano liturgíco tenha tido, nos primeiros séculos, diversas datas ( Festa da Anunciação em Março, depois em 18 de Dezembro, face ao Concílio de Toledo em 665; variação do número de Domingos do Advento, conforme as liturgias nestoriana, ambrosiana e mozarabica), o Advento actual é de 28 dias lunares ou 4 semanas, sendo o 1º Domingo o mais próximo da Festa de Santo André, a 30 de Novembro, intervalo que recai entre 17 de Novembro e 24 de Dezembro. Sendo o início a 17, é este dia dedicado ao «Semi-Deus» da Igreja de Roma, que o cognomina de Taumaturgo: São Gregório (200-276).
Toda a liturgia gira à volta da Festa Principal, a Páscoa. Celebra-se sempre depois do 14º dia da Lua de Março, contado este dia a começar a 21 de Março (equinócio). Havendo lua cheia antes de 21, a lua pascoal é a seguinte. Daqui resulta que os limites da Páscoa variam entre 22 de Março e 25 de Abril. A Ascensão de Cristo será sempre em Lua Nova e o Tempo depois do Pentecostes não ultrapassa os 28 Domingos (mínimo 23/24). A dualidade ritual de 12 meses sintetiza-se assim:
v Vida de Jesus (6 meses): Advento, Natal, Septuagésima, Quaresma, Páscoa e Ascenção.
v Vida da Igreja (6 meses): Pentecostes, S. Pedro/S. Paulo, Assunção, S. Miguel, Santos Anjos e Todos-os-Santos.
É todo um ritual de sacrifício e dádiva, traduzido na palavra nórdica blòt, em inglês blood, em germânico blut, simbolizado no sangue de Cristo, derramado pela Humanidade. Este sacrifício deve evitar o Apocalipse (Revelação) ou Ragnarok nórdico, o combate opondo as Forças da Luz às Forças das Trevas. Na mitologia odínica, o Deus Odin esteve pendurado, por 9 dias e 9 noites, na Árvore Yggdrasill, para aprender o Segredo das Runas (ficando sem uma vista na Fonte Mimir, o preço pago aos Gigantes da Esfera Jotunheim). Agitado pelo vento, foi ferido por uma Lança, ou Lança de Longinus que atinge Cristo na Cruz. No Arcano Maior 12, o Enforcado, número dos 12 Apóstolos, dos 12 meses, as pernas desenham a Cruz e os braços a Trindade. Assim foi crucificado Pedro.
O ritual da morte teve, na Antiguidade, um significado mágico que hoje não se compreende. Emblemático com o filho de Abraão, o ritual da morte era nobre através de objecto cortante, mesmo no harakiri. A morte sem lamina ou lança era considerada humilhante. Pôncio Pilatos quis dar honra a Cristo, por isso o manda ferir como aos Deuses, não o fazendo a quem o ladeava. Mesmo os atrozes autos-de-fé da Inquisição tinham lugar, normalmente, em efeméride religiosa ou profana. Hoje este ritual ainda tem chamamento religioso, sendo disso exemplo os que se imolam pelo fogo ou em ataques suicidas. O ritual do sangue dos animais ainda hoje é um vestígio daquele que era feito com seres humanos. Em suma, é esta a Lenda da Ave Pelicano.
Podem os poderes financeiro, económico, político, religioso, ou mesmo qualquer forma de domínio sobre os povos, tentarem apagar o Arquétipo Espiritual da História que tudo renasce com mais força, sempre através de um credo de fé, mesmo de um conto infantil.
Queimem-se bibliotecas, proíbam-se matérias escolares de filosofia, história e literatura, prendam-se vozes mensageiras, decretem-se censuras, tudo é irrelevante. Hoje renasce Tolkien e o Senhor dos Anéis, com as Torres Gémeas, antecedido da banda desenhada de Thor e Connan e da história da Branca de Neve e os 7 Anões, ou Elfos da Sombra, aqui mineiros. A Bela Adormecida, o Feijoeiro Mágico, Alice no País das Maravilhas, Peter Pan e a Fada Sininho, Super Homem ou Homem Aranha, as Fábulas de La Fontaine ou o mito do Rei Artur, são diversas formas de se manifestar a espiritualidade. Penas de Homero, Dante ou Camões são dedos de Wagner, Mozart, Lizst, Chopin, Bethoveen, Bach ou Verdi.
O mundo de hoje não é diferente de outros ciclos da História. Nunca existirá futuro, pois tudo não passa de uma acção-reacção do passado no presente, a qual evoluirá conforme as acções positivas e negativas cometidas. Cristo já tinha sido, similarmente, Osíris, Balder ou Krishna.
O tempo que dei a este texto foram de 9 páginas. Não é possível desenvolver muito do que foi dito. Para terminar, no arquétipo de Portugal, no binómio cristão-celta direi que a Ordem de Cristo transformou a Cruz de Pedra celta no Padrão dos Descobrimentos e que «achámos» o Brasil, pois este nome deriva de Yggdrasill, a Árvore que os Índios nominavam pelos contactos com nórdicos (e vikings). Cristóvão Colombo antes de «ir» à América esteve na Irlanda estudando as rotas nórdicas, passadas também aos Corte Real. Lenda ou mito, a língua quíchua da América do Sul, mais centrada hoje no Perú, tem paralelo filológico com o hebreu antigo. Nós ainda temos a Porca de Murça e nos mapas que transcreviam a nossa designação antiga geográfica, a Lusitânia proto-histórica, era o Portugal de hoje dividido em:
q CALLAECIA, a Norte de Durius vel Dorio flumen
q LUSITANIA, englobando a Callaecia, a Norte de Tagus flumen
q MESOPOTAMIA, sensivelmente todo o Alentejo, com o os rios principais: Ana flumen e Cahpgus flumen.
q CYNETICUM, correspondendo ao Algarve.
O tema quase a terminar diz Os Celtas e os Cristãos, porque tem mais nexo com a nossa realidade geográfica. Podíamos comparar os cristãos com outras religiões. Podíamos fazer uma grelha comum a todos os povos, escrevendo nas intercepções Religião-Divindades o nome adequado à Suas missões e saberíamos uma mesma Mensagem com diferentes nomes. Assim como se quer globalizar o mundo pela religião do dinheiro, porque não fazê-lo também com o religar da espiritualidade do ser humano?.
Grato por ter estado hoje neste lugar (do Deus Lug) e bem-hajam Vossas Excelências por me terem escutado. Disse.
JOÃO SANTOS FERNANDES
Lisboa, 15 de Março de 2003
A Suas Excelências e Altos Dignatários
de Credos de Fé e Comunidades:
Igrejas: Patriarcado de Lisboa
Adventista do Sétimo Dia Nunciatura Apostólica
Apostólica Católica Ortodoxa Centro de Reflexão Cristã
Baptista de Lisboa Comunidade Cristã Internacional
Católica Alemã Comunidade Hindu de Portugal
Cristã de Lisboa Comunidade Islâmica de Lisboa
Cristã-Nova Aliança Comunidade Israelita de Lisboa
De Cristo Comunidade Países de Língua Portuguesa
De Deus em Portugal Comunidade Vida e Paz
Evangélica Ass. Deus Pentecostal Missionários Combonianos Coração Jesus
Evangélica Pent. M. M. Mundial Missionários da Consolata
Evangélica Presbit. de Portugal Missionários do Espírito Santo
Internacional Graça Deus Port. Missionários de São João Baptista
Jesus Cristo dos Santos Ult. Dias Universidade Católica (Faculdade Teologia)
Lusitana Cat. Apost. Evangélica
Luterana de Portugal
Universal de Jesus Cristo
Universal do Reino de Deus
Onde tudo é global e material, na religião mundial do dinheiro, cada vez mais o ser humano está desprovido de leis e apoios que o elevem espiritualmente, face à desunião do caleidoscópio dos credos de fé e crenças dos povos, tudo emanando do mesmo Logos Manifestado, ao longo de Ciclos da Humanidade.
Será possível caminharmos para uma globalização espiritual, equilibrando o materialismo actual da governação mundial preponderante?.
Perdoai se a listagem destinatária não é exaustiva, por limitações diversas, entre as quais de endereços, mas julgo que já muitos milhões de portugueses aqui estarão, simbolicamente, inclusos. Acredito que a nossa tradição espiritual e ecuménica perante o Mundo não deu apenas os Descobrimentos. Talvez falte dar exemplo de uma união espiritual de todas as religiões em solo luso.
Bem–Hajam Vossas Excelências, Mui Ilustres Dignatários de Credos de Fé e Comunidades com implantação em Portugal, bem como os povos de matriz lusa. Deixo uma pequena gota de oceano, com uma intervenção-debate que fiz em Alenquer, uma tentativa de encontrar raízes da Árvore do nossa Alma e do nosso Espírito.
Por tradição cristã de Portugal, que Sua Eminência o Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa e Sua Excelência Reverendíssima o Senhor Núncio Apostólico possam ajudar o devir de Portugal.
Com elevada consideração e gratidão a Vossas Excelências:
Palestra do Coronel João Santos Fernandes
OS CELTAS E OS CRISTÃOS
Em toda a História da Humanidade sempre houve e haverá uma única Matriz Espiritual dos Povos, a qual se vai metamorfoseando em diversas religiões ou credos de fé, nos sucessivos ciclos evolutivos de Raças e sub-Raças, moldada por Seres Superiores, descidos ou não à Terra, tudo em nome de um Deus ou de Deuses, conforme os Tempos, local geográfico ou culturas existentes.
Assim aconteceram Messias, Profetas, Xamãs, Iluminados, Avatares, Aparições ou cultos da Natureza para o desenvolvimento espiritual do ser humano. Semi-deuses, heróis, magos, sacerdotes, monges, apóstolos, teólogos, santos, pastores, ascetas, pregadores e reis irradiaram depois um ideal de Fé, com mais ou menos ardor, pela palavra e/ou pelas armas, convertendo povos, através dos seus chefes ou governantes, procurando a expansão de uma nova Mensagem.
Falharam a maioria das religiões, até hoje, por três causas principais:
· A própria natureza do ser humano, longe de estar liberto dos vícios da matéria.
· O enfatizar da explicação do Caminho para o seu Deus, em vez de se potenciar a Verdade de que Ele está dentro de nós mesmos.
· A dogmatização demasiada da Fé e da Esperança, face à Mensagem da Trindade do Logos Manifestado (todas as religiões se baseiam numa Trindade) que pretende religar a evolução do ser humano, quase sempre com nexo causal com o acentuar do distanciamento das raízes da Mensagem, secularizada pelo poder eclesiástico.
Tudo isto se complica com os diversos «ismos» da mesma Mensagem difundida, apresentando a Cristã três polaridades principais: católica, protestante e ortodoxa.
Vamos restringir a análise à realidade geográfica Europa-Ásia dos dois últimos milénios, herdeira de 3 pilares importantes:
· A Matriz indo-asiática e indo-europeia. A primeira centrada no hinduismo, xintoismo e budismo. A segunda centrada no odinismo, alastrando da Ásia ao Mar do Norte (zona dos Curganos), venerando os Deuses Ases (daí o nome de Ásia), dando origem aos povos celtas. A escrita mais relevante foi o sânscrito, o rúnico e a de ideogramas.
· A Matriz afro(N)-asiática(Menor), com as Divindades dos Impérios da Antiguidade até Cristo (Assíria, Pérsia, Egipto, Grécia e Roma). Independentemente da denominação dos Deuses, sendo os principais uma Trindade, predominava o culto pela Grande Mãe da Humanidade. A escrita teve uma evolução gráfica (excepto a hieroglífica), de cuneiforme à latina, mas com cambiantes diversas: aramaico, cirílico, árabe e copta, principalmente.
· A Matriz restrita da Ásia Menor-Egipto, ligada ao Antigo Testamento e às diásporas das Tribos até ao Novo Testamento, de onde emergem 3 ramos principais: judaísmo, islamismo e cristianismo. Três são as figuras emblemáticas: Abraão, Moisés e Cristo. Mais tarde juntar-se-á a figura do Profeta Maomé, sedimentando-se o islamismo.
Vamos dar um salto na História até à institucionalização do cristianismo como religião oficial do Império de Roma. Só passados 3 séculos, em 313, é que é lavrado o Édito de Milão para este efeito.
Tinham-se miscigenado festividades, tradições, efemérides e cultos de outras civilizações no cristianismo, sobretudo de origem greco-romana, egípcia e bretã. Roma já estava na sua fase de decadência, com uma degradação moral da sua sociedade. Serão precisos ainda mais 100 anos, sobre o Édito de Milão, para que o Imperador Honório decretasse a expulsão e confiscação dos bens a todos quantos não cumprissem a fé oficial decretada: o Cristianismo. Tinham passado 400 anos após Cristo.
Então qual é a realidade dos séc. IV e V na Europa cristã?. Vejamos, em traços gerais, como estava a Mensagem de Cristo:
v O apostolado de São Martinho de Tours dá à Europa o primeiro Mosteiro, em 360. Após o ter fundado ele é já Abade e Bispo em 371. Esta dualidade de cargos ajudou a expandir a fé cristã nas Gálias. A separação dos dois cargos iria provocar muitas clivagens no cristianismo, uma «luta» entre Abadia e Catedral. O primeiro Bispo gaulês de Lyon, capital das Gálias, lutava por uma pureza cristã, não papal e romanizada. O seu nome, Ireneu, de origem grega, espelhava também o seu pensamento helénico. Para muitos a Grécia cristã era o berço da incubação religiosa, sendo disso estandartes São Paulo (judeu, cidadão romano, de cultura e escrita grega), São João (desterrado na ilha de Pathmos, no mar Egeu, onde terá tido a Revelação do Espírito Santo), Santo André (o Protókletos de Cristo, evangelizador do Peloponeso, morrendo mártir na cidade de Patras) e o dogma da Natividade, reactivado pelo Concílio de Éfeso, o qual, com o dogma da Trindade, cativaria toda a cultura nórdico-celta.
v O cristianismo na Grã-Bretanha desenvolveu-se nas regiões não ocupadas pelos Romanos, na Escócia (cujo Patrono é Santo André) e na Irlanda, sendo disso expressão a presença de Bispos bretões no Concílio de Arles, em 314, um ano depois do Édito de Milão. Lenda ou mito, realidade ou ficção, é um facto que o primeiro Bispo da Ilha Bretanha se toma por José de Arimateia, tio de Jesus, comerciante de estanho, viajando assim para fabricar o bronze. O simbolismo do Sangue de Cristo, recolhido em Cálice, por José de Arimateia, será semente para a futura lenda do Santo Graal e do Rei Artur, depois sabiamente explorada pelo Império Plantageneta.
v São os tempos de São Patrício, Apóstolo da Irlanda. Bispo enviado para o Ulster, em 432, pelo Papa Celestino, ele era um bretão, filho de um decurião do Exército de Roma. Raptado aos 6 anos de idade, torna-se discípulo de um Druída. Fugiu anos depois, mas aprendeu toda a cultura celta, a qual, na sua vertente sacerdotal, pouco ou nada tinha de tradição escrita, pois todo o conhecimento iniciático era transmitido oralmente.
v São os tempos de Santa Brígida, Patrona da Irlanda, entre 450 e 525, recebendo o véu do Bispo Macaille. Funda o Mosteiro Kildare (leia-se Igreja dos Carvalhos), continuando a tradição dos Mosteiros mistos, proibidos pela Igreja de Roma. Séculos mais tarde, por ironia das religiões, todas estas raízes e posturas vão ser apoiadas por Roma contra o anglicanismo, consolidado por Isabel I e por Oliver Cromwell, causas remotas de uma realidade de hoje entre o litígio Irlanda-Inglaterra.
v São os tempos de Pelágio, herdeiro dos saberes dos Santos do Mosteiro de Lérins (Hilário, Bispo de Poitiers, Loup de Troyes, Cesaire d’Arles e de Honorat, Bispo de Arles), instruídos, como ele, no Arquétipo cristão do Mosteiro de Marmoutiers, fundado por São Martinho de Tours. É desta «corrente» de Pelágio, do centro-norte cristão, que se vai estabelecer a “guerra” com Santo Agostinho, apoiado por Roma. Apesar do Papa Inocêncio ter excomungado Pelágio, logo a seguir o Papa Zózimo vai reabilitá-lo, brotando a “raiva” de Santo Agostinho na sua mais célebre frase:baptize-se primeiro, explique-se depois.
Na discussão teológica Pelágio-Agostinho encontramos a principal raiz cristã divergente celto/bretã-romano/latina que irá moldar, a partir do séc. V, todo o cristianismo (a azuleijaria irá representar Santo Agostinho, sentado em carroça triunfante, esmagando o corpo de Pelágio, veja-se o painel de azulejos da Sacristia do primeiro Mosteiro Jesuíta do Mundo, na Igreja da Senhora do Socorro, em Lisboa, doado por D. João III em 1542). De igual modo, similares clivagens nascerão entre Ordens Monástico-Militares, como Templários-Cátaros e Templários-Teutónicos, mais tarde na Reforma e Contra-Reforma. Mas vamos abordar as mais importantes divergências de Pelágio e Santo Agostinho:
Ø O Criador, para Pelágio, deixa o ser humano entregue à sua sorte. Não era Eva o símbolo do pecado, mas sim Adão, como uma Queda dos Anjos do Livro de Henoch. Uma batalha antiga como no odinismo, entre os Deuses Ases e Vanes, similar em todas as mitologias. Feito à imagem e semelhança de Deus Manifestado, ambos possuem a dualidade Bem-Mal, Luz-Trevas. O modo de vergar a «consciência» de Deus é pelo jejum, prática ancestral hindu (prayopavesana), praticada por todas as religiões, mesmo na simbologia material de Gandhi contra os ingleses, no séc. XX, ou pelos militantes do IRA, seja como recurso do que não se consegue obter, a greve da fome.
Ø Para o pensamento odinista é inaceitável o conceito de inferno. O cristianismo propaga-se na cultura nórdico-celta-germana porque Jesus Cristo, ao morrer, faz ressuscitar o dogma druída de que a morte é o meio de uma longa sucessão de vidas, permanecendo Ele na Terra, após a Ressurreição, 40 dias, período sagrado para a contagem celta. A descida aos «infernos» de Cristo é vista como a visita ao Reino dos Mortos (Reino de Hel), por duas noites ( matriz lunar, oposta à solar de Orfeu e Osíris, por um dia), encaixando no mito de Balder, o Deus nórdico, arrastado ao Reino de Hel por Loki. Para ultrapassar este diferendo do conceito de «inferno», imposto por Roma, o cristianismo irlandês inventa o conceito de «purgatório» que é aceite pela doutrina cristã-católica.
Ø As cerimónias do baptismo e da confissão, para além da tonsura, foram concessões mútuas entre os dois cristianismos. Roma aceita a confissão de origem germano-celta, auricular, um alívio para os embaraços que já causava a confissão pública. Maior resistência ouve com o baptismo, por parte dos Bispos bretões e alguns Abades do centro-norte da Europa, quanto ao tempo (idade), modo e significado para esta cerimónia. O baptismo de Cristo para uns era o fim de uma etapa iniciática de formação, outros viam uma aceitação consciente de purificação e entrega, esgrimindo sempre com a idade do baptismo de Cristo. Prevalece a argumentação de Santo Agostinho, possivelmente cedendo a outras diferenças que ainda hoje marcam rituais de ortodoxia cristã.
Ø Certo é que a condenação de Pelágio, lavrada pelo III Concílio de Éfeso, em 431, se prendeu apenas com o facto de ele negar a necessidade da graça e por ter defendido contra Nestório a unidade de pessoa no Cristo e a maternidade divina de Maria que daí procede. Com a morte de São Patrício no dia 17 de Março de 461 (Festa Nacional na Irlanda) tudo ficou diferente para sempre.
Os séculos seguintes levantariam mais questões de jurisdição eclesiástica entre Abades e Bispos, mesmo entre dioceses, face a independências e consolidação de fronteiras (como sucedeu em Portugal), mas a única Matriz Espiritual do Mundo iria enquadrar toda a liturgia cristã nas divisões emergentes da quadratura de equinócios e solstícios, acertados lunarmente, como o já expressavam a gnose germano-celta, derivada do Arquétipo da Árvore Yggdrasill e da gnose judaico-clássica, derivada de Moisés e do Arquétipo da Árvore da Vida hebraica, de saber Essénico. Vejamos, com exemplos mais conhecidos de todos, uma síntese do que atrás se disse:
q A simbologia das “Árvores” expressam o mesmo número de esferas (sefirotes), um total de 10. A nórdica Yggdrasill representa-se por 9 esferas, estando a 10ª oculta (Upgard), integrando os 7 Mundos suplementares. Todas as Ordens Religioso-Militares, de raiz Templária em Jerusalém, vão perpetuar este octógono de Construção, nos seus símbolos e graus, mesmo no erguer dos seus Templos, como o irão fazer os arquitectos de Mosteiros e Catedrais. O septenário dos Mundos, são os 7 dias da semana e da Criação, os 7 Véus do Templo com o candelabro de 7 Braços, as 7 das 10 Esferas da Árvore da Vida que correspondem à Formação-Criação-Emanação (as 3 restantes respeitam à Acção), tal como se constrói o ser humano nos seus 7 vórtices de energia (vulgo chackras), estando o 8º em seu redor. A Cavalaria Espiritual de Alá ou Hierarquia Sufi irá estabelecer 50 Graus evolutivos, tantas as Portas de Luz da Árvore da Vida. Hoje a ficção de Tolkien nos dá a saga do Senhor dos Anéis, todo um mito emanado da Árvore Yggdrasill. Mas sempre o anel foi símbolo de domínio/poder e amor/sabedoria. Dos Prelados aos Cavaleiros das Ordens, da Realeza aos Lentes, tudo é selado como no anel do casamento, usado este em dedo de Apolo, Deus do Sol. Cristo, Sol da Vida. Deixemos alguns exemplos para meditar: o Templo de Delfos não seria o Templo dos Elfos?; o receptáculo de bronze de 12 bois (1 Reis, 7-23) fundido por Hiram, não seria similar ao tanque da Fonte Hvergelmir, da Esfera Nifheim, do Mundo das Brumas?; deste Mundo nórdico não saem os mitos das Brumas de Avallon, a ilha das Maças de Ouro?; Portugal não tem o mito do Encoberto, tal falsamente associado a D. Sebastião?; o Mundo dos Gigantes nórdicos (Esfera Jotunheim), como os Ciclopes de Hércules, não será arquétipo de David-Golias?.
q O que Júlio César não conseguiu ao fim de 10 anos de guerras com as Gálias, fê-lo a Virgem Maria depressa. O símbolo da Grande Mãe das origens odínicas era a Deusa Dana. Por sua Mãe se chamar Ana (Santa) a penetração e conversão cristã foi um «milagre», tanto mais que os seus antigos Deuses se chamavam Tuatha Dé Dannann (hoje temos as histórias de Connan) e eram simbolizados em Trindade, no Triskel, a tríplice espiral ou o tríplice triângulo (símbolo da molécula ADN). A Virgem Negra da Catedral de Chartres, destruída pelos republicanos no séc. XVIII, é a expressão continuada de um culto nórdico que está longe de estar extinto. Lembremos ainda a simbologia sagrada das árvores: o freixo nórdico ou o carvalho celta; a oliveira cristã ou a figueira budista; a acácia da Arca da Aliança e o cedro do Templo de Salomão; o pinheiro do Natal.
Abordemos, em sequência, a liturgia cristã no que ela tem de correspondência às divisões por equinócios e solstícios, acertos lunares e datações solares. Desde a Antiguidade até à Idade Média que o todo económico e social dependia de dois pilares principais: a pastorícia e a agricultura. Assim o Inverno e o Verão eram os marcos principais, como o eram as sementeiras e as colheitas. A divisão quaternária das estações do ano fixavam festividades, rituais, efemérides, celebrações e forais, originando ainda estes 4 «braços», como pontos de contagem, a 4 divisões principais do ano celta, tomadas a partir de 40 dias, antes ou depois, de cada equinócio ou solstício. Assim:
q Divisão principal: dias 1 de Novembro, Fevereiro, Maio e Agosto
q Divisão secundária: dias 11 de Novembro, Fevereiro, Maio e Agosto.
Antes de analisarmos estas datas importa dizer que 40 é um número místico por excelência, não cabendo aqui a sua análise. São os 40 anos de deserto, com Moisés. São os 40 dias de deserto, com Cristo. São os 40 anos de Maomé, com a Revelação do Arcanjo São Gabriel. São, no conto infantil, Ali Bábá e os 40 Ladrões. Em suma, é a Quaresma espiritual e a Quarentena física ou da medicina.
Era lógico que novas religiões fossem cativar estes marcos para os seus fiéis. É este cenário que agora nos vai ocupar. Assim:
v DIA 1 de NOVEMBRO:
Festa de Fim de Verão, atribuída a Samain. Dia de Ano Novo celta. Evocação da comunicação vivos-mortos. Dia do Reino de Hel, raiz ancestral do actual Halloween, Reino da Morte da Árvore Yggdrasill. Para a Igreja de Roma é o Dia de Todos-os Santos, com o sequente Dia de Fiéis Defuntos. A memória dos povos, neste culto dos mortos, apenas sofreu influência de Roma na proibição da embriaguez destes dias que «facilitava» a «comunicação». Mesmo assim tal prática vai ser adiada para 11 de Novembro, Dia de São Martinho de Tours (40 dias antes do solstício), antes dedicado ao filho de Odin, o Deus Thor, gigante e bebedor, Deus da guerra, do trovão e do raio. São Martinho também tinha sido, por imposição do pai, soldado do Exército de Roma, até aos 22 anos. A sua capa, símbolo da Protecção da França, era levada à frente dos Exércitos, servindo, em tempo de paz, para prestar juramentos solenes, dando nome ao oratório que a guardava. Hoje as pequenas igrejas chamam-se, por isso, capelas.
Outrora não se circulava pelos caminhos, nas duas noites do Ano Novo, senão a pé, para não atropelar os mortos. Os túmulos eram deixados abertos (Irlanda) e as actuais festividades comerciais do Halloween mais não fazem que revivificar este culto, tendo, no entanto, consequências funestas para quem as pratica sem espiritualidade. “Susto ou Prenda” tinha idêntico vector no “Pão por Deus”, no “Tostãozinho pró Santo António”, na dádiva ao “corcunda” (afagando as costas), mesmo na moeda atirada às fontes celtas. Ainda hoje nos EUA todas as eleições têm lugar após a semana do Halloween, em 3ª feira, um ritual reactivado pela «Nau Mayflower», a nossa «Nau Catrineta» ou «Barca Bela». O Presidente Roosevelt tenta contrariar apenas a tomada de posse dos Presidentes, para obviar à profecia de morte que recaiu neles desde 1840 (de 20 em 20 anos), mudando de Março para Janeiro tal acto. Em vão tal esforço. O que foi jurado por George Washington sobre a Bíblia não pode ser alterado. Basicamente disse o 1º Presidente que os EUA não deviam interferir com a Deusa Europa.
v DIA 1 de FEVEREIRO:
Festa da Pureza e do Elemento Ar, atribuída a Imbolc. Deus que talvez fosse Loki na tradição odínica, pois desconheço melhor explicação. É um facto, no entanto, que era o tempo de exorcismos, de renovação, de lavagens de mãos, pés e cabeça. Deus Loki, o Set egípcio que leva à morte Osíris, levando à morte Balder no Reino de Hel, identifica-se com igual período das Festas ancestrais de Perséfone, com os sacrifícios a Plutão ou Feburius, daí Fevereiro.
Para a Igreja de Roma é a Festa da Purificação da Virgem Maria e da Apresentação de Jesus ao Anjo da Aliança, uma Lei Mosaica que obrigava a que 40 dias após o nascimento as mães levassem os seus filhos ao Templo, ofertando 1 cordeiro ou 1 pomba, conforme a sua riqueza. Se esta Festa é a 2 de Fevereiro, para cumprir os 40 dias pós 25 de Dezembro, este dia fecha o ciclo santoral do Tempo após a Epifania. Colocou a Igreja de Roma a 1 de Fevereiro o mais simbólico Santo da morte: Santo Inácio. Algemado e entregue às feras, nas perseguições do Imperador Trajano, este 3º sucessor de S. Pedro, simboliza para os cristãos a morte perante o Mundo e nós mesmos, sendo testemunho que Cristo está em nós.
Ainda neste tempo, celebra-se a 3 de Fevereiro o Dia de São Brás (Blasius ou Blaiser, o Sopro do Fogo), simbolizado com 2 Velas acesas, em «aspas» ou Cruz de Santo André, o Patrono da Escócia e da Rússia. Benze a Igreja as Velas para serem usadas no leito dos moribundos, nas tempestades e nos perigos de toda a ordem. A Mensagem cristã do dia seguinte, dos 2 lobos (e 2 corvos) que acompanhavam o Deus Odin, está em dia de Santo André Corsino, Bispo de Fiesole, falecido em 1373. Sonhou sua mãe que tinha dado à luz um lobo que logo se transformou em cordeiro, ao entrar na Igreja dos Carmelitas. A Mensagem sagrada da Purificação é : lobos pelo pecado, sejamos cordeiros pela penitência. Este Santo foi desordeiro na juventude e prudente após entrar para a Ordem do Carmo. Os corvos de Odin estão em São Vicente.
Mais curioso se torna o Dia 5. Dedicado a Santa Ágata ou Águeda (cidade de Portugal), ela é a Virgem Siciliana, Padroeira das mães jovens e violadas, também das amas de leite. Diz-se que em 251, em Catana, o Governador Quintiano a tentou violar. Não o conseguindo lhe mandou dilacerar peito, logo curado por S. Pedro. Morreu, orando, após o seu corpo ser rolado sobre carvão incandescente, misturado de agudas pedras. Ainda hoje os italianos acreditam que o seu manto pode acalmar o vulcão Etna, o Fogo da Deusa Europa. Talvez seja o Arquétipo de Melusina, a Serpente, que volta para amamentar os seus filhos.
Para fecharmos as Festividades de Fevereiro recordemos que a 11 de Fevereiro de 1858 (40 dias antes do equinócio) surge a Virgem de Lourdes. Neste Dia diz o Missal: “...A festa de hoje recorda o triunfo de Maria sob a serpente a que se refere a liturgia septuagesimal.”. Por 18 vezes (Arcano Maior Lunar, com os dois lobos de Odin, em Tarot) desce esta Virgem na gruta do rochedo de Massabielle até 16 de Julho, Dia que também já lhe era Consagrado, como Virgem do Monte Carmelo, desde 1245, quando aparece a São Simão Stock.
v DIA 1 de MAIO:
Mês da Deusa nórdica Idunn, guardiã das Maçãs de Ouro (Maçã de Eva), do rejuvenescimento e da imortalidade. Os celtas iriam restringir o Arquétipo nórdico às Festas de Beltaine, ou do Fogo de Bel. São Patrício, Apostolo da Irlanda, transportou este Fogo para a Vigília Pascal. Outrora acendiam-se fogueiras, saltando-se sobre elas e o gado era levado às proximidades das chamas para ficar fértil e sem doenças. É o mês de Maria e do Fogo do Espírito Santo que desceu sobre os Apóstolos. Tempo de castidade, sendo desaconselhável os casamentos neste período.
Era o mês de eleger a Rainha de Maio coberta de flores, escolhendo-se donzela ou rapaz, símbolo de andróginia, castidade e Natureza. Tal prática foi sendo proibida, mas subsiste na Suécia, Tirol, Pirinéus, Borgonha, Alemanha e Portugal (no Algarve as refeições do 1º de Maio são ao ar livre). Conservamos destas Festividades, semelhantes aos Mistérios de Eleusis, onde a Deusa Deméter era a Deusa do Trigo, o Dia da Quinta-Feira da Espiga, em ramo de floração de Maio e da oliveira, Tempo do Espírito Santo que antecede o Domingo da Ascensão.
A imagem da noite anterior ao 1º de Maio é a da noite de Fausto de Goethe, a noite de Walpurgis. Coincidência litúrgica do Dia de Santa Catarina de Senna, a donzela que faz terminar a longa noite de Avignon de 70 anos, «obrigando» o Papa Gregório XI a voltar a Roma, tantos os anos do cativeiro dos judeus na Babilónia. Mas o mais relevante das Festas de Maio que persiste é a Árvore de Maio. No 1º dia subia-se às montanhas para colher a árvore mais direita (freixo, choupo, pinheiro ou abeto), sendo posta a secar, depois de desramada, no centro da paróquia, para ser queimada, por padre, monja ou frade, na noite de São João Baptista, a 23 de Junho, a cristianização dos Fogos de Beltaine. A Igreja de Roma ainda hoje, liturgicamente, a 3 de Maio, abençoa Cruzes e Varas, saídas do desramar das árvores, um ritual instituído pela Imperatriz Helena, mãe de Constantino, que se designa a Invenção da Verdadeira Cruz.
Falar hoje de Fátima, a 13 de Maio, é ainda recuar a algo de mais profundo nesta polaridade sagrada e oposta 1 de Maio-1 de Novembro. A primeira «Fátima» é de 13 de Maio de 610, data decisória do Papa Bonifácio IV ao transladar todos os restos mortais dos Mártires das Catacumbas para o Templo de Agrippa, o Pantheon dos Deuses criado por Augusto, consagrando-o à Virgem Maria e aos Mártires. Em 835 o Papa Gregório IV (também IV) fixa a data para o Dia 1 de Novembro, de Todos-os Santos. A Virgem de Fátima de 1917 advertiu para o martírio perante novos Imperadores, por isso chorou o Papa João XXIII e dedicou o Concílio Vaticano II (40 anos em 2002) à Padroeira de Portugal, encerrando a I Sessão a 8 de Dezembro, Dia da Mãe.
v DIA 1 de AGOSTO:
Mês dos rituais de casamento, da fertilidade das searas e dos rebanhos. Mês da metamorfose do Deus Lug casando com a Irlanda. São as terras de Lugo, geografia celta de Compostela (Campus Stella-Campo da Estrela), de Sant’Iago, implantação da Peregrinação do Ocidente, raízes da Lugúria portuguesa e genovesa, braço-dado dos Descobrimentos.
É o mês e o dia 1 do deus nórdico Heimdall, o Vigilante da Árvore Yggdrasill, Porteiro entre o Mundo dos seres humanos e dos Deuses, associado ao Deus Ermin ou Irmin, resultando para o cristianismo a palavra Ermida ou Capela dos Bosques ou dos ERMOS. Até passado recente, dedicava-se o dia 1 de Agosto ao Vigilante, Porteiro das Chaves, dos Céus: São Pedro. É hoje o mês dos Apóstolos São Pedro e São Paulo, nome da Basílica de Roma. Evocam-se as Cadeias de Pedro e os Anéis de Paulo.
As primeiras, de 2 pedaços, têm 44 elos alongados, sendo 11 destinados a ligar as mãos e 23 terminados em 2 semicírculos para pendurar o pescoço. Os Anéis de Paulo eram 4, usados no seu cativeiro em Roma. Limalhas destas relíquias eram ofertadas pelos Papas em ocasiões de muita solenidade.
Era o mês da Morte mística da Deusa celta dos alimentos, Tailtin, terminadas as colheitas, dando origem à cidade de Tailtown, do Rei da Irlanda. É também o mês dos 2 mistérios mais emblemáticos da liturgia cristã: Transfiguração de Cristo (6 de Agosto) e Assunção de Maria (15 de Agosto).
Para finalizar esta miscigenação espiritual importa recordar que o cristianismo é um ritual assente na matriz lunar. Embora o início do ano liturgíco tenha tido, nos primeiros séculos, diversas datas ( Festa da Anunciação em Março, depois em 18 de Dezembro, face ao Concílio de Toledo em 665; variação do número de Domingos do Advento, conforme as liturgias nestoriana, ambrosiana e mozarabica), o Advento actual é de 28 dias lunares ou 4 semanas, sendo o 1º Domingo o mais próximo da Festa de Santo André, a 30 de Novembro, intervalo que recai entre 17 de Novembro e 24 de Dezembro. Sendo o início a 17, é este dia dedicado ao «Semi-Deus» da Igreja de Roma, que o cognomina de Taumaturgo: São Gregório (200-276).
Toda a liturgia gira à volta da Festa Principal, a Páscoa. Celebra-se sempre depois do 14º dia da Lua de Março, contado este dia a começar a 21 de Março (equinócio). Havendo lua cheia antes de 21, a lua pascoal é a seguinte. Daqui resulta que os limites da Páscoa variam entre 22 de Março e 25 de Abril. A Ascensão de Cristo será sempre em Lua Nova e o Tempo depois do Pentecostes não ultrapassa os 28 Domingos (mínimo 23/24). A dualidade ritual de 12 meses sintetiza-se assim:
v Vida de Jesus (6 meses): Advento, Natal, Septuagésima, Quaresma, Páscoa e Ascenção.
v Vida da Igreja (6 meses): Pentecostes, S. Pedro/S. Paulo, Assunção, S. Miguel, Santos Anjos e Todos-os-Santos.
É todo um ritual de sacrifício e dádiva, traduzido na palavra nórdica blòt, em inglês blood, em germânico blut, simbolizado no sangue de Cristo, derramado pela Humanidade. Este sacrifício deve evitar o Apocalipse (Revelação) ou Ragnarok nórdico, o combate opondo as Forças da Luz às Forças das Trevas. Na mitologia odínica, o Deus Odin esteve pendurado, por 9 dias e 9 noites, na Árvore Yggdrasill, para aprender o Segredo das Runas (ficando sem uma vista na Fonte Mimir, o preço pago aos Gigantes da Esfera Jotunheim). Agitado pelo vento, foi ferido por uma Lança, ou Lança de Longinus que atinge Cristo na Cruz. No Arcano Maior 12, o Enforcado, número dos 12 Apóstolos, dos 12 meses, as pernas desenham a Cruz e os braços a Trindade. Assim foi crucificado Pedro.
O ritual da morte teve, na Antiguidade, um significado mágico que hoje não se compreende. Emblemático com o filho de Abraão, o ritual da morte era nobre através de objecto cortante, mesmo no harakiri. A morte sem lamina ou lança era considerada humilhante. Pôncio Pilatos quis dar honra a Cristo, por isso o manda ferir como aos Deuses, não o fazendo a quem o ladeava. Mesmo os atrozes autos-de-fé da Inquisição tinham lugar, normalmente, em efeméride religiosa ou profana. Hoje este ritual ainda tem chamamento religioso, sendo disso exemplo os que se imolam pelo fogo ou em ataques suicidas. O ritual do sangue dos animais ainda hoje é um vestígio daquele que era feito com seres humanos. Em suma, é esta a Lenda da Ave Pelicano.
Podem os poderes financeiro, económico, político, religioso, ou mesmo qualquer forma de domínio sobre os povos, tentarem apagar o Arquétipo Espiritual da História que tudo renasce com mais força, sempre através de um credo de fé, mesmo de um conto infantil.
Queimem-se bibliotecas, proíbam-se matérias escolares de filosofia, história e literatura, prendam-se vozes mensageiras, decretem-se censuras, tudo é irrelevante. Hoje renasce Tolkien e o Senhor dos Anéis, com as Torres Gémeas, antecedido da banda desenhada de Thor e Connan e da história da Branca de Neve e os 7 Anões, ou Elfos da Sombra, aqui mineiros. A Bela Adormecida, o Feijoeiro Mágico, Alice no País das Maravilhas, Peter Pan e a Fada Sininho, Super Homem ou Homem Aranha, as Fábulas de La Fontaine ou o mito do Rei Artur, são diversas formas de se manifestar a espiritualidade. Penas de Homero, Dante ou Camões são dedos de Wagner, Mozart, Lizst, Chopin, Bethoveen, Bach ou Verdi.
O mundo de hoje não é diferente de outros ciclos da História. Nunca existirá futuro, pois tudo não passa de uma acção-reacção do passado no presente, a qual evoluirá conforme as acções positivas e negativas cometidas. Cristo já tinha sido, similarmente, Osíris, Balder ou Krishna.
O tempo que dei a este texto foram de 9 páginas. Não é possível desenvolver muito do que foi dito. Para terminar, no arquétipo de Portugal, no binómio cristão-celta direi que a Ordem de Cristo transformou a Cruz de Pedra celta no Padrão dos Descobrimentos e que «achámos» o Brasil, pois este nome deriva de Yggdrasill, a Árvore que os Índios nominavam pelos contactos com nórdicos (e vikings). Cristóvão Colombo antes de «ir» à América esteve na Irlanda estudando as rotas nórdicas, passadas também aos Corte Real. Lenda ou mito, a língua quíchua da América do Sul, mais centrada hoje no Perú, tem paralelo filológico com o hebreu antigo. Nós ainda temos a Porca de Murça e nos mapas que transcreviam a nossa designação antiga geográfica, a Lusitânia proto-histórica, era o Portugal de hoje dividido em:
q CALLAECIA, a Norte de Durius vel Dorio flumen
q LUSITANIA, englobando a Callaecia, a Norte de Tagus flumen
q MESOPOTAMIA, sensivelmente todo o Alentejo, com o os rios principais: Ana flumen e Cahpgus flumen.
q CYNETICUM, correspondendo ao Algarve.
O tema quase a terminar diz Os Celtas e os Cristãos, porque tem mais nexo com a nossa realidade geográfica. Podíamos comparar os cristãos com outras religiões. Podíamos fazer uma grelha comum a todos os povos, escrevendo nas intercepções Religião-Divindades o nome adequado à Suas missões e saberíamos uma mesma Mensagem com diferentes nomes. Assim como se quer globalizar o mundo pela religião do dinheiro, porque não fazê-lo também com o religar da espiritualidade do ser humano?.
Grato por ter estado hoje neste lugar (do Deus Lug) e bem-hajam Vossas Excelências por me terem escutado. Disse.
JOÃO SANTOS FERNANDES
Lisboa, 15 de Março de 2003
A Suas Excelências e Altos Dignatários
de Credos de Fé e Comunidades:
Igrejas: Patriarcado de Lisboa
Adventista do Sétimo Dia Nunciatura Apostólica
Apostólica Católica Ortodoxa Centro de Reflexão Cristã
Baptista de Lisboa Comunidade Cristã Internacional
Católica Alemã Comunidade Hindu de Portugal
Cristã de Lisboa Comunidade Islâmica de Lisboa
Cristã-Nova Aliança Comunidade Israelita de Lisboa
De Cristo Comunidade Países de Língua Portuguesa
De Deus em Portugal Comunidade Vida e Paz
Evangélica Ass. Deus Pentecostal Missionários Combonianos Coração Jesus
Evangélica Pent. M. M. Mundial Missionários da Consolata
Evangélica Presbit. de Portugal Missionários do Espírito Santo
Internacional Graça Deus Port. Missionários de São João Baptista
Jesus Cristo dos Santos Ult. Dias Universidade Católica (Faculdade Teologia)
Lusitana Cat. Apost. Evangélica
Luterana de Portugal
Universal de Jesus Cristo
Universal do Reino de Deus
Onde tudo é global e material, na religião mundial do dinheiro, cada vez mais o ser humano está desprovido de leis e apoios que o elevem espiritualmente, face à desunião do caleidoscópio dos credos de fé e crenças dos povos, tudo emanando do mesmo Logos Manifestado, ao longo de Ciclos da Humanidade.
Será possível caminharmos para uma globalização espiritual, equilibrando o materialismo actual da governação mundial preponderante?.
Perdoai se a listagem destinatária não é exaustiva, por limitações diversas, entre as quais de endereços, mas julgo que já muitos milhões de portugueses aqui estarão, simbolicamente, inclusos. Acredito que a nossa tradição espiritual e ecuménica perante o Mundo não deu apenas os Descobrimentos. Talvez falte dar exemplo de uma união espiritual de todas as religiões em solo luso.
Bem–Hajam Vossas Excelências, Mui Ilustres Dignatários de Credos de Fé e Comunidades com implantação em Portugal, bem como os povos de matriz lusa. Deixo uma pequena gota de oceano, com uma intervenção-debate que fiz em Alenquer, uma tentativa de encontrar raízes da Árvore do nossa Alma e do nosso Espírito.
Por tradição cristã de Portugal, que Sua Eminência o Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa e Sua Excelência Reverendíssima o Senhor Núncio Apostólico possam ajudar o devir de Portugal.
Com elevada consideração e gratidão a Vossas Excelências:
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