Friday, October 29, 2010

Dia 20/11, tertúlia sobre o Milagre das Rosas em Alenquer com Teresa Gomes Mota

(Quadro de Mestre Lima de Freitas sobre o Milagre das rosas)
Tema da tertúlia
O Milagre das Rosas, Isabel de Aragão e a Vila Presépio
Inscrições abertas pelo mail bar.do.alem@gmail.com

Uma viagem que começa na mística vila de Alenquer com Isabel de Aragão e o culto do Espírito Santo no século XIV, passa pelos factos e lendas em torno do Milagre das Rosas e nos leva aos milagres do século XXI.

Ver mais em: http://www.myguide.pt/profiles/blogs/o-milagre-das-rosas-em 

Nota biográfica: Teresa Gomes Mota é médica cardiologista, autora do livro publicado em 2010 "Alma de Isabel - de Aragão ao Chiado" . Este livro estará disponível a venda para ser autografado pela autora.
Saiba mais em

Saturday, October 23, 2010

ISABEL GIRÂO na TERTÚLIA do BAR do ALÉM: Bem sucedida intervenção e almoço-debate

a oradora e o moderador
Desenvolvimneto do tema "O cristão e o esoterismo"


O Cristão:

Embora actualmente muitos cristãos já tenham uma visão mais esclarecida sobre a mensagem de Cristo Jesus e o que Ele representou e representa para a Humanidade, (qual o seu significado), muitos ainda mantêm uma mente fechada, bloqueada, consequência de anos de informações erradas, deturpadas, começando pelo catecismo, das meias verdades, que foram sendo difundidas ao longo dos anos, que os impediram de penetrar nas Verdades Mistéricas. Estas verdades escamoteadas provocaram uma profunda alteração nos fundamentos e conceitos que foram dados aos cristãos actuais.

Podemos perceber nos textos dos Evangelhos, cujos sentidos alegórico, simbólico e até mitológico, com as traduções que foram sendo feitas ao longo dos séculos, foram adulterados e deturpados, passando a ser, por esta razão, uma pseudo narrativa histórica da vida de Jesus, o homem; esqueceram Cristo, o Grande Espírito, que iniciou uma nova era, na qual as nações estabelecidas sob o antigo regime de Jeová foram destroçadas, a fim de que a sublime estrutura da Fraternidade Universal pudesse ser edificada sobre as suas ruínas. Deste modo, a religião tornou-se confusa e por vezes incongruente. A maioria dos textos, destinados às coisas elevadas foram distorcidos e esquecidos, deixando de fazer parte da mensagem verdadeira do Cristianismo puro. O que fazia originalmente parte da fé cristã, foi negligenciado e quase esquecido.

Por outro lado, para os cientistas e intelectuais a partir do sec. XIX, o materialismo apresentava-se para a humanidade com um futuro tranquilo e promissor, um progresso sem sobressaltos. A mente humana tornava-se poderosa e “perfeita” e o conhecimento material conduzia a uma confiança absoluta centrada numa educação apenas científica, não falando no prazer que era o bem supremo!

A religiosidade com fundo místico, gnóstico ou esotérico foi esquecida. A simbologia, as tradições, os rituais e o sagrado, foram esquecidos na noite dos tempos.

Vamos tentar entender este fenómeno.

Vou começar, tentando explicar as bases da doutrina cristã esotérica: esta diferencia-se especialmente na crença no renascimento e no evolucionismo, por estes constituírem os seus pontos chaves.

O esoterismo é o sentido oculto de uma obra, é o segredo do segredo; é o segredo do que permanece oculto, um segredo que permanece envolvido no segredo. O esotérico é, por fim, o conteúdo escondido de uma doutrina ou de um ensinamento filosófico, cujos conhecimentos não podem ou não devem ser vulgarizados, mas comunicados somente a alguns discípulos. O esoterismo, é a doutrina segundo a qual os conhecimentos não podem ou não deve ser vulgarizados, mas comunicados somente a alguns discípulos.

(aspecto da sala do Bar do Além)

Assim, como as demais vertentes cristãs, considera-se a Bíblia e, especialmente os Evangelhos, como fontes de autoridade dos mistérios de Deus. No entanto, a Bíblia não deverá ser a única fonte considerada como contendo a “Palavra de Deus”, e muito menos quando interpretada literalmente, ou considerá-la mesmo à prova de erros. Existem outras escrituras que não foram incluídas na Bíblia e são amplamente consideradas no pensamento esotérico, entre as quais os evangelhos gnósticos. Estes evangelhos – muitas vezes alegóricos ou simbólicos – tinham como objectivo conduzir o aspirante a um nível mais alto de conhecimento (gnose), ou verdade, no entanto, foram excluídos dos cânones da Igreja católica. Segundo Max Heindel, os textos da Bíblia foram escritos por escolas de mistérios e para candidatos à iniciação, e não para o povo em geral. O que foi escrito é um conjunto de alegorias para representar mistérios ocultos e que dizem respeito unicamente à natureza do homem.

Cristo é considerado, para os esotéricos, como o líder da humanidade e governante do Sistema Solar, sendo omnipresente assim como Deus, desvelando a cada ser humano a centelha divina que existe em cada um (o chamado “Cristo Interno” de que nos fala S. Paulo). Os cristãos esoteristas, advogam que não há inferno ou paraíso, ou, pelo menos que não são eternos. Cada pessoa paga pelos seus actos na exacta proporção. A todos é concedida a oportunidade do renascimento para o aperfeiçoamento do carácter; e assim a salvação será dada a toda a humanidade – alguns em mais tempo, outros em menos tempo. Também não reconhecem “sacerdotes” na hierarquia de então, embora existissem outras designações como “instrutores”, mas estes não ministravam sacramentos. Reconheciam como único sacramento a chamada iniciação, que não ocorre só dentro das escolas, de mestre para discípulo, mas, segundo afirmam os cristãos esoteristas, é um processo de ordem espiritual, no qual o individuo ao ser “iniciado”, por meio de exercícios de ordem espiritual, ministrados nas escolas mistéricas, consegue, com o seu esforço e dedicação, despertar a glândula pineal do estado latente em que se encontra, permitindo-lhe deste modo, um contacto directo com os mundos supra físicos, podendo assim vê-los e senti-los.

Os membros das escolas esotéricas cristãs entendem que todas as religiões são provenientes de Deus; estas religiões foram apresentadas à humanidade conforme as necessidades espirituais e em conformidade com o nível de evolução de cada povo, embora sustentem que o Cristianismo é a religião preparada para os mais avançados da humanidade, na escala de evolução espiritual. Max Heindel afirma que todas as religiões foram dadas à humanidade pelos Anjos do Destino, que conhecem as necessidades espirituais de cada classe, nação e raça e têm a sabedoria de dar a cada uma a forma de adoração adequada à sua necessidade particular. As Escolas de Mistérios de cada religião, fornecem aos membros mais avançados da raça ou da nação que a adopte, um ensinamento mais elevado, o qual, se for vivido, coloca-os numa esfera superior de espiritualidade em relação aos seus irmãos. E vai mais longe quando afirma: “Consideramos a religião cristã como a mais elevada dada ao homem até ao momento presente, e repudiá-la, seja ela exotérica ou esotérica, por qualquer sistema antigo, é o mesmo que preferir livros científicos desactualizados, aos mais novos que encerram descobertas recentes”.

No entanto, para se abarcar o sentido profundo de algumas obras “novas” é indispensável o conhecimento das “velhas”, por estas darem substrato às “novas”.

Do ponto de vista do oculto, a tradição Cristã esotérica tem uma origem remota numa excelsa e devota Ordem que existiu na Palestina, designada por Essénios. Jesus, de acordo com a tradição esotérica, foi um elevado Iniciado educado pelos Essénios, no entanto a Bíblia não faz qualquer menção a esta elevada seita nem associa Jesus aos Essénios. Esta foi uma das três maiores seitas judaicas da época, junto com os Fariseus e Saduceus. Esta Ordem teve um papel importante não só como guardiã de Mistérios antiquíssimos mas também como instrutora iniciática dos primeiros cristãos. Fílon de Alexandria assevera que no Egipto, os essénios eram conhecidos como terapeutas. Mesmo que Jesus não tenha pertencido a esta Ordem, jamais poderia deixar de a conhecer. Interrogo-me se Jesus foi um Essénio como tudo leva a crer, pergunto porque razão este grupo tão influente, não é mencionado na Bíblia? Qual a razão?

Rudolf Steiner tal como Max Heindel consideram que a Ordem dos Essénios foi essencial para a preparação mística e iniciática de Jesus, transmitindo-lhe segredos e conhecimentos por ela zelosamente preservados.

Corinne Heline, discípula de Max Heindel, recorda-nos que as verdades espirituais mais profundas nunca são passadas a escrito, mas sim transmitidas oralmente, de mestre a discípulo, e sempre de acordo com o grau de entendimento que o discípulo está apto a apreender. Qualquer doutrina ou movimento filosófico esotérico transmitia-se, por tradição, oralmente a adeptos qualificados. Como sabemos, as tradições esotéricas exprimem-se, como em todos os textos sagrados, numa linguagem simbólica e fechada que necessita de uma exegese explicativa.

Para além dos incidentes que se deram ao longo dos anos, o grande problema actual aponta-nos para um ensinamento ortodoxo moderno, baseado em textos que foram e se mantêm mal traduzidos, adulterados e manipulados, mas que em todo o caso não conseguiram ter a força suficiente, para modificar o curso da história da humanidade que a mensagem de um doce Nazareno teve a coragem de lançar ao mundo.

Todas as religiões necessitam dirigir-se a diversas classes de homens e a todos os graus de intelecto. Sabemos que existe uma vasta multidão de pessoas simples que seriam incapazes de entender a metafísica ou argumentos filosóficos profundos. Claro que estas pessoas devem receber um ensinamento ético, claro e preciso; ensinamentos que serão a base da sua vida. Em todas as religiões existe este ensinamento simples que é necessário e está de acordo com o estágio em que cada um se encontra.

Desde a antiguidade, cada culto religioso ou filosófico divulgou sempre um ensinamento esotérico e outro exotérico. Na antiga Grécia, nas solenidades Eleusinias, os mistérios da sua religião compunham-se de “Mistérios Maiores” (secretos) e “Mistérios Menores” (públicos). No Budismo do Norte, também existem os “Veículos Maiores” e os “Menores”, conhecidos por Mahayana (esotérico) e Hinayana (exotérico), formando duas escolas distintas - não menciono os outros dois veículos que fazem parte dos seus ensinamentos, por achar desnecessário para o fim que estamos a tratar.

Sobre este assunto diz-nos Annie Besant o seguinte: “Resta-nos provar se o Cristianismo está excluído deste círculo das religiões: se ele é o único privado da gnose, se não oferece ao mundo senão uma fé elementar e não uma ciência profunda. Se assim fosse, o facto seria triste e lamentável, porque indicaria que o Cristianismo não foi feito senão para uma classe e não para todas as categorias humanas”.

Há pessoas que precisam da Filosofia e da Metafísica, que é proporcionada por qualquer religião ou escola filosófica, porque cada ser humano precisa de saber de onde veio e para onde vai, como este Universo começou e qual o seu objectivo.

A partir do século II a Igreja Cristã rejeitou a Gnose, por que os grandes doutores gnósticos da época ensinavam a gnose sob a forma de mitos que continham uma faceta mais esotérica, a cujo entendimento, só um aprendiz sincero podia aspirar. Encontramos uma Gnose semelhante, transmitida em linguagem mais velada nos textos de São João e São Paulo e em diversos escritos de padres da Igreja, em particular em Clemente de Alexandria e Orígenes.

Ora,“Gnosis” não é conhecimento sobre alguma coisa, mas “comunhão, conhecimento de”. Este é o grande objectivo, “conhecer Deus”, a Realidade em nós, não é a crença, a fé ou o simples conhecimento que importa. O fundamental é a comunhão interior, o religar da Mente individual com a Mente Universal, a capacidade do homem “transcender os limites da dualidade que faz dele homem e tornar-se uma consciência divina”. O Gnosticismo significa “a crença na Salvação pelo Conhecimento”. Significa a habilidade para receber e compreender a “revelação”. O verdadeiro gnóstico é aquele que conhece a revelação interior e oculta desvelada e que também compreende a revelação exterior ou pública velada. É alguém a quem as manifestações do mundo interior, são mostradas e tornam-se inteligíveis.

Ingressar no caminho da gnosis é como um despertar do sono e da ignorância de Deus, da embriaguês do mundo para a temperança virtuosa. “Pois o mal “ilusão” do não conhecimento, está inundando toda a terra e trazendo total ruína à alma aprisionada dentro do corpo, impedindo-a de caminhar para os portos da salvação”.

Continuando na Gnose velada a que me referi nos textos de S. João e de S. Paulo, ainda hoje a Igreja de Roma não os desvela completamente, ou não lhes dá a importância que eles contêm. Por norma, fazem uma interpretação destes textos de uma forma literal, esquecendo a interpretação mística e cósmica. (Ev. João e o Apocalipse, textos altamente esotéricos).

Os ensinamentos ocultos Cristãos referem que a maior fonte viva da tradição Cristã esotérica, no decorrer do desenvolvimento da civilização ocidental, teve início no sec. XIV com a constituição de uma irmandade secreta de homens santos, designada por Ordem Rosacruz. Esta ordem, abriu a Iniciação aos Mistérios naquele tempo e nos séculos que se seguiram, aos indivíduos com maior preparação e mérito, qualidades alcançadas por esforço dos próprios. Por essa época, começa também a idade da Alquimia, expressando o conhecimento oculto através de escritos herméticos, para evitar a perseguição e o mau uso dos ensinamentos sagrados por parte do homem.

Em 1614 deu-se a primeira manifestação pública da chamada Ordem Rosacruz, num manifesto intitulado Fama Fraternitatis que passou a ser um veículo extraordinário para desenvolver o esoterismo. Este movimento esotérico, a Profª Frances Yates refere-o como “Iluminismo Rosa-Cruz”. Diz esta autora, que o Iluminismo Rosacruz permite compreender de uma forma abrangente, três importantes capítulos da história; as crenças religiosas, a filosofia moderna e os progressos da ciência.

Este movimento aponta para que o ensino esotérico possa ser restabelecido, a fim de atrair estudantes pacientes e sérios, de forma a recuperar a verdadeira essência do conhecimento cristão.

A Igreja Católica de momento, tendo perdido o ensinamento místico e esotérico, vê escapar um grande número dos seus membros mais exigentes ou talvez apenas mais preocupados em encontrar a verdadeira Mensagem de Cristo Jesus.

Recordando as aulas de Esoterismo Bíblico dadas pelo meu estimado prof. António de Macedo, vou realçar um dos temas que nos foi transmitido relacionado com o esoterismo, e penso que nunca é demais repetir o que já aqui foi dito.

Na Antiguidade, a transmissão oral tinha um duplo significado: Primeiro, porque era uma sociedade com uma grande percentagem de analfabetos ( no Império Romano só 10% a 15% dos adultos é que sabiam ler e escrever), o conhecimento era dado oralmente e individualmente, mesmo nos meios em que o analfabetismo fosse escasso; segundo, porque desde eras remotas a transmissão oral era associada ao esoterismo e às tradições iniciáticas em que era necessário preservar o “segredo”. Nestas escolas esotéricas, era rigorosamente proibido passar a escrito um certo número de “verdades”. Só na segunda metade do século primeiro, é que as Escolas de Mistérios Cristãos sentiram a necessidade de fixar por escrito um certo conjunto de alegorizações ritualistas, tomando como base “os actos e os ditos” de Jesus – a chamada “literatura evangélica” que surgiu por essa altura. Daí o facto de Max Heindel e Rudolf Steiner referirem que os quatro evangelhos canónicos, são rituais de iniciação de quatro diferentes Escolas de Mistérios.

(todos muito interessados)

Até bastante tarde respeitou-se o conhecimento de que o Ensinamento de Jesus era destinado à transmissão oral, o que é característico de uma Escola Iniciática.

Diz o Padre Carreira das Neves numa entrevista ao Expresso que “os profetas falaram, mas não escreveram. O mesmo se passou com os Evangelhos, que antes de serem fixados em livro, foram apenas palavras de Jesus, que também não escreveu nem mandou escrever”.(Expresso 15/10/2005).

Nos ensinamentos de Jesus, tal como noutras escolas iniciáticas, existiam duas vertentes sobre a mesma verdade, ou melhor dizendo, uma verdade continha dois níveis; um profundo, apenas reservado ao conhecimento e à transmissão dos “mestres da verdade” aos discípulos próximos, e um outro mais aberto e divulgável, que podia ser passado a escrito e transmitido mais abertamente. Temos como exemplo o Sermão da Montanha ou mais correcto o Sermão da Planície, proclamado ao público em geral e o Sermão da Ceia reservado apenas aos doze apóstolos por este ser altamente esotérico.

A tradição oral era uma prática muito enraizada, e isto ocorria não só nas Escolas sacerdotais mas também, e sobretudo, nas Escolas mistéricas: a transmissão de boca a ouvido, ou de mestre a discípulo, era a regra; em certos casos era mesmo rigorosamente vedada qualquer passagem a escrito dos ensinamentos que o Mestre proferia.

Se nos debruçarmos nos textos da Bíblia no N.T., podemos concluir que certos ensinamentos foram deliberadamente mantidos em segredo por Jesus e seus apóstolos, pois, como sabemos, eles realmente continham uma doutrina secreta e pretendiam mantê-la assim.

Quem sabe, lê claramente. Para quem não sabe, o segredo é real. Quem não sabe, detecta a presença do código, mas depois falta-lhe a “chave” para descodificar a mensagem. A forma clássica de passar mensagens secretas, a mais clássica no esoterismo, é o símbolo. Pode-se argumentar que o dicionário dos símbolos descodifica o seu significado, no entanto, o símbolo é polivalente e ambivalente. Por isso, perante um texto simbólico, para quem possui a “chave” deixa de ser segredo e a mensagem tal como uma flor, desabrocha em todo o seu esplendor. Para quem não tem a “chave”, apenas detecta a presença do símbolo.

O Evangelho de Marcos, o mais antigo dos sinópticos, está escrito, de uma maneira subtil, revelando, por exemplo, que a parábola do semeador foi concebida, não para revelar, mas para ocultar o verdadeiro significado da mensagem. Como podemos verificar, mais tarde, Jesus teve que explicar a parábola a seus discípulos:

“Quando Jesus se achou só, os que estavam junto dele com os apóstolos interrogaram-no acerca da parábola.

E Ele disse-lhes: A vós é dado saber os mistérios do reino de Deus, mas aos que estão de fora todas estas coisas se dizem por parábolas. Para que, vendo, vejam, e não percebam; e, ouvindo, ouçam, e não entendam; para que se não convertam, e lhes sejam perdoados os pecados”Mc-4-10,11.

Outro versículo do Evangelho de Marcos esclarece a doutrina secreta de Jesus: “… e sem parábolas nunca lhes falava; porém tudo declarava em particular aos seus discípulos”.Mc. 4-34.

Reparemos que Jesus exerceu na maioria das vezes o seu ministério secretamente, factos que os evangelhos descrevem, mas não esclarecem. Muitas vezes antes de realizar uma cura, Ele falava com a pessoa à parte, confidencialmente, ou, se ia para onde o paciente estava, mandava todos saírem do aposento e entrava acompanhado dos discípulos mais próximos. Depois de realizar os milagres, Ele ordenava à pessoa envolvida que nada comentasse. Se Marcos excluiu do seu evangelho canónico o episódio de Lázaro, possivelmente com o objectivo de não relatar factos confidenciais, pergunto-me, que mais ele ou os outros evangelistas, omitiram?

Como Marcos escreve no seu Evangelho, Jesus falou por meio de parábolas de acordo com o discernimento dos ouvintes, e recebiam a palavra “segundo o que podiam compreender”. O Evangelho de Marcos considerado o mais antigo, contém, versículo por versículo, a menor quantidade de ensinamentos secretos. No seu evangelho, repete várias vezes, que o Senhor explicava tudo aos discípulos quando se achavam a sós.

Também Paulo, da mesma maneira, fala de verdades veladas reservadas aos “perfeitos”, ou “maduros”, ou seja, àqueles que foram iniciados nos mistérios mais profundos da doutrina de Jesus. Diz a este respeito: “E sei que esse homem -ignoro se no corpo ou fora do corpo, Deus o sabe! – foi arrebatado até ao paraíso e ouviu palavras inefáveis que não é permitido a um homem repetir”(2ª Cor.12-3).

No entanto, as verdades a que se refere, não se encontram desveladas, em parte alguma nas suas Epístolas. Paulo, claramente domina um conhecimento esotérico que não é ensinado a todos. “ Considerem-nos, pois, servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus”. 1Cor. 4,1.

No século III, Orígenes afirmou que Jesus nosso Mestre nada deixou escrito. No Evangelho da Verdade, atribuído a Valentim, fala da transmissão da Verdade de Mestre a Discípulo, palavra falada e não a textos que não deviam ser vulgarizados, mas transmitidos somente a alguns discípulos.

Se o ensino esotérico vier a ser restabelecido nos próximos tempos, vai com certeza atrair estudantes pacientes e sérios e o ensino oculto também será, em breve, recuperado.

Após a Igreja Católica ter abandonado o ensinamento místico e esotérico, foi perdendo os seus paroquianos por não ter sabido acompanhar o desenvolvimento daqueles mais exigentes e ávidos de conhecimento, como acontece noutras religiões ou escolas de mistérios e, é de referir, que casualmente ou não, este facto, coincidiu com o aparecimento de certos ensinamentos e escolas místicas e também com todos os meios de comunicação e de opinião que passaram a estar ao alcance de todos.

Diz António de Macedo num dos seus livros, depois de fazer uma apreciação a um livro de Leonardo Coimbra, em que este advoga uma interacção entre o Homem e o Cosmos, o meu estimado professor diz: “Neste idealismo teognósico, quer queiramos quer não, Deus, apesar de “omni-inclusivo”, vai-se “enriquecendo” com a dinâmica cósmica que Ele mesmo, na Sua perfeição, estabeleceu para a final convergência Deus-Homem-Deus: “Sereis pois perfeitos, como o vosso Pai celestial é perfeito” (Mateus 5,48) e mais à frente continua “ A ideia de “um Deus que evolui” é uma ideia comum a diversas correntes esotéricas, ao mesmo tempo que se adapta perfeitamente à ideia de um Deus pedagogo, que vai exercendo “catequese” nos sucessivos estágios históricos da evolução humana, revelando os mistérios que o ser humano vai sendo capaz de os apreender”. (O Neoprofetismo e a Nova Gnose, pag. 19)

Não posso deixar de fazer um comentário a este texto tão interessante. No conceito Rosacruz dos Cosmos de Max Heindel, este escreve que Cristo é o Iniciado mais elevado, possuindo os sete veículos desde o Mundo do Espírito de Vida até ao Mundo de Deus e escolheu Jesus, um alto iniciado, para obter mais cinco veículos para a Sua manifestação física (começando com o corpo Físico até à região do Pensamento Concreto), completando desta forma os doze veículos, o que permitiu o contacto directo de Cristo Jesus com a humanidade. Já Jeová o Espírito Santo, apenas possuiu sete veículos, começando na Região do Pensamento Abstracto indo até ao princípio do Mundo de Deus. Esta exposição de Max Heindel vem corroborar o que o António de Macedo escreve. Ou seja, a ideia altamente esotérica de que um Deus evolui, é pedagogo, que vai exercendo catequese e enriquecendo-se, acompanhando a evolução humana, desvelando os mistérios só àqueles que estão preparados para o receberem, é uma conclusão que faz todo o sentido, na medida que o Universo está sempre em movimento, toda a matéria ou energia vai-se renovando, está numa constante evolução e renovação. Cristo revestiu-se da humanidade de Jesus para ajudar a evolução humana, para ficar próximo dos seus filhos, do Seu rebanho, para exercer a tal “catequese” através dos Seus ensinamentos e parábolas. “Eu Sou o Bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas”(Jo 10-11)


(o detalhe do mapa da árvore dos descendentes de Abraão)

Theodotus, doutrinador gnóstico do século II D.C., num dos seus escritos preservados por Clemente de Alexandria, diz o seguinte: “O Salvador ensinou os apóstolos, primeiro em figuras e mistérios; depois, em parábolas e enigmas, finalmente e em terceiro lugar, de uma maneira clara e directa, quando estavam sós”. É interessante perceber nesta frase que para chegar à gnose (conhecimento e sabedoria), os próprios discípulos passaram por estes estágios.

Continuando a desenvolver este tema, vou transcrever um trecho muito instrutivo de S. Clemente, Mestre de Orígenes, ambos testemunhas importantes que afirmam a existência na Igreja Primitiva, dos verdadeiros Mistérios: “O Senhor permitiu comunicarmos estes Mistérios divinos e esta santa luz aos capazes de os receber. Certamente Ele não revelou à massa o que não pertence à massa. Mas revelou os Mistérios a uma minoria capaz de os receber e concordar com eles. As coisas secretas confiam-se oralmente e nunca por escrito, e o mesmo se faz com Deus. E se me vierem dizer: “Não há nada de secreto que não deva ser revelado, nem nada oculto que não deva ser desvendado”, eu responderei, que àquele que escuta em segredo as coisas secretas, estas mesmas lhe serão manifestadas. (…) Ao homem capaz de observar secretamente o que lhe é confiado, o que está velado lhe será mostrado como verdade; o que é oculto à multidão, será manifestado à minoria. Os Mistérios são divulgados sob uma forma mística afim de que a transmissão oral seja possível; mas esta transmissão será feita menos por palavras do que pelo seu sentido oculto. E continua: “Não temos a pretensão de explicar suficientemente as coisas secretas, mas unicamente recordá-las para que algumas não nos escapem, ou para não perdê-las de todo”.

Este texto bastaria para provar a existência na Igreja primitiva, de um ensinamento secreto. No seu livro, “Os Mistérios da Fé Que Não Devem Ser Comunicados a Todos” Clemente declara que “é necessário lançar o véu do Mistério sobre os ensinos orais dados pelo Filho de Deus, porque seu trabalho poderia cair sob os olhos de pessoas destituídas de sabedoria”.

Orígenes era de opinião e declarava que, se certas doutrinas eram secretas, muitas outras eram públicas; e que este sistema de ensinos exotérico e esotérico, adoptado pelos cristãos, era usado igualmente pelos filósofos.

Os filósofos, como Platão, Aristóteles, Sócrates e Pitágoras já detinham ensinamentos exotéricos e ensinamentos esotéricos. Os filósofos instituíram os Mistérios porque “Não era preferível, para a santa e bem-aventurada contemplação das coisas reais, que ela fosse oculta?” Pitágoras, tal como Sócrates, não deixaram nada escrito e já no tempo de Aristóteles o conhecimento que tínhamos dele era mais lendário do que histórico. Consta, que este fundou uma Irmandade sujeita ao segredo, onde se ensinava a Philo-Sophia para realizar uma purificação espiritual a fim de que a alma humana fizesse a união com o divino (casamento místico?) com técnicas especiais, onde estavam implícitos os princípios matemáticos e os símbolos místicos.

Num texto de Orígenes este diz que Pitágoras ensinava secretamente doutrinas que não deviam chegar aos ouvidos profanos e não purificados.

Os apóstolos também aprovaram que os “mistérios da Fé fossem velados”, porque existiam “ensinos para os perfeitos”. (Col.1,9-11 e 25-27).

S. Clemente depois de ter dissertado longamente sobre certos escritores gregos e ter revisto a filosofia, declara que a gnose “comunicada e revelada pelo Filho de Deus é a Sabedoria… Ora a gnose é um depósito que chegou a alguns homens por transmissão: ela tinha sido comunicada oralmente pelos apóstolos”. Num outro texto, Clemente fala para Teodoro dizendo-lhe que Marcos “não divulgou as coisas que não deveriam ser reveladas, nem escreveu os ensinamentos Hierofânticos do Mestre”.

Max Heindel diz que a humanidade está a movimentar-se, lentamente, na direcção certa, conduzida pelas diferentes religiões, mas existe uma classe sempre crescente que sente as asas do corpo-alma brotarem, pessoas que têm uma necessidade interna de alcançar o Reino de Deus. Embora alheias a qualquer ideal definido, sentem uma verdade maior e uma luz mais evidente do que aquela que a Igreja irradia; estão cansadas de parábolas e anseiam por aprender os factos essenciais aos pés de Cristo.

A Fraternidade Rosacruz, começou com o propósito de chegar a essa classe de pessoas, mostrando-lhes o caminho da iluminação, ajudando-as a construir o seu corpo-alma e a desenvolver os poderes anímicos que lhes permitirão entrar conscientemente no Reino de Deus e a obter o conhecimento/gnose directo. Mas adverte, que, mesmo sob as mais favoráveis condições existentes, o progresso para obter o conhecimento deve ser lento. No entanto, se o aspirante for perseverante em fazer o bem, isso pode ser realizado.

Passando a outro grande escritor e notável clarividente, Leadbeater, Bispo da Igreja Católica Liberal, num dos seus livros, faz uma longa exposição sobre o tema do ocultismo. Faço aqui uma chamada de atenção para a distinção entre o ocultismo e o místico: o ocultista é o que pesquisa as forças misteriosas ou ocultas da Natureza, fazendo apelo ao intelecto; o místico é aquele que busca o conhecimento divino através da fé e do coração; ambos procuram o “tesouro da sabedoria e do conhecimento” e como diz S. Paulo: A fim de conhecerem o mistério de Deus, isto é Cristo, no qual estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento”. A sabedoria e o conhecimento dão-nos o entendimento do que é a verdadeira Gnose.

Leadbeater advoga que existe um grande equívoco quando acusam os ocultistas de velar o conhecimento a toda a criatura, a fim de que ele próprio possa ser o único detentor da sua posse. Ele concorda que o conhecimento adquirido por alguns estudantes dedicados, às vezes, não é desvelado ao público em geral, por este não estar ainda preparado para adquirir o conhecimento. Já S. Paulo dizia “ Quanto a mim, irmãos, não pude falar-vos como a simples homens espirituais, mas como homens carnais, como criancinhas em Cristo. Foi leite que vos dei a beber e não alimento sólido, que ainda não podíeis suportar”(1 Cor-III-1,2).

(esclarecimentos em pleno ágape após a intervenção inicial)

Muitas pessoas são de opinião de que não devia haver segredo, mas que tudo pudesse ser revelado ou descoberto e ser colocado à disposição da humanidade, como acontece com a Ciência. No Ocultismo, como em outras ciências, “conhecimento é poder” e não é aconselhável colocar poder nas mãos de um homem até que haja alguma garantia de que ele será empregado bem e de modo altruísta. Sabemos que certas partículas ínfimas do conhecimento passaram a ser do conhecimento público e já constatamos como o mundo está longe de ser digno de tão pequena dádiva. ( ex: Reiki, Astrologia, Tarot etc)

Todos sabemos que o conhecimento pode ser adquirido por todo o estudante sério que se aplica ao estudo e auto desenvolvimento, que tenha condições sólidas para percorrer a Senda do Conhecimento. Este é um trabalho longo e requer muita disciplina e paciência. No meu modesto entender, só depois de ter percorrido um caminho virtuosamente exotérico é que se estará em condições de se candidatar ao esotérico, porque já se adquiriu a consciência e discernimento como usar o Conhecimento. (“ A sabedoria não entrará numa alma maligna nem habitará num homem sujeito ao pecado” Sabedoria I,4 )

As verdades ocultas vão a pouco e pouco sendo conhecidas, como já foram em tempos passados. Faz parte do plano Cósmico que elas sejam conhecidas, porém, não prematuramente, com receio de que o prejuízo causado seja maior e de que sejam poucos os que poderiam ser poupados do mal que daí viesse.

(A mesa da oradora)
Conclusão

Para concluir, pressupõe-se que o verdadeiro Cristianismo Esotérico não foi ainda revelado porque a humanidade ainda não ultrapassou o estado materialista em que se encontra, embora tenha sido revelado secretamente ao longo dos anos a alguns, porém, por ordem do próprio Cristo, não tem sido revelado publicamente pelas razões atrás apresentadas. (Mt. XVII-9).

Cristo só escolheu alguns apóstolos a quem passou “ensinamentos secretos” (Mt XIII,11-13), os quais vivenciaram situações extraordinárias como a da Transfiguração (Lc, IX 28,36) que termina assim: “Os discípulos guardaram silêncio e, naqueles dias, nada contaram a ninguém do que tinham visto”. Ele que era o Mestre dos mestres, sabia que nem todos estavam preparados para receber e entender certos mistérios, por isso só escolheu aqueles que sabia terem preparação para serem confrontados com situações tão sublimes.

Para concluir não resisto em transmitir o texto de abertura de “A Doutrina Secreta dos Rosacruzes” que reza assim: “Não tentes estudar a mais elevada de todas as ciências se de antemão não decidiste enveredar pela senda da virtude; os incapazes de sentir a verdade não entenderão as minhas palavras. Só os que ingressam no reino de Deus compreenderão os mistérios divinos, e só apreenderão a sabedoria à medida da capacidade que tiverem para receber, nos seus corações, a divina luz da verdade. Para aqueles cuja vida consiste no mero exercício do intelecto, os divinos mistérios da Natureza não serão compreensíveis, porque as palavras que projectam a Luz não são ouvidas pelas suas almas. Somente aquele que se renuncia a si mesmo pode conhecer a verdade, porque só é possível compreender a verdade na região do bem absoluto. Tudo o que existe é fruto da actividade do Espírito.

E mais adiante acrescenta: O intelecto só por si não conduz à sabedoria. O Espírito tudo conhece, porém nenhum homem conhece o Espírito. A inteligência humana só pode compreender as verdades espirituais quando a sua consciência entra no Reino da Luz espiritual. Por fim lança a esperança: Se o fogo interno é cultivado e alimentado, destrói os elementos grosseiros, atrai outros mais etéricos, faz o homem cada vez mais espiritual e concede-lhe poderes divinos”.

Depois do exposto e sobre o qual tenho vindo a reflectir bastante, continuo com as mesmas dúvidas: Será que o conhecimento é para todos?

Assim termino esta apresentação, pedindo desculpa a todos os presentes do meu pouco saber e da minha ignorância, agradecendo a todos a paciência em me terem escutado.

(Depois do almoço debate  a mesa redonda informal com João Fernandes)

 

Tuesday, October 12, 2010

Isabel Girão vai animar a Tertúlia de 23 de Outubro com o tema: Esoterismo e Cristãos




Resumo do Livro de Isabel Girão
Reflexões de uma Cristã a partir d’O Código Da Vinci


Textos gnósticos e históricos, a figura de Maria, Mãe de Jesus, e de Maria Madalena, os Templários, os Cátaros, a Última Ceia, o casamento de Jesus e a Sua descendência, a interpretação d ‘O Código Da Vinci são caminhos trilhados por uma alma sincera, incansável buscadora da verdade. Na sua análise, porém, a autora não é dogmática: deixa ao arbítrio do leitor a escolha das suas próprias respostas, ante os elementos de reflexão criteriosamente apresentados neste livro.