do Caminho de Santiago de Compostela
Resumo da intervenção proferida no almoço debate da Tertúlia do Bar do Além,
Se tiver que resumir toda a experiência psico somática de 8 dias de peregrinaçao, pelo caminho francês a Santiago de Compostela. pela Galiza, seria através de uma tosca seta amarela pintada num muro, ou pedra de xisto negro, ou no tronco de uma arvore, ou desenhada no chão. Porquê?Primeiro, porqu
e a seta não é mais do que uma concha vieira estilizada, s
ímbolo do Caminho, hoje de Santiago, na sua componente proto cristã, e proto romana de Finsterra ou Finisterra. Prova de chegada ao fim da Terra conhecida até ao século XIV, e contraprova no regresso de ter atingido a meta proposta. Simbolo material tambem da civilizaçao costeira dos concheiros, sendo a concha simultanemente utensilio alimentar como colher, e prato do peregrino, malga de sopas, ou concha de agua de fontes de caminho. Não esquecer também o simbolismo mitológico da concha, fonte de vida,
oriunda do Mar, caso do nascimento de Venus do quadro de Boticelli, ou ainda da concha baptismal, do renascimento, como quando São João Bpatista (irmão se Sao Tiago) baptizou Cristo nas margens do Jordão.
gulhar nas aguas do Atlantico. Isto obviamente quando se entendia que era ao sol que andava a volta da Terra... ver http://nautilus.fis.uc.pt/astro/hu/movi/corpo.htmlTerceiro, porque este símbolo, triangular permite transformar qualquer pedra bruta em pedra cúbica, em pedra filosofal, de simbolismo tangivel a exprimir o domínio da mente sobre a matéria. A seta inserida numa pedra ou arvore transfigura-a em sinal. E não sera que a seta não é equiparável a uma estlizada pata de ganso, também com três veios, de acordo com a tradição celta, o mensageiro do outro mundo, e portanto situar-se na seta uma indicaçao de um caminho da morte inciático, isto é, da morte desta vida para ganhar um outro renascimento?
encimar os marcos kilométricos, como representa a foto. Normalmente está esculpida em baixo relevo em granito, e de forma impressiva visa fálicamente, assegurar a justeza do caminho. É uma afirmação de presença confirmativa de que se está no caminho (sagrado) certo, que ainda falta percorrer uma determinada distancia kilométrica nela indicada, e simultanemante encerra um confiante símbolo protector do peregrino. Note-se que a distância indicada em Km é sempre reportada ao caminho que falta percorrer até Santiago de Compostela.
A concha horizontal com o seu epicentro à esquerda, em design simbólico correcto, representa tambem a caminhada para o ocidente, e evidencia a pluralidade de caminhos (francês, português, primitivo, etc) que permitem atingir esse objectivos pelos raios estilizados que equivalem às suas nervuras. Trata-se de um símbolo feminio de taça, recipiendiária, que indica a via para um acolhimento dos que buscam a verdade. Pode ser tambem usada como sinalização em vez das setas que esta estilização da concha natural comporta, e assim com o epicentro à esquerda se essa é a direcção correcta, e com ele para a direita se for este o rumo a tomar. (na foto esta concha aponta o caminho para ocidente, para a esquerda, e em sentido convergente, qualquer que seja a versão do caminho a percorrer).Tudo isto para dizer que o Caminho de Santiago tem uma dimensão holística e uma origem proto-cristã, multimilenar, de natureza universal e iniciática, e transcende em muito o aspecto religioso, e ainda mais a natureza cristã e católica da motivação obvia de quem busca o túmulo de São Tiago (Santiago, St Jacques ou Saint James, em castelhano ou gallego, francês e inglês, e Jacobo em latim, e Giacomo em italiano), o apóstolo de Cristo, cavaleiro mata mouros também, irmão de São João, decapitado por ordem de Herodes no ano de 44, e depois levado de barca para um local que se veio a denominar de Compostela, (campo da estela ou do túmulo? campo de estrelas?) pelos discipulos deste evangelizador, onde foi sepultado. Numa palavra: já Sao Tiago para evangelizar a Ibéria, percorrera o caminho (
o primitivo?) antes mesmo dele se chamar de Santiago...seguiu na terra a projecção da via lactea do céu, e assim parece ficar tudo dito.
ar a declaraçao de Santiago de Compostela (conjuntamente com Roma ) como as únicas cidades santas da Europa! Também este facto veio a determinar que no convento de Samos, O futuro Rei castelhano Alfonso II tivese sido educado e preparado para ser um dos grandes protectores e difusores do sepulcro de Santiago (redescoberto no final do século VIII), acção prosseguida entre outros, por Alfonso IX, falecido em Sarria em 1230, e peregrino de Compostela. Entretanto, em 1170 fora fundada a Ordem de Santiago (cruz e espada), e a que se juntou também a Ordem de Malta (antes Ordem de São João de Jerusalém) para protecção dos peregrinos no Caminho. Por outro lado a Oriente desenvolviam-se as Cruzadas, e a afirmação da Ordem do Templo (templários) para proteccção dos peregrinos.
No alto da cúpula do transepto da Catedral de Santiago o Olho
de Deus inserido num triângulo, idêntico ao mesmo símbolo maçónico...do Grande Arquitecto do Universo, neste mesmo sentido, logo à entrada da Cidade a referencia estatuária ao peregrino Templario, guardião do caminho, mas com a cruz de Malta (?) e não com a cruz de espada de Santiago, sequer a cruz Templária.... Porém, o certo é que também guardaram o caminho de Santiago.
Mas não se pense que estes elementos sintomáticos são todos pertença do passado. Contemporaneamente há simbolos maçónicos feitos por peregrinos, e inseridos em varios pontos do caminho, como é exemplo do esquadro e compasso, que consta no painel de indicação de uma ciclovia, junto a roda dianteira da estilizada bicicleta (ver foto). E será que a última étape do caminho francês, tem mesmo o número 33, o mesmo do ultimo grau do Rito Escocês Antigo e Aceite da Maçonaria Universal? e Tiago...não foi também Mestre Tiago, um dos muitos ajudantes de Hiram Abiff, arquitecto contrato por Hiram rei de Tiro, apedido do reai Salomão para construir o Templo em Jerusalem? e Tiagos não eram os membros de uma confraria de pedreitos iniciados?
minho de Santiago, a pé, é decididamente uma experiência metafísica, para a qual só se deve aventurar quem estiver preparado, e estará preparado espiritualmente, todo aquele, e sempre, em algum momento da sua vida, se sentir a sua alma solicitar-lhe. Acrescente-se, que como experiência iniciática deve o caminho de Santiago ser percorrido em peregrinação, não em romaria, nem em excursão, nem em procissão. As oportunidades de meditação individual são constantes, e estas, sem espartilho de canones de rezas, ou modelos pre fixados, são mais dificeis, mas mais livres, abrangentes e promissoras. Só percorrendo o Caminho, é que se pode compreender que nós não fazemos o caminho, o Caminho é que nos faz, ele é que nos encaminha....
Note-se ainda, que há peregrinos em cadeira de rodas, como a emocionante jovem korena, alta
mente deficiente, que a empurrava, assistida por um familiar, (ver ao lado foto) num esforço impressivo. Como também há peregrinos em bicicleta (estes para o serem reconhecidos têm de percorrer 200Km) e ainda há peregrinos a cavalo, cujos percursos nem sempre são coincidentes com os andarilhos pedestres.
Passo a passo, em passadas regulares, com o som do rufar restolhado das botas na areia, no granulado de pedra desfeita , no roçar da rocha, e a pontuação metálica do pico do bordão. com a respiração a sublinhar esforços de subidas lá fui progredindo nos 152 Km. Ao longo de 8 dias.
assegurar a combinação ternária propulsora com os dois pés, desenhando estes, no chão, os tres pontos do triangulo do equilibrio. Três passos são iguais a uma passada. Vi quem se desempenhava da marcha com dois bastões tipo ski sueco...num andar mais rapido...mas o objectivo nem era a marcha, nem a competição, mas a progressão
do caminheiro, do andarilho, do peregrino, do romeiro, certa, pausada e compassada...ou seja ao ritmo de 1 passo, 2 passos, 3 passos e aqui, ferroar o bastão no chão ,pontuando a tripla avançada., alavancando a passada .
Santiago é um caminho, não é apenas um destino, a menos que este sejamos nós proprios. Nós, os nossos vivos, os nossos pensamentos, sonhos e pesadelos, ideias,
...Depois, tudo quase se termina quando exibido o nosso certificado de peregrinação com os carimbos (selos) apostos pelo locais visitados, desde igrejas, a albergues, tabernas ou alojamentos, se confirma que os dias passados, correspondem aos km percorridos, no mínimo de 100km, a partir do marco que identifica esta distância (ver foto), e nos é emitida a compostela em latim emitida em nosso nome, atestando a conclusão da peregrinação, em diploma simples mas digno, identico ao reproduzido no início deste texto.
Mas em boa verdade, o fim do Caminho, é o princípio do nosso Caminho, em nova etape, com novo Conhecimento, uma nova ascese, aquirida uma nova consciência do essencial da natureza da nossa existência.

