Thursday, March 23, 2006

Heraldica Sagrada por Joao Fernandes (membro da Tertúlia)

HERÁLDICA SAGRADA
Palestra do Coronel João Fernandes,
Membro da Academia Lusitana de Heráldica,
Proferida no Bar do Além, em Alenquer, em 15/12/2001


HERÁLDICA SAGRADA

Caldeus,Assírios,Egipcios,Gregos,Romanos,Celtas,Vickings,Muçulmanos, Germanos,Visigodos,Suevos,Ordens Monástico-Militares e tantos outros povos da Antiguidade, da Ásia e das Américas, quer em jogos de guerra ou lutas, cenarizavam os seus Exércitos com uma panóplia de símbolos e vestes que pretendiam potenciar o armamento usado, certificando-se ainda, por oráculos e pinturas na pele, que os Deuses ou Divindade caminhavam com eles e os protegiam.
Estandartes, escudos, lanças, espadas, diversas armas de arremesso e tudo o que servia na luta corpo-a-corpo, passou, gradualmente, com a indumentária guerreira, a traduzir uma simbologia em 3 vertentes principais, ordenando-se, ao mesmo tempo, as hordas em Exércitos.
Assim:
Invocar e evocar o símbolo das Divindades em luta.
Criar um cenário de terror no adversário, elevando, em contrário, o Moral das hostes.
· Adaptar a simbologia a um posicionamento e movimentação sinalética, ordenando o tipo de armas, mecanizando-se a manobra e transmitindo-se ordens pelo movimentar dos símbolos, irrelevando-se assim o analfabetismo das tropas ou a linguagem dos estrangeiros a soldo.
Nesta fase ancestral ou ainda recente em muitas tribos, tempos de semideuses ou heróis da guerra, onde as muralhas ou os lugares eram guardados por figuras dos deuses ou animais mitológicos, selvagens ou horrendos, quais gárgulas das igrejas cristãs ou dos templos antigos, começou-se, progressivamente, a associar símbolos, armas e animais, a virtudes e feitos. Perpetuava-se na pedra, nas pinturas e na escrita as vitórias das diferentes civilizações, onde as mais desenvolvidas materializavam a sua mito-história e os feitos de guerra em Arcos de Triunfo, nos túmulos dos reis, chefes e heróis, podendo mesmo ocorrer cemitérios vivos de representação, pela pedra, pela cerâmica ou com os próprios actores humanos na crença do imortal, como acontece ainda em algumas seitas ou na razão de se matar a mulher quando morre o marido, ainda em recente memória.
Todo o positivo de implantação e conquista territorial dos povos, alicerçado no sobrenatural e no divino, com Hércules ou Jasão, Péricles ou Alexandre, Ramsés II ou Moisés, Júlio César ou Carlos Magno, Viriato ou
Afonso Henriques, passou a arquétipo dos povos, dos seus heróis e lugares


(raiz do Deus Lug), com uma sedentarização cada vez mais acentuada, por motivos de defesa, comércio e expansão.
Hoje associamos mais a génese da heráldica aos tempos da Idade Média, dizendo-se que os primeiros Brasões de Armas foram do Rei Eduardo, o Confessor (reinado 1042-1066), fundador da Abadia de Westminster, um Escudo de Cruz floreada com cinco Pássaros, ou o criado por Henrique de Inglaterra, Duque da Normandia, para ser imposto a seu genro Geoffroy, filho do Conde de Anjou, em 1128, em dia de Pentecostes, o Escudo “lionceaux d´or”, ano do Concílio de Troyes, onde foi instituída a Regra Templária, baseada na Regra de Santo Agostinho.
Em minha opinião prefiro dizer que um dos primeiros Escudos da Europa é o do Conde D. Henrique, de prata e Cruz azul, de raiz sagrada, inspirado na Ordem do Templo, tanto mais que o encontramos igual nas Armas de Marselha, região primeira dos Templários e do Primeiro Cartulário desta Ordem, porto lendário e mitológico de chegadas de figuras sagradas do Novo Testamento. Talvez também pelo arquétipo da Terra Santa, graças à Cavalaria Teutónica, HERÁLDICA, tem origem na palavra germânica HARIWALT, com a sua correspondente franca HÉRAULT ou HÉRAUT, significando mensageiro ou criador. Assim HERÁLDICA é uma mensagem criada com o fogo de um arquétipo que irá sedimentar as tradições e as genealogias de pessoas, lugares ou grupos. Brasão é essa brasa de fogo que fará arder o seu criador ou o grupo criado, caso se desvirtue a sua mensagem.
Surge assim uma ciência de regras simples, decorada com arte, primeiro sagrada, depois profanizada, para perpetuar os actores das guerras, ora senhores feudais, reis e demais nobreza, clero e ordens monástico-militares, bem como as tradições dos lugares, castelos e lutas, avocando-se, de per si, uma representação figurada das suas origens, depressa transformada como ARQUÉTIPO nas descendências, reinos e organizações. Toda esta representação toma a forma de um Brasão de Armas, onde o Escudo e o Timbre são os dois principais elementos a traçar, nos quais é insuflado o Fogo do Arquétipo, deles emanando uma mensagem a perpetuar, complementada e explicitada numa Divisa.
Com as Escolas Iniciáticas da Antiguidade e os saberes metamorfoseados dos Colégios Romanos, Sufis, Celtas, Nórdicos e das Ordens Religiosas, a construção- base da heráldica obedece a duas regras principais de raiz cósmica e celestial, cujos princípios já estavam expressos há muitos séculos no próximo e extremo Oriente. A primeira é a associação ao septenário da Criação. A segunda é a divisão no quaternário material do Mundo, após a queda lendária do Ser Humano e dos Anjos. Assim pela primeira regra surge um ternário associativo de SETE cores, com o binómio planeta-ciclo zodiacal:
v MERCÚRIO---SAGITÁRIO---PÚRPURA
v VÉNUS-----------GÉMEOS------ VERDE
v MARTE---------CARNEIRO----VERMELHO
v JÚPITER--------TOURO----------AZUL
v SATURNO---CAPRICÓRNIO-NEGRO
v SOL---------------LEÃO-------------AMARELO
v LUA------------CARANGUEJO--BRANCO
Sendo o Sol e a Lua, com o seu amarelo e branco, o símbolo alquímico do ouro e da prata, por isso não tomando a designação de cores mas sim de metais.
Com a grande influência das Ordens emergentes de Jerusalém ( Templo, Santo Sepulcro, Malta, Sant´Iago da Espada e Teutónica ), foi desenvolvido o octógono das cores-metais, acrescentando-se o laranja do espectro solar ou arco-íris, em nada se alterando a geometria sagrada da construção, hoje cada vez mais ausente, mas que ainda se vê no Grande Tenente de sustentação dos 72 Brasões de Armas das Famílias de Portugal Manuelino, no Paço de Sintra, o mesmo número das escadas de Jacob, numa sala de 14mx13m, um mesmo octógono que circunda o Brasão de Armas do Papa Leão X, uma das raras representações papais da Árvore da Vida.
Pretendeu-se atingir a mística Estrela de 8 Pontas, já representada nos Mistérios de Ísis, conferindo aos Brasões um fecho octogonal simbólico, semelhante aos das Catedrais, dando também à heráldica uma plenitude mística comparada aos chakras do corpo humano, cabendo ao Sol e à Lua o papel de cimentar as cores na soldadura de Vulcano, o Espírito Santo Crístico, onde, por isso, não é permitido fundir o ouro e a prata, o LEÃO de FOGO e o CARANGUEJO da ÁGUA, sob pena de Saturno devorar o Brasão, como o fará se as cores forem sobrepostas sem metal, contrariando a lei da decomposição da luz no prisma de Cristal.
A segunda regra, de base quaternária, dando origem ao ESQUARTELADO do Escudo, segue a divisão do Paraíso Celeste narrado por quase todas as religiões, personifica os 4 Reinos deste Mundo e segue a compartimentação do coração humano, com duas aurículas e dois ventrículos, achando-se no seu centro superior o ponto sagrado do Escudo, onde se enrola toda a energia do Brasão, como no Báculo do Bispo, mas também onde ela se pode perder, designando-o também a linguagem heráldica como “ponto do abismo”, como se o seu detentor activasse a energia de todos os seus vórtices, descontroladamente, levando-o à loucura e à demência, como sucedeu a tantos Reis e Rainhas, como no caso de D. Maria I. Esta regra depressa foi violada na sua singeleza divisória, obrigando a novas subdivisões interiores do Escudo, mas por cautela do nefasto não se violou a adição teosófica de 4=10, ou seja 4+3+2+1, a base decimal ou do dízimo sagrado. As razões principais deste ritmo expansivo foram:
q Alargamento de posses de terras, com os seus arquétipos e títulos
q Figuração de uniões por casamentos, filiações e origens de linhagens
q Materialização dos princípios heráldicos, contrários à espiritualidade do seu traçado, cada vez mais falantes e abarrocados que evocativos e simbólicos do saber iniciático
Como em qualquer construção harmónica, de origem divina ou sacra, é essencial um trinitário de base.
Um Brasão de Armas assenta no ESCUDO-ELMO-TIMBRE, as peças fundamentais de uma mensagem a perpetuar ou de uma missão a cumprir. Como no guerreiro, se o escudo e o elmo faziam parte da sua protecção, o timbre conferia-lhe ilusão de altura, terror, força ou misticismo, como nos cornos dos Vickings ou nas plumagens cavaleirescas, nas cabeças de animais ferozes ou dos símbolos imperiais. Assim o Timbre heráldico é algo que não deve emergir do Escudo, mas sim do Mundo Astral, ainda que personificado ou emblematicamente desenhado numa figura, convencional ou não, desse mesmo Mundo manifestado, através dos reinos da Natureza ou da mitologia. Para que não houvessem dúvidas na mensagem do Brasão de Armas dava-se uma DIVISA que queria traduzir o seu FOGO. Se este FOGO também emanasse do Mundo Astral, ou dele se invocasse protecção, então encimava-se-lhe uma outra, como figura no Brasão de Armas do Exército de Portugal: POR SÃO JORGE. Então podemos dizer que DIVISA-ESCUDO-ELMO-TIMBRE é o quaternário harmónico do FOGO-MENSAGEM que deve assentar nos Valores da Ética e da Moral, emergentes das lendas, mitos, tradições, feitos, missões e objectivos, quer individuais quer colectivos, dando assim origem a diferentes classificações, por áreas, do estudo da ciência heráldica, v.g. militar, religiosa, genealógica, mas que a poderíamos dividir em duas grandes áreas, no objectivo desta abordagem: SAGRADA e PROFANA.
A dualidade atrás exposta não é, no real, tão simples assim. Excluindo a mais barroca, sem mensagem, ou a mais falante, sem arquétipo, as sementes da construção do traçado, sobretudo no escudo, existem nas duas. No entanto, o olho nu, distinguimos um traçado de geometria sagrada e uma construção meramente assente nas regras heráldicas, quantas vezes vazia de FOGO-MENSAGEM, talvez mesmo escolhida pela beleza, assistindo-se hoje a verdadeiros crimes de traçado face ao que se quer expressar. De início, a difusão da Cruz , da Flor-de-Lys, da Águia, do Leão, do Leopardo e animais mitológicos foi dominante. Depressa se alargou a outros símbolos, tais como animais, vegetais, minerais e inertes, partes do corpo humano, instrumentos diversos ou mesmo simbologias de organizações iniciáticas, umas mais explícitas que outras. Vejamos exemplos:
Ø Lobo, urso, cavalo, veado, galgo, touro, vaca, javali, gazela ou cervo, cabra, esquilo, carneiro, falcão, íbis, galo, truta, serpente, “golfinho”, peixes e conchas
Ø Rosa, oliveira, sobreiro, videira, trigo, cacto e diversos troncos, folhas, palmas e glandes
Ø Montanhas, rochas, corais, diamantes e objectos diversos como harpas, âncoras, chaves, arcos-de-tiro, espadas, adagas, achas-de-armas, martelos, esquadros, rodas, castelos, torres, ameias, palácios, navios e barcas
Ø Mãos, corações, cabeças, braços armados ou não, cálices, sóis, luas, hóstias, cometas, estrelas, colunas dóricas, jónicas ou corínticas e toda uma estilização falante para não se invadir a heráldica com uma arte naífe.



Com toda esta vasta simbologia, muitas vezes mais directa e falante que representativa e arquitepal, é essencial uma rígida padronização centralizada, cuidadosamente aconselhada e corrigida, antes cometida a sábios REIS-DE-ARMAS, antepassados de Sacerdotes ou Iniciados nos Mistérios Maiores, integrantes das Ordens Monástico-Militares, depois também assistindo os Reis( em Portugal iniciado com D. Manuel I, antes nas Ordens Portuguesas ), mas, progressivamente, caminhando-se para a separação do sagrado e do religioso, com raras excepções nos nossos tempos, onde a decisão por vezes reside no vistoso e por quem não detém saberes ancestrais, passando tais factos mesmo em eclésias ditas iniciáticas ou religiosas, plagiando-se ou juntando-se, a esmo, símbolos sem integração no Arquétipo invocado ou na Divisa lavrada.
Se o Leão, o mais difundido a seguir à Cruz, conjuntamente com a Águia, representa a coragem e a magnanimidade, nalgumas mensagens ele é o Leão de Judá, o Leão de S. Marcos, o Leão de Hércules, o Leão Alado que guardava os Templos da Ásia, de que são exemplos as Armas dos Papas: São Pio X, João XXIII e João Paulo I. No campo mitológico o Dragão é outro exemplo de difusão ancestral, com significação de domínio ou protecção, mas também não deixando, quando esverdeado, de estar associado a Vénus, a Estrela da Manhã, como era visto ainda em Estandarte dos Suevos e hoje na dança do COCA, no Minho.
Em iluminuras Sagradas, como a da Coroação da Virgem Maria por Cristo, onde a Trombeta Celestial parece avisar-nos do perigo do Dragão externo, havia sempre o cuidado, mesmo tratando-se de Elevadas representações, de rodeá-las de um Escudo, de uma ovalização ou quadratura Celeste. Tal prática é similar também na sustentação das Armas, chamando-se Tenentes às figuras Sacras e Suportes às figuras terrenas.
Outro aspecto mais curioso da heráldica é o CARBÚNCULO do ESCUDO. Embora se admita a sua origem próxima nas Armas do Reino de Navarra, certo é que este termo já era conhecido da Antiguidade como um mal vertido na pastorícia, mas também usado como arma “biológica” por quem profanasse os túmulos. Certo é que as Armas dos 4 primeiros Reis de Portugal assim estão guardadas. Os Reis seguintes parecem ter ido mais longe no saber iniciático, rodeando a Cruz dos Escudetes por 14 Castelos, tantas as divisões do Corpo de Osíris, depois unificado, estabilizado em 8 Castelos até D. Manuel I, ou com variantes de 10 que só encontram razões no saber judaico, como Sefirotes da Árvore da Vida. Quaisquer que sejam as opiniões, certo é que não está no Arquétipo Místico de Portugal ter a nossa Bandeira Nacional 7 Torres. O CARBÚNCULO minou a I Republíca e continua a sua senda, como quem tivesse violado uma múmia egípcia.
O desvirtuar da raiz sagrada dos Brasões de Armas, numa abordagem de credo cristão, encontra razões no declínio das Ordens Religiosas e Militares, nos fluxos e refluxos dos períodos Renascentista, da Reforma e Contra-Reforma, na separação Igreja-Estado, na Revolução Francesa, na via anti-cristã de parte significativa da Franco Maçonaria e no materialismo racional dos Reis de Armas ou a eles afins. Mas as principais culpas surgem dos próprios Papas até ao Sec. XX. Vejamos um bosquejo deste historial, tão ricamente ilustrado na obra do Arcebispo Jaques Martin, “ A Heráldica do Vaticano”, Prelado da Cúria Romana até aos finais do séc. XX:
v O pai da Capela Sistina, o Papa Sixto IV(1471-1484), ao dar início ao século dourado do Sagrado Renascentista, verdadeiramente desenvolvido pelo seu sobrinho, o Papa Júlio II(1503-1513), com a mão de Miguel Angelo, viu toda a sua obra boicotada pelos Médicis, pela mão do Papa Alexandre VI, o Papa anti-Renascimento, prepotente na acção, sendo disso exemplo a feitura do Tratado de Tordesilhas sem ouvir Portugal, preparando-se D. João II para invadir Espanha.
v Esta família Medicis recebe do Rei de França, Luís XI, em 1465, o privilégio de passar a usar a Flor-de-Lys. Os Papas Médicis, LeãoX, Clemente VII, Pio IV e Leão XI, transportam assim para o Brasonário do Vaticano um símbolo alheio à missão papal, conquanto emblemático e sacro para o Brasão de Armas de França, sob a custódia do Arcanjo São Miguel, homenagem prestada pelo Papa João XXIII nas suas Armas, face à sua missão de Nunciatura no final da II Guerra Mundial neste país.
v O Papa Gregório XIII não só manda pintar nos frescos de Roma os massacres da Noite de São Bartolomeu, como faz entrar o Dragão Heráldico nas suas Armas, arquétipo alheio ao tradicional da Igreja de Roma, agravando-se a sua associação, com o Papa Paulo V(1605-1621) à Águia Imperial Romana, fazendo do seu Pontificado, pela mão do arquitecto Carlos Maderno, um reinado de esplendor e ostentação.
v Toda a Contra-Reforma, pela mão do Papa Alexandre VII(1655-1667) vai desvirtuar o místico inicial cristão, já muito abarrocado pelos Papas Urbano VIII e Inocêncio X, espalhando-se pela Europa Centro-Meridional uma acção-reacção de simpatia dos prelados pela nova concepção heráldica dos símbolos. É o século XVII de Bernini, o novo Miguel Angelo de Roma, um período onde Papas destroem obras de arte, chegando mesmo Bernini a reconstruir o que já havia feito. É erguido o famoso Trono de São Pedro, em bronze, são levantadas as 140 figuras dos Apóstolos, Papas e Bispos, onde hoje São Vicente deixa de ter a sua Barca na Praça de São Pedro
v Mas é a partir do Papa Benedito XIII(1724-1730) que todo o Brasonário Papal e os dos Dignatários da Igreja se complica. Os Papas começam a construir os seus Brasões de Armas à custa de três elementos, em simultâneo: Armas de família, Armas das Ordens de formação e as Armas de Títulos anteriormente usados.
v Exceptuando-se algumas Armas Papais no século XVII, como as de Urbano VIII, membro da Ordem de Cristo, com a evocação das Abelhas e as de Inocêncio X, o Papa do Ano Santo de 1650 e de Velasquez, evocando a Pomba do Espírito Santo e difusor na pedra do Angelical de São Tomás de Aquino, será o Papa Leão XIII(1878-1903) que irá por fim a um Brasonário mais falante que místico e sagrado, situação que até hoje se mantém, salvo com o Papa Paulo VI que enquadra as Armas da sua família Monttinni (montes desenhados) no traçado, havendo mais pureza sacra em Pio X, João XXIII e João Paulo II. Leão XIII foi desenterrar o sagrado profético de São Malaquias, com a Divisa prevista pelo Santo “UMA LUZ NO CÉU”, introduzindo-se pela primeira vez nas Armas Papais o cometa, uns defendendo que devia estar virado à direita, outros à sinistra, de qualquer forma um símbolo heráldico dos novos sinais dos Tempos, profetizado séculos antes.
Infere-se deste cenário de alguns séculos que a Europa dos heráldicos andou ao sabor do historial do credo cristão, mas dividido-se também o seu traçar por 3 grandes áreas de influência: católica, ortodoxa e protestante. As raízes medievas mantiveram-se muito tempo em Portugal até finais do sec. XV, por 3 razões principais:
· Uma ancestralidade alicerçada nas Ordens Monástico-Militares, influenciada também por cisterciences e franciscanos, com o rigor francês trazido por D. Afonso III, antes pelo Conde D. Henrique, alinhando o primeiro Brasonário de Portugal, cujo historial está bem documentado em 4 obras principais: Brasonário de Portugal de Armando de Mattos; Arquivo Heráldico-Genealógico de Sanches Baena; Armaria Portuguesa de Braamcamp Freire; Armorial Português de Santos Ferreira.
· Uma mito-história própria e ímpar na Europa, onde as Armas dos Reis e do Reino, como as das famílias e lugares, ligada à Fundação do país, faz brotar os feitos e lendas associados aos Árabes, depois aos Descobrimentos, tudo isto “semeado” pelas Cruzes das Ordens do Templo, de Cristo, de Avis, de Malta e de São Jorge, fazendo elas também parte das genealogias, como já mais tarde foram levadas pelos Corte-Real, nas suas “Armas de São Jorge” em naus de Cruz de Cristo.
· O contributo significativo, no séc. XIV, da Grande Loja de York, selada pelo casamento da filha do Duque de Lencastre com o Rei D. João I, ficando esta família, de origem inglesa, a ostentar o Escudo de Portugal encimado pelo Pelicano Sangrante. Quem não recorda o inglês Mestre Oughet a substituir Mestre Afonso Domingues, por cegueira, narrado por Alexandre Herculano?. A sublimação dos conhecimentos heráldicos deste espaço-tempo está no Mosteiro da Batalha, nas Armas de D. João I, rodeadas pelo círculo Divino, irradiando pelos 16 rumos, metade dos 32 da Rosa-dos-Ventos ainda existente em Sagres.
É com o primeiro casamento real da II dinastia, entre a filha de D. João I e Filipe, o Bom, Duque da Borgonha que surge uma das mais enigmáticas Armas do Mundo: a Ordem do Tosão de Ouro. Para uma mito-história de Ourique, onde o Ex-Libris em muitas Armas são os escudetes, com diferentes besantes, surge deste casamento a mito-história da ilha do Ouro, cujo escudo nos remonta à lenda da Europa, cavalgando o Touro, mas também o seu Colar nos dá a esperança de alcançar a Pele do Carneiro. Napoleão Bonaparte, após a batalha de Wagran, criou a Ordem Imperial dos Três Tosões de Ouro, na esperança de que o seu Império durasse como o português ou como o Império Carolíngio, fazendo-se coroar, na tradição dos Reis Lombardos, na Catedral de Milão, no Pentecostes de 1805, com a sua mais funesta frase de Imperador: “Dieu me l’a donné, gare à qui la touche”. Em vão.” Extinta” a Legião de Honra, esta nova Ordem de 100 Grandes Cavaleiros, 400 Comendadores e 1000 Cavaleiros, para feitos de guerra, só dura de 15 de Agosto de 1809 a 27 de Setembro de 1813. Por morte de Carlos, o Temerário, a Ordem de França passou à Casa de Austria, fundando o Império Austriaco. Carlos V, casando com Isabel de Portugal, funda também o seu Império trazendo para Espanha esta Ordem, a primeira da Cavalaria do país. O Império de Espanha cai com as Filipinas, essas Terras de Magalhães, próximas da Ilha do Ouro.
Serve este exemplo, em historial sintético, para dizer quão é importante o avocar de um Brasão de Armas, cuja jóia fundamental é o Escudo. Ele divide-se, por numerologia sagrada:

4 9 2 1 2 3
3 5 7 ou 4 5 6
8 1 6 7 8 9
. A sequência 492 é o CHEFE, sendo 816 o CONTRA-CHEFE. A DIREITA do Escudo é 438 e a sua SINISTRA é 276. O centro SAGRADO é 10, entre o 9 e o 5, logo abaixo do 9, cujos equílibrios vão parar ao abismo se não conseguidos. Em heráldica de Espanha, a linguagem ainda lhe chama “punto del abismo”. À medida que os Arquétipos são mais evocativos e se reportam a um país ou a elevadas Escolas Iniciáticas os cuidados a ter são maiores. Tenho visto Armas de pseudo Iniciados que mais os destroem, a si e à família, que os desenvolvem no saber iniciático. Vejamos algumas Ordens de elevada matriz Nacional:
Ordem de Saint-Michel e Du Saint-Espirit, da França.
Ordem da Jarreteira, da Grã-Bretanha.
Ordem dos Serafins, da Suécia.
Ordem do Elefante, da Dinamarca.
Ordem de Santo André, da Rússia.
Ordem da Águia Negra, da Prússia.
Ordem de Santo Humberto, da Baviera.
Ordem de São Jorge, de Saxe.
Ordem de Cristo, de Portugal.
Ordem de Sant’Iago da Espada, de Portugal.
Ordem da Torre e Espada, de Portugal.
O traçar das suas Armas não pode ser deixado a um profano ou descrente das leis sagradas, a um laico com visão restrita das regras heráldicas ou com o universo limitado da estética. O resultado prático, na Ordem citada de Portugal, é ostentar-se um colar com o PENTAGRAMA invertido, não fosse já o liminar da sua origem das ambições de D. Afonso V que destruíu a descendência real e veio a tornar a corte de D. Manuel I como a mais corrompida da Europa, talvez por isso levasse alguns séculos a ser retomada, trazendo um devir funesto ao país. Os Governantes de hoje já não estudam Pitágoras que considerava o hexágono como símbolo da Criação, o Macrocosmos, e o pentágono como símbolo da Terra, o Microcosmos. Sem nos alongarmos muito, o talismã preferencial continua a ser o “sino-saimão”, a meia-lua, a figa, o corno e o pentagrama, este jamais invertido, violação não cometida no pórtico de Santa Maria do Olival, em Tomar, nas moedas de Roma, nas moedas arábicas ou nos “dinheiros” de D. Afonso Henriques. O emblema de Vishnu que é o Selo de Salomão não mudou. O Pentalfa que a NASA desenhou para dizermos aos viajantes do Espaço quem somos também foi desenhado por Mestre Almada Negreiros.
Este cenário de mudanças aberrantes perante o Sagrado ainda hoje se passa na Franco-Maçonaria Portuguesa, uns substituindo o Triângulo Sagrado de Santiago, já lá vão quase 100 anos, talvez imitando o feroz Combismo, outros invocando arquétipos de humanos que de Sagrado e de Mito nada transmitem, ou se o emanam ninguém respeita o seu ARQUÉTIPO, talvez porque as raízes do Sagrado de Portugal, das suas Ordens e Mito-História tenham uma carga de mais Luz que é preciso esquecer, enaltecendo-se em Ordens figuras sem lustre de vivência Iniciática , como Gomes Freire de Andrade, ousado só no posto de General, ou procurando-se Patronos, como Mouzinho de Albuquerque, para a Arma de Cavalaria dos Exércitos de Portugal, destronando São Jorge, ele que violou o mais Sagrado da simbologia: o não direito sobre a Vida, o suicídio. Outrossim se passou com o Arquétipo do Escudo Nacional nas moedas do euro. Um qualquer júri aprovou a transformação do símbolo Nacional numa roda, imaginando, talvez, 7 Castelos( hoje Torres) mais 5 Escudetes igual a 12 estrelas da Europa. Soubessem eles as regras ocultas ou secretas da heráldica, ou pelo menos houvessem chamado alguém das Academias Heráldicas ou Afins, e ter-se-ia evitado algo que vai ser semelhante à senda do Tosão do Ouro.
O atrás descrito nos levanta a questão da principal chave da ciência e arte heráldica que não é só restrita ao traçar de Brasões de Armas. Dizia um livro desta área, que os primeiros Reis-de-Armas surgiram no reinado de D. Manuel I, João Rodrigues, João de Cros e António Godinho. Faltou acrescentar: directamente dependentes do Rei para começarem a libertar-se das exigências das Ordens de Cristo, de Santiago da Espada e algumas outras, onde os seus Reis-de Armas sempre existiram.
O ostracismo a que é votada a heráldica hoje em dia pelos Estados, é francamente confrangedor. O mesmo se passou com o Exércitos de Portugal pós Conde de Lippe, Cavaleiro Teutónico Alemão, até se criarem Gabinetes de Heráldica já nos finais do séc XX, com contributos muito positivos para o imaginário sagrado das tropas, assessorando ainda muito a heráldica de Forças de Segurança, de Organismos e Edilidades. Mas, numa apreciação castrense, o que estava inicialmente dependente do Comandante dos Exércitos deixou de estar e os crivos decisórios regem-se por despachos e opiniões de ignorâncias do saber, tudo se arrastando para uma crise das Forças Armadas, onde muitos ostentam um Escudo no peito, à sinistra, sem conhecer o FOGO-MENSAGEM do Brasão de Armas donde Ele emana. Longe já começam a ir os tempos em que os pescadores bordavam nas suas camisolas de lã o Brasão popular de família, encontrando-se a sua Divisa ligada ao nome do barco a que pertenciam.
Diz-se que a guerra é demasiado importante para estar na mão dos militares. O Papa Leão XIII achou que os símbolos heráldicos sagrados eram demasiado importantes para estarem abandonados. Um dia os políticos saberão que o seu poder só é duradouro, sem guerra, quando os símbolos ancestrais do Sagrado forem de novo activados. Hitler procurou em Tomar o novo Tosão de Ouro, mas nada viu. Hoje os seres humanos estão ainda mais cegos, mas Alenquer, por exemplo onde estamos, continua a ter Armas de Santa Isabel e do Islão. Então já a Ordem de Cristo, antes chamada do Templo, sabia que também Osíris tinha sido esquartejado em 14 pedaços, tantas as Rosas de Alenquer, tantas as freguesias que floriram, por Arquétipo, nesta Vila do Presépio, de matriz Franciscana, esse Brasão da Sagrada Família, também ele criado na Gruta Grega da Basílica de Esquilino, no séc. IV, 4 séculos esquartelados após a Gruta de Belém, em terras de Jasão, do Agnus Dei do Tosão de Ouro, renascido em Portugal.
É por isto, por Arquétipo Celeste deixado por S. Francisco de Assis que estamos mais perto do PORTO DA LUZ, lugar de Alenquer.
BEM-HAJAM por me terem escutado.
FELIZ NATAL, com o Presépio de Alenquer.


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