Wednesday, April 02, 2008

Cor. Joao Fernandes na Tertúlia do Bar do Além, a 19 de Abril de 2008


Nota:

o orador, Cor. João Fernandes é dos membros mais antigos da Terúlia, e com várias intervenções feitas de grande profundidade. Desta vez o tema central diz respeito ás potencialidades e aos limites da Numerologia como sistema adivinhatório ou de formulação de profecias.

Inscrições possíveis aos membros da Tertúlia.



Entretanto, ficam aqui três textos que poderão ser debatidos mais aprofundadadmente no sábado 19 de Abril as 12h no habitual Bar do Além, em Alenquer, acompnhados da seguinte introdução feita pelo orador convidado:


..............................irei falar muito pouco na próxima Tertúlia em termos de monólogo e desejar responder a bastantes perguntas em termos de diálogo.

Isto será possível se todos os tertulianos tiverem a paciência de ler três textos motivadores, para além do Blog Bar do Além, onde eu há pouco tempo procurando no GOOGLE Santo Cirita deparei com a minha Numerologia dita há 6 anos sobre Mestre Afonso Domingues.

Aqui vos deixo em ANEXO 3 reflexões, quando em 2008 passam 34 anos sobre o 25 de Abril (17x2), se evoca um Regicídio de 100 anos no tetracentenário do nascimento do Padre António Vieira, estando nós no 17º Presidente da República, com o 17º Governo Constitucional, faltando apenas o 17º Cardeal Patriarca de Lisboa (este o 16º com o Papa Bento XVI) para completar esta BARCA LUSITANA, na sua MISSÃO, PROFECIA e MISTÈRIO.

Com o augúrio de bom ABRIL, me despeço até dia 19 de Abril e ponham as vossas questões, sugestões e dúvidas para que nas Terras de Alenquer, mesmo junto ao PORTO DA LUZ haja mais LUZ por este PORTUGAL.

João Santos Fernandes
TLM (*) 351 91 479 87 85



I TEXTO






O 25 DE ABRIL DE PORTUGAL


Profecia da Estrela, o Arcano Maior 17, 34 anos depois
Vi, vivi e vivifiquei, aos meus 25 anos, esse Dia da III República, ocorrido 64 anos depois de 1910, como que se todas as 32 peças do tabuleiro de xadrez de 64 casas, uma adivinhação I Ching de 64 hexagramas ou o ADN do País se tivesse completado em 64 pontos principais de acupunctura, primeiro praticada por Gomes da Costa e depois por Costa Gomes, Generais feitos Marechais, como o seria o General António de Spínola, com 64 anos em 1974.
Golpe de Estado a 28 de Maio de 1926 (Braga a 25), pondo fim à I República, dar-nos-ia mais 17 anos de uma II República, não terminada 34 anos depois de 1910, pelo arrastar do golpe falhado do Almirante Mendes Cabeçadas Jr., em 1946, o mesmo militar do navio Adamastor de 1910, recordando Eanes, o Gil dos Descobrimentos, disparando contra a Monarquia, o mesmo efémero Primeiro-Ministro de 1926 e o mesmo nome de descendência do penúltimo CEMGFA, Almirante Mendes Cabeçadas, por recente Mudança, ao tomar posse o actual 17º Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, com o 17º Governo, após o 1º de Mário Soares.
Assim está construído parte de Portugal, por uma Matriz 17 da Estrela, a mesma do Campo da Estrela, ou de Compostela, assentando um dos Mitos da sua Independência e Fundação a 25 de Julho de 1139, Dia de São Tiago, numa Visão de Cristo a um Cavaleiro-Rei Armado e Coroado em Zamora, em 1125, ornando-se uma Bandeira de 25 besantes, de 5 Escudos ou Chagas, antes tendo 55 repartidos a 11 cada, ainda hoje e sempre Armilados em sua Esfera. Em 139 a.C. se matava Viriato, em 1139 se levantava a Ordem de Cristo.
Até à Guerra de África, em 1961, tivemos a matriz dos Henriques, havendo sempre um Moniz:
Por Afonso I a Fundação, com Egas Moniz, lavrando-se a independência de Portugal a 5 de Outubro de 1143, vinculando-se o Rei a Roma a 13 de Dezembro deste ano, mas só em 23 de Maio de 1179, pela bula Manifestis probatum, o Papa Alexandre III ratifica e reconhece a independência do Reino e o título de Rei ao nosso país.
Por Infante de Sagres a Expansão, lavrando-se a perda da independência a 25 de Julho de 1581, no Convento de Cristo, em Tomar, ao coroar-se Rei Filipe II de Espanha, ganha que tinha sido a Batalha de Alcântara, a 25 de Agosto de 1580, contra o que era a solução de Febo Moniz perante o Cardeal D. Henrique, o 17º Rei.
Por Infante D. Afonso, tio de D. Manuel II, o 34º Rei, a Mutação, lavrando-se a queda da Monarquia a 5 de Outubro de 1910, assegurando-se a territorialidade de Portugal por termos estado na I Guerra Mundial, onde foi Ministro dos Negócios Estrangeiros, em 1918, o descendente directo do aio de D. Afonso Henriques, o médico Egas Moniz, nascido a 29 de Novembro de 1874, 100 anos antes de Abril, embaixador em Espanha, em 1917, ano da Visão de Fátima e do Anjo de Portugal, Prémio Nobel em 1949.
Por Galvão, o Capitão do navio Santa Maria, em 1961, a Sublimação do Império, como que a sua morte, a 25 de Junho de 1970 (dia da saída das naus de Lagos para Alcácer-Quibir) fosse a CHAVE do 25 de Abril de 1974, sem ter tido execução antes pelo General Botelho Moniz, evitando-se a Guerra da África, causa próxima de Abril.
Após o 25 de Abril de 1974, as independências das Colónias, em guerra, foram a 11 e 25, talvez porque no Livro dos Vedas, da Antiga Índia, Deus é 11 nos Céus, Terra e Meio dos Ares, ou porque a Mensagem às 11 horas após o Meio-Dia de 24 de Abril, E Depois do Adeus ao Império, seja similar à do Arcanjo São Gabriel. O seu Dia litúrgico, a 24 de Março, nos diz que no dia seguinte, a 25, restam 9 meses para a 25 de Dezembro, em Belém, Nascer o Ser.
Assim Vasco da Gama morria a 25 de Dezembro de 1524, depois de a sua Nau São Gabriel ter metido piloto árabe a 25 de Abril de 1498, em Moçambique, Ahmadi Ibn-Madjid, como lavra o Diário de Bordo, o qual nos dá registo que, antes, a 25 de Janeiro o Padrão a São Rafael levantava Colunas em Quelimane. Estas terras têm por comprimento máximo 1974 km.
O 25 de Abril de 1974, teria por seu primeiro Presidente, em Belém, o 11º da República, nascendo o General António de Spínola em Santo André, concelho de Estremoz, a 11 de Abril de 1910, incorporado que foi, na vida militar, no Dia de Todos-os-Santos de 1933. Teria sido Primeiro-Ministro, em Julho de 1974, o General Firmino Miguel nascido a 11 de Março de 1932, mas recusou, como recusada foi a demissão, neste dia de 1974, do Primeiro-Ministro, em virtude do Livro de Abril, Portugal e o Futuro. O devir do 11 de Março e do 25 de Novembro de 1975, tiveram solução eleitoral, em Belém, por quem nasceu a 25 de Janeiro de 1935, o novo Gil Eanes do Adamastor, o General Ramalho Eanes, mais tarde em confronto eleitoral com outro General, Soares Carneiro, nascido a 25 de Janeiro de 1928, em Angola, originando o Caso de Camarate, sendo morto o 111º Primeiro-Ministro de Portugal, Francisco Sá Carneiro.
Em frente ao Palácio de Belém a Estátua do último Cavaleiro, Afonso de Albuquerque, nos diz que a sua Morte a 16 de Dezembro de 1515 personifica não só o fim de uma Expansão de 100 anos, após Ceuta, como o lembrar do nefasto Rei de Portugal, que demanda nesse ano, a Roma, o pedido da Inquisição que os próprios Papas temiam que se implantasse em Portugal. A Monarquia caía com D. Manuel II, após um Regicídio do 33º Rei. Marco de Vedas, o 11º Rei, D. Duarte, morreu de peste em Tomar. O 22º Rei, D. Afonso VI, morreu preso em Sintra e o 44º ocupante do Trono de Portugal, o Almirante Américo Tomás, foi preso a 25 de Abril de 1974.
Poucos ou escassos foram os que souberam ou sabem como se havia ou há-de cumprir a Sublimação deste Império. Na Roma Antiga, dizia Estrabão, na sua Geografia, que havia no extremo do Ocidente 50 Tribos de Lusitanos, levando a Idade do Bronze a toda a Europa e atraindo, depois, os lendários Ilírios da Europa Central, os Tirsenos da Ásia Menor e os Elamitas da Pérsia, tudo em rumo à Idade do Ferro, com os Celtas. Da filigrania dos Celtiberos aos punhais das Legiões de Roma, dos instrumentos agrícolas às rodas raiadas, tudo se exportava desta Forja dos Metais, mesmo o volfrâmio e o urânio no nosso séc. XX.
Os militares dos Cravos Vermelhos não perceberam que o limite superior da Páscoa é 25 de Abril e mais cedo se limita, inferiormente, a 33 dias antes, ao Equinócio da Primavera. Jamais esta Matriz aplicada a Portugal podia assentar numa mudança a 16 de Março, vinda das Caldas da Rainha. Quando a 25 de Abril de 1500, 474 anos antes, os 11 navios de Pedro Álvares Cabral que rumariam à Índia, lançam âncora em Porto Seguro, sábado, vésperas da Pascoela, chegados que foram a 22, sabiam os pilotos de quão importante era saber ancorar, como o fez o piloto árabe de Gama, ao reiniciar viagem a 25 de Abril de 1498. Por este motivo, as naus inglesas que levaram a filha de D. João IV, D. Catarina, nascida a 25 de Novembro de 1638, futura Rainha de Inglaterra, implantando o chá das 17 horas ou das 5, saíram a 25 de Abril de 1662 do Cais das Colunas, para a Restauração da Monarquia de Carlos II, perdida com o Regicídio de Carlos I. Também o 25 de Abril de 1974 tem nexo remoto e causal com o Ultimatum inglês de 11 de Janeiro de 1890, a sequente I Guerra Mundial com o Armistício a 11 de Novembro de 1918 (idem Angola independente em 1975, ou dia da morte de Yasser Arafat)) e os Marcos de 24/25 de Setembro, datas da independência da Guiné (1973) e do início da Guerra em Moçambique (1964), cuja independência ocorre a 25 de Junho de 1975.
Sabemos que na Roma Antiga, a 25 de Abril, a cidade das 7 Colinas, como Lisboa, tinham lugar as Solenidades das Robigalias, segundo a lenda tendo origem no 11º Ano do Reinado de Numa Pompílio, cerca de 700 a.C. Grande era a Procissão que saía pela Porta Flaminia, dirigia-se a Ponte Milvino e terminava num Santuário na Vila Cláudia, onde se imolava um cordeiro ou ovelha (por posição do zodíaco da Terra), a par de um cão (constelação em Sírius?), em honra de um Deus (Robigus) ou uma Deusa (Robigo), contra o que degradava e corrompia a Natureza. O Ritual Cristão, a 25 de Abril, conserva o mesmo percurso, como o descrevia São Gregório Magno, mas terminando na Basílica de São Pedro, denominando-se o Dia das Ladainhas Maiores, onde também se pede a Bênção de Deus para as colheitas, além de se arrolar a síntese: «…pedi, e dar-se-vos-à; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-à. Porque todo aquele que pede, recebe, e o que busca acha, e ao que bate se lhe abrirá…». Assim fizeram e pediram os Italianos, na II Guerra Mundial, obtendo a Paz e a Libertação a 25 de Abril de 1945.
Até hoje, as recentes Idades Média, Moderna e Contemporânea tiveram por mudança a Queda de Impérios: de Roma (476), Constantinopla (1453) e França (1815). Podia o General Humberto Delgado ter mudado Abril em Portugal se apenas prometesse o que é de César. Jurando arrasar a Cova de Iria para fazer aterrar aviões, se fosse eleito Presidente da República, no dia do seu assassinato, 40 anos depois, a Vidente da Luz, Lúcia, a 13 de Fevereiro de 2005, com ele morria, perdoando, em nome da Senhora da Iria, a violação de uma Matriz anterior a Portugal, como está exposta numa Igreja de Tomar ou na Igreja de Santos, em Lisboa, com os 3 Pastorinhos do séc. IV, onde é contígua a Embaixada de França, país do Conde D. Henrique.
Como militar estava na Escola Prática de Infantaria, a 25 de Abril de 1974, nesse Palácio-Convento de 1717 que profetizava, como o Escorial, um igual desejo de nova Roma espiritual. Mas o 25 de Abril havia de ter resolução militar no Terreiro do Paço, onde os 28 Arcos da Lua a Oriente e Ocidente (56) se completam com os 22 arcanicos, divididamente solares em 11, ladeando o Arco do Triunfo, em rua Augusta, onde houve o medo de disparar, por Arquétipo de 1908, exactamente 66 anos antes, uma dupla base 33 que matou o 33º Rei de Portugal. A resolução política teve lugar no Largo do Carmo, esse lugar do Convento e Chafariz de 4 Golfinhos, fundado em 1389, onde se recolheu, 33 anos depois, em 1423, o seu Fundador D. Nuno Álvares Pereira, desiludido com o Rumo do Abril de Portugal de 1415, desaparecendo o seu túmulo a 1 de Novembro de 1755, Dia de Todos-os-Santos, 340 anos depois.
Para cumprir Abril, na Terra, basta que as Leis gravitem em redor do ser humano e que a competência, a obediência, a interdependência e a sapiência se oponham, respectivamente, à conveniência e subserviência, autoritarismo e ignorância. Cada letra de Abril devia dar a cada um de nós uma melhor Acção, Bem-estar, Rigor, Instrução e Liberdade.
Embora se veja a Bíblia como um auxiliar religioso, este Livro devia ser estudado, numerologicamente, nas Escolas Superiores. Muitos sábios que em tudo vêem Códigos, desconhecem que os 153 Peixes do Evangelho de São João (21,11) puxados por Simão Pedro são adição teosófica de 17, o Arcano da Estrela que também é de Belém. Se os nossos alunos de hoje soubessem as leis da Aritmética seria fácil a Matemática dos 153 Peixes: multiplicar um número pelo seu seguinte, dividindo-o por 2, é como ir somando todos os números de 1 a 17. Faltam mais 17 anos até 2025. Também só fazemos exactamente anos de 28 em 28 anos, como nos Arcos do Terreiro do Paço, onde tudo coincide, em hora, dia, semana, mês e ano. Há que avaliar Abril em múltiplos de 17, por termos 34 Reis e só ainda 17 Presidentes da República.
Perceber Abril, sem números, é não o saber cumprir, pois assim está construído o Universo.
João Santos Fernandes
Coronel do Exército, aposentado, de 58 anos de idade, é membro de Ordens de tradição Templária, autor de dois livros Portugal Iluminado e Despertar do Ser. Participou nas investigações do assassinato do General Humberto Delgado, na Comissão de Extinção da ex-PIDE/DGS e LP. Prestou depoimento, em Comissão da AR, sobre as mortes do Caso Camarate.










II TEXTO:





História e Profecia de Vieira
O Jesuíta politicamente incorrecto






Deixarei às Academias, Universidades, Ordens Religiosas e à Companhia de Jesus o evocar, enaltecer e o interiorizar da Mensagem e Obra do Padre António Vieira, tarefa que vi e li não ter sido fácil há mais de 100 anos em duas importantes publicações por ocasião do bicentenário da sua morte, em 1897, um espólio familiar que arrolo:
Volumes I (1898), II (1899) e III (1900), SERMÕES, publicados pela Comissão Executiva das Comemorações, sob a égide da Academia das Ciências e editados pela Typographia Minerva Central, em Lisboa, ao preço unitário de 300 réis, uma edição popular.
Tomos Primeiro (1901) e Segundo (1936-2ºedição), VIEIRA-PRÈGADOR, da autoria do Padre Jesuíta Luiz Gonzaga do Valle Coelho Pereira Cabral, um Estudo Filosófico, como o autor o classifica em subtítulo, onde o lápis do Professor de desenho histórico José de Brito, da Academia de Belas Artes nos dá a real imagem deste Grande Orador e Príncipe da Prosa Portuguesa, nascido a 6 de Fevereiro de 1608.
Foi assim que aos meus 15 anos vi Vieira, sucessor do Jesuíta S. Roberto Bellarmino (Dia litúrgico a 13 de Maio), na biblioteca de meu pai. Vi, ouvi ou li? A verdade é que ouvi, lendo, e vi sem ler. Foi assim que percebi a Mensagem de Vieira, pois segui o seu conselho lavrado em Sermão de Segunda Quarta-Feira da Quaresma, pregado em 1638, na Misericórdia da Baía:
Os ouvintes dos pregadores, uns têm ouvidos de ouvir, outros têm ouvidos de ver. Os primeiros vêm ouvir para seu proveito. Os segundos vêm para ver se falou o pregador com equívocos, se trouxe conceitos ou pensamentos novos, se tocou neste ou naquele e mais nos maiores, e o pior é que estes ouvintes de ver, muitas vezes são toupeiras do lugar, aqueles que sabemos que vêem menos que todos.
Bastam estas palavras de Vieira para perceber a importância da metáfora, da alegoria e da ironia na sua Obra, com uma intuição socrática, uma contemplação platónica e um raciocínio aristotélico. Se aos 18 anos já leccionava Retórica e aos 20 já tinha estudado os Clássicos Gregos e Romanos, comentando a Bíblia e o Cântico dos Cânticos, criando o seu próprio compêndio de Filosofia, não é difícil visualizar este sobredotado Ser conhecedor de todas as correntes teológicas e seus pensadores, mesmo de um Renascimento que não lhe era longe, no tempo. Pregando nas Igrejas antes de ser Padre, a 14 de Dezembro de 1635 (1º Sermão em 1633) é-lhe dada a Cátedra de Teologia aos 27 anos, acreditando os teólogos do seu tempo, como o Jesuíta espanhol Padre José Mendive, que os conhecimentos gnósticos, do milenarismo, dos mitos dos Impérios do Espírito-Santo e das posturas de São Francisco de Assis e Santo António, bem como do grande filósofo e cientista português, o Papa João XXI, foram metamorfoseados na linguagem dos seus Sermões, sempre numa vertente comparada do Antigo e Novo Testamento, em Reis e Imperadores e nas Visões de Ezequiel, Daniel e São João, no Apocalipse. As suas Orações Fúnebres, de Nascimentos e Aniversários Reais não são Sermões.
O seu Império de Cristo, antes de um Juízo Final, não tinha propriamente um Ceptro temporal, mas dois factos ainda hoje destorcem esta face profética de Vieira: o de ter tentado consolar a viúva de D. João IV, dizendo à Rainha que seu marido havia de voltar, na Profecia de Bandarra, e o de titular Defeza do V Império a sua defesa na prisão, o motivo para a Inquisição o prender, num argumento sem nexo e de quase bruxaria medieval, contestado mesmo pelos Bispos.
Colocando, por vezes, simbologias e analogias com nomes de factos e pessoas, em muita correspondência pessoal, com destaque para o Marquês de Gouveia e D. Rodrigo de Menezes, filho do Conde de Cantanhede, não é difícil imaginar maliciosas falácias pelo que dizia Vieira.
Trabalhava o Padre António Vieira, no início dos anos 60, quando já o haviam desterrado para o Porto e ameaçado de voltar para o Brasil ou Angola, na redacção de uma Obra (a futura História do Futuro) que tinha um estranho subtítulo: livro ante-primeiro, prolegomeno a toda a historia do futuro). Para além do natural patriotismo de Vieira, dos sucessos narrativos da Restauração e da luta contra os Holandeses, empenhava-se ele em encontrar nas Escrituras o anúncio das grandezas reservadas a Portugal e a visualizar, com subtil hermenêutica, muitas frases dos profetas bíblicos com nexo causal aos países longínquos descobertos pelos portugueses, exemplificando, ainda, a interpretação dos textos com os progressos da cosmografia.
Estes escritos deviam ser a base da sua Clavis prophetarum, Obra inédita dos últimos anos de vida, esperada com ansiedade no seu tempo, de tal modo que em Janeiro de 1696, o Geral da Companhia de Jesus lhe escrevia a pedido da Rainha, D. Maria Sofia, solicitando-lhe que concluísse e imprimisse esta Obra, empregando os religiosos que julgasse necessários, devendo o provincial cumprir estas instrucções se elle fosse chamado a melhor vida. Como viria a afirmar o seu biógrafo, o Padre André de Barros, esta Obra versa como se devia realizar o reinado perfeito de Cristo sobre a Terra, o qual seria o quinto império. Ainda que Vieira tivesse exagerado na análise de alguns fenómenos astronómicos como sinais reveladores do futuro, certo é que estando para si incompleta a prática cristã, por má Igreja, o Mundo havia de presenciar a florescência do culto divino, da justiça, da paz e de todas as virtudes cristãs.
Com este cenário, com o ardor do seu patriotismo, a grandeza que antevia para o seu Brasil, os mitos da Fundação, a missão dos Templários de Portugal e os vaticínios de modernos videntes, como S. Frei Gil, S. Bernardo, Bandarra e toda a gesta e acção dos Descobrimentos, leva Vieira ao desenvolvimento de um dos raciocínios mais difíceis no ser humano: o analógico, corrigido tautologicamente, complementando o dedutivo e o indutivo. Com um cometa aparecido em fim de sua vida, ele tem tema para redigir um dos seus últimos opúsculos: Voz de Deus ao mundo e à Bahia. Mas vejamos, muito tempo antes, em carta de 29 de Abril de 1659, redigida no Maranhão, à beira do rio Amazonas, dirigida ao Bispo do Japão, confessor da Rainha, como titula Vieira esta missiva para consolar a sua viuvez: Esperanças de Portugal, quinto império do mundo, primeira e segunda vida de D. João IV escripta por Gonsalianes Bandarra.
É por esta carta, onde Vieira diz que D. João IV, ressuscitado, fundaria o quinto império que os inimigos do Padre Jesuíta o denunciam à Inquisição, mandando-o vir a Coimbra para ser processado. O Sermão de Santa Catarina, em 1663, perante a Universidade, frisa a temeridade de defesa e durante dois anos as delongas para que o Tribunal lhe desse as proposições acusatórias bem demonstram a cabala contra Vieira. É preso a 13 de Outubro de 1665. A 5 de Outubro de 1667 entra triunfante no Paço de Sintra o Infante D. Pedro e em 23 de Novembro assume a Regência. A Inquisição, servil do poder real, suaviza a sentença de Vieira. Tinha caído e estava preso o 22º Rei de Portugal, D. Afonso VI. Vieira era devolvido ao púlpito real, como pregador, mas já doente não pode pregar nos anos da Rainha, a 21 de Junho de 1668, solstício do Verão e ano do tratado de paz com Espanha, o fim dos 28 anos da Guerra da Restauração.
Até ao momento falei tendo por base o factual, o narrativo documentado, investigado e escrito. Permitam-me, no entanto, passar ao que disse no início de ter visto Vieira sem ler, porque o ouvi lendo. Passemos em revista, antes, um episódio pouco relevante para muitos. Após ter ido ao Brasil (16 de Janeiro de 1653) fazer promulgar o decreto real que dava por livres todos os escravos e de proferir no Primeiro Domingo da Quaresma de 1653, o admirável Sermão do valor da alma e da iniquidade da escravidão, a 16 de Junho Vieira volta ao Reino. Uma tempestade, nos Açores, estava prestes a afundar o navio quando Vieira apela a um milagre, invocando os Anjos da Guarda do Maranhão. Certo é que já naufragantes lhes acode um pirata holandês que os despojou de tudo. Vieira e as 40 pessoas são lançadas nuas na Ilha Graciosa, chamada a Ilha da Rosa Branca pelos Templários, encerrando a Gruta do Senhor Santo Cristo. O Sermão de Santa Teresa, na Ilha de São Miguel, ilustra bem o cenário desta viagem.
Não deve ter sido fácil aceitar Vieira que os piratas holandeses o tivessem salvo da morte, a um apelo Celeste. Estou convicto que Vieira percebeu porque a tempestade o reteve nos Açores, onde o culto do Espírito Santo era livre, a Toponímia do Eneagrama das Ilhas era Sagrada, encerrada por um Corvo, como os Corvos de São Vicente e ao aportar à Terceira lá viu o Monte Brasil, percebendo que as suas Terras de Santa Cruz tinham nome igual em mais antigas descobertas, antes de Duarte Pacheco Pereira as dar ao Mundo, nos segredos de Tordesilhas.
Portugal tem o mito Crístico de Ourique, em 1139, com um remoto assassinato de Viriato em 139 a.C. A Ordem de Cristo, metamorfose Templária, foi criada em 1319 e a própria Casa de Bragança tinha os seus alicerces a 31 de Outubro de 1391, quando D. Afonso, filho ilegítimo de D. João I, recebe carta de doação de condado e outras terras, sendo dia e ano do nascimento de D. Duarte, o 11º Rei de Portugal que aos 14 anos vai à corte inglesa, onde conhece as origens do selar Templário da Velha Aliança com Portugal, vindo a morrer em Tomar. Tínhamos tido 17 Reis até à morte do Cardeal D. Henrique, a 31 de Janeiro de 1580 (nasceu no mesmo dia em 1512), sendo Arcebispo de Braga aos 22 anos. Os Reis Filipes ocupavam a Coroa de Portugal por 60 anos, um ciclo zodiacal lunar, como no Oriente, aonde o Império recebeu, por último, a Cidade do Santo Nome de Deus e aqui se finou, na entrega de Macau, por um Vieira, militar.
Podeis perguntar se o Padre António Vieira sabia a numerologia cíclica de Portugal que jamais encontrareis resposta. Mas tomemos o seguinte exemplo do Novo Testamento (S. João 21, 11-12): Simão Pedro entrou no barco e puxou a rede para terra. A rede vinha cheia de grandes peixes, ao todo cento e cinquenta e três, e, mesmo assim, não se rompeu. Vieira sabia decifrar a numerologia da Bíblia e 153 Peixes são a adição teosófica de 17. Para não alongarmos explicações aritméticas, como 4=10 (4+3+2+1), fácil é multiplicar 17 pelo número seguinte, 18, e dividir por 2. Razões havia para ele ver Portugal como Missão do Mundo, quando as verdades já eram diferentes com Galileu e Newton, os quais conheceu, mesmo quando negoceia os casamentos reais de Portugal, de início em França com forte pendão de Aliança contra a Espanha, mas de nítida componente mística, com o mesmo filho de D. João IV, D. Teodósio, com uma Infanta de Espanha, D. Maria Teresa (filha de Filipe IV), sob condição: de sucessão às duas Coroas se o Rei de Espanha não tivesse filho varão, ficando os dois Reinos independentes, mas com capital em Lisboa, abdicando desde logo D. João IV para governar o Brasil.
Havia a maldição do filho de D. João II (a ambição de Portugal querer unir a Península) e a Rainha de Portugal (nascida em Espanha) opõe-se, como a Espanha o faz, também já receosa de profecias ligadas à violação do Convento de Cristo, em Tomar, por Filipe II ao coroar-se Rei de Portugal. D. Teodósio, dito destino, cai enfermo a 13 de Maio de 1653 e morre. Este facto é determinante para Vieira regressar de novo e à pressa do Brasil. O seu naufrágio, atrás citado, deve-o ter feito pensar na História de Portugal, vista de outro visão, nos saberes dos Templários.
Mal sabia o Padre António Vieira que o assassinato do Rei D. Carlos I de Inglaterra dando origem à República de Cromwell (1649) se iria repetir com D. Carlos I de Portugal e que D. Manuel II se acabaria por casar com os números de Ourique com a bênção do seu tio, o Infante Afonso Henriques, em 1913, já destronado a 5 de Outubro de 1910, quando a Monarquia tinha data real a 5 de Outubro de 1143. Isto não sabia Vieira, no tempo, mas a Restauração da Monarquia de Inglaterra, selada com o casamento da filha de D. João IV com o Rei Carlos II, foi obra do Mito Templário de Portugal. D. Catarina, nascida a 25 de Novembro de 1638, levada para Londres a 25 de Abril 1662, com os dotes de Tanger e Bombaim, encerra os 21 Arcanos Maiores de um ciclo, o qual prende o 22º Rei (o louco, cognome de D. Afonso VI) e volta a prender o 44º (Almirante Américo Tomás), o qual não é morto, apesar de nascer em mesmo dia de Carlos I de Inglaterra (19 de Novembro de 1894 vs 1600).
Podeis especular, como a Inquisição o fez contra Vieira, mas o que ele disse para consolar a viuvez da Rainha, em carta ao Bispo do Japão, de que D. João IV voltaria, “foi”confirmado ao nascer D. Manuel II no dia 19 de Março, Dia do Pai, como D. João IV (1604 vs 1889).
Uma das razões porque o seu Livro Profético tardava em acabar, para além de esperar a absolvição de Roma que nunca viu, era porque Vieira ansiava por sinais com algo de mais actual e revelador para si, em 1698. Mesmo que duvidemos destes saberes de Vieira, e não tendo D. Pedro II tanta amizade para com ele, como D. João IV, algo leva o Rei a depositar-lhe a confiança para que ao sair de Roma (22 de Maio de 1675) aprontasse o casamento de sua filha com o filho do Grão Duque de Florença, a sua derradeira missão diplomática, apesar da Rainha da Suécia, em 1678 pressionar Portugal para que Vieira voltasse a Roma e fosse seu pregador.
Mesmo que duvidemos de ciclos, oiçamos Vieira quando se dirige a Filipe IV de Espanha, em linguagem quase profética: «No dia memorável da restituição de Portugal, ou fosse milagre ou mistério, é certo que a imagem de Cristo crucificado despregou publicamente o braço às portas daquele Santo português, que tem, por graça própria sua, recuperar o perdido…Ouvi, Senhor, a voz de um estrangeiro, desinteressado vassalo que já foi vosso por sujeição, e hoje é também vosso, posto que não vassalo, por afecto…A maior façanha de Carlos, vosso avô, com que coroou todas as suas, foi saber morrer. Alcançastes na vida o título de Grande; maior sereis no fim dela, se ao de Grande acrescentardes o de Justo. Não se pode pagar a Deus o que é de Deus, sem dar a César o que é de César;…Lembro-vos, Senhor, o signo debaixo de que nascestes (Áries) e seja este o último suspiro do meu afecto. Nascestes no dia em que morreu o Rei dos reis (8 de Abril de 1605) e Monarca supremo do Mundo, par dar exemplo de morrer a príncipes…Firmai o título de Rei com o de Católico, pois sempre presastes mais o de Católico que o de Rei… Deixai a paz por herança a vossa esposa. Esta será a maior prenda do vosso amor, este o troféu maior de vossas vitórias. (História do Futuro, páginas números 80)
Sabia Vieira que a vida de Filipe IV de Espanha (III de Portugal) duraria 60 anos (1605-1665), tanto como a ocupação lunar de Portugal e que o fim da Guerra da Restauração duraria um ciclo lunar menor de 28 anos a que Filipe já não chegaria? Este Rei, com a maldição genética dos Habsburgos, nasceu em Dia da Consagração de Santo Inácio de Loyola como Superior Geral (8ABR1541), tendo um reinado de Guerras, com a Catalunha (1640), França, Países Baixos e Inglaterra. O Primeiro-Ministro de Espanha e Duque-General Comandante, na mística Batalha das Linhas de Elvas, comenta a sua derrota e a retirada: Contra Diós no valen manos! Quem assinaria a Paz, pelo novo Portugal não foi o Rei, mas sim o seu futuro Rei de cognome o Pacífico, o Regente aclamado a 5 de Outubro de 1667, no Palácio de Sintra, a Serra da Lua.
Mesmo que de tudo duvidemos, soube Afonso X, o Sábio, Rei de Castela, avô de D. Dinis, entregar ao seu neto, só com 7 anos, as fronteiras de Portugal. A Bandeira inicial de Portugal, ainda hoje é o Estandarte da Cidade de Marselha, Terra dos Mistérios Templários, um novo Baluarte dos Antigos Cavaleiros Essénios. Para terminar este meu entendimento vos digo que a defesa dos judeus por Vieira também não foi acaso, ainda que disso jamais soubesse. A morte do Primeiro Presidente do Estado de Israel, no séc. XX, teve lugar a 1 de Dezembro de 1973, ano da queda de novo Império de Portugal, imposto pela ONU, a 4 de Maio de 1973, em Estocolmo, na Suécia, da Rainha de Vieira. O 25 de Abril de 1974, como 25 de Agosto de 1580 ou o 25 de Julho de 1139, são marcos da Terra como o são de Deus a 25 de Março e a 25 de Dezembro, gerando e morrendo um Cristo em 9 meses, na Mensagem do Arcanjo Gabriel.
Com um Rei enfeudado à Inquisição, a qual já nem obedecia a Roma. Com a grande dificuldade e entraves que viu para que em 1679 alguns Sermões fossem publicados na oficina de João Costa. Com a feroz censura da Igreja a Galileu (1633) que conhecia e que agora mais limitava Portugal, quando a Europa a repugnava e bania, 40 anos depois, como nos seus 40 náufragos, sendo Vieira um apagado consultor de Congregação, a 27 de Janeiro de 1681, regressa de vez ao Brasil para terminar suas Obras de Escrita, uma esperança de um novo Império para a Igreja.
Como dizia à Inquisição, na prisão, o Padre Jesuíta, era o V Império: Império consumado de Cristo, não algum império que Cristo haja de ter nos tempos futuros, senão um maior e melhor estado do império que hoje tem, que é a Igreja. Em suma, a Reforma da Cristandade, a Paz Geral, um Sumo Pontífice santíssimo apoiado por um imperador zelosíssimo antes de um Juízo Final. Quantos Imperadores não sonharam e sonham com mil anos da «sua» visão.
Sem mais se especular, oiçamos o que disse, escreveu e imprimiu o Padre António Vieira, em nota ao leitor, no TOMO I dos seus Sermoens, nesse ano de 1679:
«Por fim não te quero empenhar com a promessa de outras obras; porque se bem entre o pó das minhas memórias, ou dos meus esquecimentos se acham, como na officina de Vulcano, muitas peças meio forjadas; nem ellas se podem bater por falta de forças, e muito menos aperfeiçoar e pulir, por estar embotada a lima com o gosto, e agastada com o tempo. Só sentirei que este me falte para pôr a última a quatro livros latinos De Regno Christi in terris consummato, por outro nome Clavis Prophetarum, em que se abre nova estrada à fácil intelligencia dos prophetas, e tem sido o maior emprego de meus estudos. Mas porque estes vulgares são mais universaes, o desejo de servir a todos lhes dá por agora a preferência.
Se tirares d’elles algum proveito espiritual que é o que só pretendo, roga-me a Deus pela vida; e se ouvires que sou morto, lê o último sermão deste livro (era o Sermão das Cinzas, pregado em Roma, na Igreja de santo António, no ano de 1673), para que te desenganes d’ella, e tomares o conselho que eu tenho tomado. Deus te guarde.»
Não quis escrever mais de 5 folhas, lembrando os 5 principais Patriarcas após Cristo: Jerusalém, Antioquia, Constantinopla, Alexandria e Roma. Também porque quis homenagear o Pentateuco Bíblico tão caro a Vieira, como o encontrava ele nas 5 Chagas de Cristo, quais 5 Reis Mouros de Ourique ou os 5 Escudos da Bandeira com 5 besantes cada, inicialmente 55, com 11 em cada um deles, mas uma adição teosófica de 10. Numa construção de Pentagramas ou Quadro de Almada Negreiros, onde o V Império se enquadra, como 5 sentidos ou Mão de 5 dedos, mesmo no holograma da Raça Humana lançado pela NASA a um viajante do Universo, terá visto o Padre António Vieira que a sua Nova Igreja viria depois dos Impérios de Abraão, Moisés, Cristo e Maomé? Em seu tempo, apelando ele à união sob Cristo, o seu V Império seria a fusão das 4 Igrejas: católica, protestante, anglicana e ortodoxa?
Os segredos (apontamentos) e a escrita (manuscritos) de Vieira eram guardados em lóculos (o «canudo» universitário é similar, embora mais pequeno), sistematizando as Obras, como fez Virgílio, com a Eneida. Uma espécie de arca, de fácil transporte e boa segurança, similar à de Camões para guardar os Lusíadas, ora acompanhava Vieira, ora era escondida ou entregue a claviculários secretos, guardando estes lóculos. Sabemos, pelo excerto que atrás vos li, que a Clavis Prophetarum tinha 4 lóculos. Qual Arca da Santa Aliança, mal a sua Ordem o acusa de crime de favorecimento (com o Padre Inácio Faia) ou crimine ambitus, para ser eleito um Procurador Jesuíta a Roma (os lentos e enigmáticos autos de 1694 foram a Roma, reabilitando, por inocência, os réus, mas só após a morte de Vieira), a sua «Arca» desapareceu.
Temos de bem ouvir Vieira, pois um Sermão é um diálogo entre o pregador e o pensamento do ouvinte e só um génio lhe dá inteligência, imaginação e vontade. Inteligência para expor, provar e refutar. Imaginação para fazer visualizar o belo, exemplificar o real e agradar a atenção. Vontade para convencer e deleitar, com verdade, e persuadir, despertando paixões.
Se os Professores, hoje, soubessem ensinar Aritmética e Gramática a Matemática e as Línguas eram fáceis. Mas se a Inquisição soubesse, ou ao povo fosse explicado, porque motivo existem 28 Arcos de cada lado no Terreiro do Paço, com 22 frontais, ladeando em 11 o Arco da Rua Augusta, talvez ela tivesse embargado a sua construção , mas nós continuaremos a fazer anos, no mesmo dia astronómico, num ciclo de 28 anos. O Brasil sonhado por Vieira, seria independente com o 28º Rei de Portugal. Assim caminham os nossos pés com 26+2 ossos, cada um, como assenta o Terreiro do Paço. Cedo teriam calado Vieira se ele mais explicasse, um «politicamente incorrecto» de hoje, como o fizeram a Galileu, em 1633, mas sempre continuou a bem falar verdade dos males da sua Igreja, dos Reis e dos Príncipes.
Quase 400 anos depois, o Papa João Paulo II, em nome da Igreja de Vieira, pediu desculpa a Galileu. Assim termino Vieira.
Grato pele vossa atenção. Bem-hajam. Que as Universidades continuem de livre pensamento
Breve nota biográfica do autor do texto:
João Santos Fernandes, Coronel do Exército, aposentado, de 58 anos de idade, casado e natural de Lisboa, para além de 38 anos de carreira militar, tem participado em processos de investigação de crimes políticos, como os Casos do General Humberto Delgado e de Camarate, bem como contribuindo, com a sua experiência de África, na Comissão de Extinção de Ex-Pide/Dgs e Lp e do intelligence militar em muitas intervenções públicas, estando publicadas, pela Editorial Notícias, as suas intervenções em 2 Congressos sobre a Guerra Colonial, sob a égide da Universidade Aberta.
Membro de Ordens de tradição Templária, de raiz e rito cristão, nesta vida armado Cavaleiro no Convento de Cristo, em Tomar, a 6 de Junho de 1998, publicou dois livros Portugal Iluminado e Despertar do Ser, de numerologia sagrada e ciência, onde as Humanidades também têm lugar.





III Texto





LUSÓFONA BARCA LUXITÂNIA






Luxitânia, Origens da Lux, é uma Barca Atlante, ora de Velas enfunadas com Argonautas, ora de Âncoras desembarcando Musas para as Artes e Ciências, nos Ciclos da Humanidade. Nome gravado nos mapas da Proto-História de Portugal, eram Terras que iam das Tágides de Tagus até ao Mar Cantábrico, ficando-lhe a Sul a Mesopôtamia, Terras das Valquírias entre os rios Dahanan ou Ana (Guadiana) e Cahpsus (Sado), fechada pelo Cyneticum (Algarves), com a sua Serra do Caldeirão, simbolizando o Cálice de Dagda ou Graal, um deitado rectângulo de hoje, proporcional ao erguido na geratriz do seu Eixo: Serra do Gerez-Melriça-Ourique.
Terra das Serpentes Ocultas, no dizer de todos os Sábios da Antiguidade, as Terras mais além das Colunas de Hércules, tinham já no Eneolítico uma cultura megalítica de menhires, dólmenes, cromoleques, antas, grutas sagradas e Santuários que eram terminais de passagem de linhas lay derivantes de uma Europa de Carnac, Gotland ou Stoneheng, onde Lux era a Luz dos Campos de Eleusis ou de Ísis (Campos Elísios), estendidos até ao Luxemburgo, chamando-se o Coração da Alemanha a Luxácea (região de Berlim). Assim o Portugal Antigo era uma radial de geomância sacra, onde ainda hoje a Província de Lugo (do Deus Lug) encerra o Cabo Finisterra (onde fina a terra) e o Campo da Estrela (Compostela) ou Serra de Portugal.
Na Idade dos Metais, a Luxitânia, pelas suas minas de cobre e estanho, levou o Bronze a toda a Europa, como nos nossos tempos levou volfrâmio e urânio ao Mundo. Portugal foi o Som da Pedra e dos Metais, a Forja de Vulcano dos Exércitos até ao Império de Roma, mas também a Oficina do Ouro (o seu Rio Douro) de uma filigrania Celta para muitas Damas da Deusa Europa, vestígios de Briteiros e realidades das actuais Procissões das Festas de Santa Luzia, ou Senhora da Luz. Podem antropólogos e historiadores esgrimir teses de quem somos, mas nascemos para ser fusão ADN de diásporas da História. Primeiro, na lenda, éramos odínicos, com os vestígios dos Tuata-da-Dannan de Argar, regiões do Guadiana a Altamira, um Argar de uma Andaluzia, de novo de raiz Lux. Atraímos então os povos da Terra dos Deuses Ases, ou Ásia, como os Tirsenos da Ásia Menor e os Elamitas da Pérsia, mesmo os Ilírios da Europa de pés na Ásia. Não estranhemos um retorno de hoje de romenos, moldavos, ucranianos, indianos, em suma, um Cáucaso Antigo, um Pamir, por fronteira. Fomos depois, com raízes de Lígures e Iberos, uma fusão de dolicocéfalos altos e louros, odínico-celtas, com baixos e morenos, naturo-endovélicos, adorando o Sol e a Lua, daqui saindo os Celtiberos. Em seguida, já é mais fácil visualizar os cruzamentos com a talassocracia cretense, fenícia, cartaginesa e romana ou Barcas Clássicas, com a expansão árabe em solos cristãos ou Barcas de Abraão, com os Descobrimentos de ADN´s afro-asiáticos e latino-americanos ou Barcas da Cruz de Cristo, todas Barcas dos Corvos de Sagres ou São Vicente.
De uma ancestral cultura megalítica que obrigou Sertório a localizar (lugalizar) o seu Senado em Évora, próximo dos Cromoleques de Guadalupe, sendo mito a Corça Branca que o acompanhava, evoquemos a Tragédia de Viriato (139 a.C.), com refúgio nos Montes de Hermes, ou Hermínios, uma Sabedoria de um Mondego que passa em Coimbra, um rio então chamado Munda vel Menda. A Força desta Luxitânia será a História das suas Tragédias: a de Viriato, a de Inês de Castro, a da Tomada de Ceuta, a de Alcácer-Quibir, a da Morte dos Távoras, a da Morte de D. Carlos I e a de Timor. São 7 Tragédias de Renascimento que estão de acordo com a Beleza de Construção da Cabeça da Deusa Europa, de 7 Luzes Antigas, como os 7 orifícios da nossa cabeça (olhos, ouvidos, nariz e boca), dando origem, no séc. IV, às 7 Prefeituras Romanas do Ocidente, ou Dioceses da Hispânia: Bética, Luxitânia, Galécia, Tarraconense, Cartaginense, Tingitânia e Baleares.
Assim começaria a Fundação de Portugal, com 7 Reinos Ibéricos: Portugal e Algarves, Leão, Castela, Navarra, Aragão e Andaluzia. Teria a sua capital 7 Colinas e 7 Rios para que as Barcas Lusas, como de 7 Colinas de Roma saídas, levantassem Âncora para um reconhecimento dos Açores com 7 Cidades, na Ilha de São Miguel, o Príncipe do Juízo Final. Se quisermos duas imagens de tudo o que se disse até aqui, diria:
Os símbolos do Portugal Antigo, Clássico, Moderno e Futuro, estão encerrados, respectivamente, na Porca ou Javali de Murça, no Veado ou Corça da Nazaré, no Corvo isolado da Ilha dos Açores ou dual de São Vicente de Sagres a Lisboa, na Pomba de Iria, a qual, cíclica, já irradiou o Culto do Espírito Santo na diáspora de Portugal, tão Paraclética como o similar Deus Vulcano, forjada no Porto da Luz, em Alenquer, por Franciscanos e Santa Isabel, a Rainha do Alvará da Ordem de Cristo, Cruz das Caravelas.
Os anagramas de Tomar e de Timor, dizendo Morta e Morti, representam para além das Tragédias, o apoio dos Saberes a um devir de constante Renascimento, onde o Sol e a Lua têm sido símbolos de credos e cultos, mesmo do trajar típico de Timor, hoje chamado de Loro Sae, dizendo já Estrabão que os Lusitanos, com 50 Tribos, quais Portas de Luz da Árvore da Vida, adoravam o Sol e a Lua.
Mais do que olhar a História escrita e documental, tão plena de destruição de bibliotecas, censuras de pensamentos e penas, inquisições de credos e parcialidades de favores de novas verdades, importa ver as Barcas no seu Nevoeiro. A Barca Luxitânia teve amarras em 4 Portos de Pedra: em Alcobaça, a Nau da Fundação; em Batalha, a Nau da Libertação; em Belém, nos Jerónimos, a Nau da Expansão; em Mafra, a Nau da Declinação. A lusofonia do Som dos Mares, levando a cultura e a língua, para além do Som da Pedra espalhando fortalezas, templos e casarios, atravessou 10 Estreitos (Gibraltar, Ormuz, Palk, Formosa, Coreia, Bering, Malaca, Mucassar, Tasmânia e de Magalhães) por 32 Rumos da Rosa-dos-Ventos, ou Caminhos. Tudo seria ideal se, por detrás de tudo e por fim, não estivesse o comércio e a riqueza, a geoestratégia de novos impérios de D. Manuel I ou Carlos V, de Napoleão ou Hitler, ancestrais de Carlos Magno ou Otão III, alterando-se, se for preciso, a Natureza para tal fim, como nos canais do Suez e Panamá. Mas, seguindo o Nevoeiro da Barca, a História do Império português é desde logo o Sangue de Inês de Castro e de D. Pedro I e a Genealogia de muitos Cabrais. De Inês de Castro, por um dos seus carrascos, Diogo Lopes Pacheco ser o antepassado de Diogo Pacheco Pereira, a síntese de toda a gesta lusitana de Quatrocentos e início de Quinhentos, de Portugal à África, ao Brasil e à Índia. É o navegador e cosmógrafo, capitão e governador, testemunha do Tratado de Tordesilhas, feitor do Esmeraldo de Situ Orbis, a Tábua da Esmeralda dos Nautas, não um anagrama de louvor a quem quer que seja. É o Aquiles Lusitano do Canto X dos Lusíadas, na pena de Camões, por Palavra de Tétis. Morre na miséria, anos depois de ter sido demitido de Governador de São Jorge da Mina, a 4 de Julho de 1522, Dia da Rainha Santa Isabel, quando a 22 de Julho de 1505 tinha sido, o semideus grego, levado em Procissão da Sé de Lisboa ao Mosteiro de São Domingos, em louvores de D. Diogo Ortiz, o Bispo de Ceuta de 1415, nesta data Bispo de Viseu. Sangue de D. Pedro I, pois dele nasce o Mestre de Avis, a Ínclita Geração, com o Sangue Inglês da sua Rainha, o seguinte Império dos Mares, ou das Damas Isabel I e Victória, ainda vivo com Isabel II e o seu Commonwealth. A Tragédia de Carlos I de Inglaterra seria similar à de D. Carlos I de Portugal. A ambos se seguiu a República. Nós restaurámos a Independência de Portugal e demos a filha do Rei D. João IV para restaurar a Monarquia inglesa. Mas é a Geneologia Cabral que nos permite ver 600 anos de História, da crise política de 1383/85 à crise económica de 1983/85. São 600 de Marinha Mercante, de 1377 a 1977.
Álvaro Gil Cabral, alcaide de Guarda-Belmonte, levanta Armas pelo Mestre de Avis, em Praças e Cortes. Gonçalo Velho Cabral, levanta Âncoras para os Açores. Pedro Álvares Cabral levanta Padrões para unir a América à Ásia, ou o Brasil à Índia.
Francisco Cabral, o Missionário do Oriente, nascido nos Açores, levanta uma sã Cristandade, em Colégios e Missões, em povos e reis, na Índia, na China e Japão, continuada por João Cabral, outro Jesuíta da Paz, aceite do Tibete ao Ceilão, da Índia ao Japão. Veria cair Malaca, em 14 de Janeiro de 1641, na mão dos Holandeses, o início do Cemitério das Barcas do Oriente quando Portugal a Ocidente As restaura. São os Cabrais de Fornos de Algodres, no séc. XIX, nas lutas de Reis Irmãos. É Sacadura Cabral, o Duarte Pacheco Pereira dos Ares, o Rei Artur que religava Portugal à Inglaterra (voo de 1920), Portugal às suas Ilhas de hoje (voo de 1921 à Madeira) e Portugal ao Brasil(voo de 1922). A sua Barca dos Ares afundou-se nas Águas com o seu corpo, por isso se chamava Artur, algures onde tinha começado a nossa Barca de Argos: a Flandres. No entanto, é a sua Mensagem de um fim de Camelot, completada pela Barca dos Ares de Sarmento de Beires (Argos), o Ulisses dos Ares, o aluno dos Celtas de França, instrutor do Brasil e da China, o Gama de Lisboa-Macau (voo de 1924), o Cabral Nocurno do Brasil (voo de 1927), o exilado de Gomes da Costa e o retornado de Costa Gomes que exala o seu último suspiro, na véspera do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, a 9 de Junho de 1974, 22 anos depois de Amílcar Cabral (com Aristides Pereira) ter iniciado a luta das independências, um final de Império, 11 anos depois de ele ser Tragédia de Viriato, na Guiné, em 1973. Ele e Beires eram poetas.
Antes de desfilarmos nomes da lusofonia desta Barca importa reter que o seu Leme da História foi sempre corrigido por Henriques ou Anriques, como narra Camões. Vão 888 anos de História de Portugal entre o Conde D.Henrique, lutando pela independência e Xanana Gusmão alcançando-a, ou se quisermos, face à morte do pai de D. Afonso Henriques, entre D.Teresa e Xanana, chamando-se a mãe da Rainha, Ximenes ou Ximena Nunes, esposa de D. Afonso VI. O Bispo D. Ximenes Belo de Timor também pertence ao Nevoeiro da Barca. São 2 Dinastias, Afonsina e de Avis, com início de Henriques, o Rei, com fim de Henrique, o Cardeal, sendo delas Nauta o Infante D. Henrique, ao todo 17 Reis. São mais 2 Dinastias, Filipina e de Bragança, que terminam com D. Manuel II, sem descendência como o Cardeal, ao todo 17 Reis. O tio do último Rei, deveria ter ocupado o Trono de Portugal, ele se chamava o Infante D. Afonso Henriques. Mas a Barca não o aceitou ao Leme e esperou por Henrique Galvão, querendo unir África ao Brasil, na Nau Santa Maria, para dizer que o Império acabara. Dependerá do próximo Presidente da República de Portugal, o 17º, o Rumo da Barca.
Hoje não se aplicassem os Saberes de antanho, de Colégios, Monges, Ordens e Iniciados. Tudo gira sem a Máquina Mundo (esfera mecânica no Convento Escorial, em Espanha) ser conhecida. Tudo gira sem os jovens lerem os Lusíadas, não conhecendo a Máquina Celeste do seu Canto X. Novas verdades e valores navegam em internet.
Quantos acreditam no improviso dos Descobrimentos, porque não sabem que a lusofonia só foi possível irradiar no rigor do astrolábio, quadrante, balestilha, tábuas do Sol, toleta de marteloio, regimentos da Estrela do Norte, da Altura do Pólo ao Meio-Dia, do Cruzeiro do Sul e das Léguas, tratados da Agulha de Marear, produzindo-se cartografia que difundimos a outros Reinos, como o faríamos com o Sextante de Gago Coutinho. Mas hoje Pedro Nunes teria lugar na Ponte de Comando do mais sofisticado porta-aviões, pois, diariamente, são feitas as medições de posição e navegação, por instrumentos clássicos, face à possível neutralização dos meios electrónicos e informáticos. Não há maus alunos de Matemática. Não se sabe é ensinar Aritmética e Geometria. Não há maus alunos em Português. Não se sabe é ensinar Etimologia e Gramática. A investigação e o desenvolvimento não é partilhado, mas sim patenteado.
Mas se o erudito lusófono é mais hermético, o Som da língua é o que mais expressão teve, como o Som da Música sempre também o terá. Os Descobrimentos nos deram poetas como Cristóvão Falcão, António Ferreira, Agostinho da Cruz, Jerónimo Corte-Real e Luís Vaz de Camões. Eram os tempos da Peregrinação de Fernão Mendes Pinto, dos escritos de Frei Bartolomeu dos Mártires, de Francisco da Holanda e de Samuel Usque. Uma língua universal, moldada por gramáticos e lexicógrafos como Jerónimo Cardoso, Fernão de Oliveira e Pero de Magalhães Gandavo. Era todo um espírito científico e filosófico, sintetizado em António Luís, Francisco Sanches e Garcia da Orta.
Era um Escol de Quinhentos, ainda sem Contra-Reforma activa e feroz Inquisição, que atraía a Lisboa, a Paris do séc. XIX/XX, letrados como Vazeu, Jorge Buchanan, Cataldo Sículo e Nicolau Clenardo. Era o Som lusófono de Gil Vicente e de sua filha Paula Vicente, o feminino que fez aparecer as Damas das Letras como D. Leonor de Noronha, Públia Hortência de Castro, Luísa e Angela Sigéas, Joana Vaz, sendo Padroeira desta erudição a Infanta D. Maria, sobrinha de Carlos V, Musa inspiradora de Camões.
Após João de Barros, Bernardim Ribeiro e Sá de Miranda sofria já Damião de Góis da censura de liberdade de pensamento, com uma iminente Inquisição, pedida por D. Manuel I e concretizada por D. João III, alastrando na Europa o Fogo de Lutero, aceso a 10 de Dezembro de 1520 quando ele queima a bula do Papa. A erudição renascentista ou oposição silenciada, passa para um exílio lusófono, com cometas em Portugal, ora presos, ora em fuga, dos quais destaco Gonçalo Anes Bandarra e depois Padre António Vieira, Bocage e Filinto Elísio, já no séc. XVIII, sendo a Marquesa de Alorna o símbolo restante dos Távoras, o símbolo de que para se ter Artes, Letras e Ciências é preciso ser-se livre. Assim se fizeram a cantora Luísa Todi e o médico Ribeiro Sanches, dois grandes vultos de Portugal na Europa. O terror pombalino geraria a pior das Tragédias dos Mares, a de Todos-os-Santos de 1755, Dia do remoto Ano Novo Celta.
A nova lusofonia viria do Brasil, com o Som da Música, pois se a quisermos encontrar antes, em compositores, só a podemos recordar em Pedro Escobar, o Príncipe dos Moletes, segundo João de Barros, em Carlos Seixas, o Mestre do Cravo e do Órgão. Digamos, pois, que é João Domingos Bomtempo, com a sua Missa de Requiem à Memória de Camões, uma das muitas obras, que a Barca da Luxitânia vai sedimentar Artes e Ciências. E o acaso está no seu irmão, em José Maria Bomtempo, o médico de Angola (1798/1805) e um dos melhores professores da Academia Medico-Cirúrgica do Brasil, sendo acaso Bocage ter por primo o médico e zoólogo José Vicente Barbosa du Bocage (1823-!907), tão pioneiro como José de Leite de Vasconcellos, o arqueólogo e o etnólogo do seu Museu, nos Jerónimos.
Esta alquimia faz acordar nas trevas da Cultura , de D. João III a D. João VI ( com algumas luzes em D. João V), António de Castilho, sendo seu irmão José Feliciano o fundador do jornal Íris do Rio de Janeiro, Herculano, Garrett, Camilo, João de Deus, Antero de Quental, Júlio Dinis, Oliveira Martins, Eça de Queiróz, Ramalho Ortigão, Guerra Junqueiro, Fialho de Almeida e António Nobre.
São tempos de um Brasil varrido pela Independência dos EUA (1776, a 4 de Julho, Dia da Rainha Santa Isabel) que geraram o Alferes Joaquim José da Silva Xavier (executado em 1792) ao fazer a 1ª conspiração armada, republicana e independentista, em 1789, 100 antes do Brasil ser República. Seria Reino, entretanto, em 1815, 400 anos depois de Ceuta, 300 anos depois de 1515, o ano da faustosa Embaixada a Roma para pedir a Inquisição, levando como símbolos de um já corrupto Império a onça, o cavalo e o elefante. Neste fatídico ano a Barca Luxitânia parava no Extremo Oriente, com as Rotas finais de Albuquerque e as sequentes Armadas de António Abreu (com Fernão de Magalhães a chegar a Timor) e Jorge Álvares a rumar aos países do Sol Nascente.
A Barca da Ordem de Cristo ainda foi Barca das Ordens de Santiago, da Espada por Portugal e de Santiago por Espanha, entregando o Leme final a Magalhães e Sebastião, numa volta ao Mundo dos Mares, com contrato assinado com Carlos V a 22 de Março de 1518 ( dia de 1500 de Cabral de Cabo Verde rumo ao Brasil, onde chegou a 22 de Abril), fazendo-se ao Atlântico a 22 de Setembro de 1519 (saída de São Lucar de Barrameda a 20) e pondo Âncora, de regresso, a 7 de Setembro de 1522 (chegada ao porto a 6). As datas da Barca de Santiago ajustavam-se, 300 anos depois, ao seu novo Grito do Ipiranga e à sua Nova Independência. Faltava só restaurar o seu Imperador a 1 de Dezembro de 1822, 182 anos depois de 1640. Algum saber oculto tinha a Tábua da Esmeralda do Aquiles Lusitano, pois este Condestável Pereira dos Mares fez com que Cabral só tivesse Âncora, em Porto Seguro, a 25 de Abril de 1500, sábado, vésperas de Pascoela, Dia de São Marcos.
Nascem nos séc. XIX/XX os Mecenas da Luxitânia, recordando apenas os seus marcos:
António de Araújo de Azevedo, Conde da Barca (1754/1817), o Noé que leva o Rei D. João VI para o Brasil, planeando a Arca com toda a sua biblioteca, núcleo da futura Biblioteca Nacional do Brasil, carregando o que seria a primeira oficina topográfica do novo Reino. Ele foi o novo Rabi Eliézer Toledano que no séc. XV montava o mesmo em Lisboa.
Joaquim Ferreira dos Santos, Conde de Ferreira (1782/1866), o afortunado comerciante da África e Brasil, mandou construir 120 escolas primárias, financiou as Misericórdias do Porto e Rio de Janeiro, fundou o Hospital de alienados do Porto, com o seu nome, repousando, em Agramonte, em mausoléu esculpido por Soares dos Reis.
Augusto Portugal Silva e Sousa, Visconde Sanches de Baena (1822/1909), comerciante, farmacêutico, médico (doutorado pela Universidade de Filadélfia), numismáta, historiador e genealógico. Em 1859 funda, no Rio de Janeiro, o maior laboratório químico-farmaceutico da América, sendo vasta a sua obra de benemerência no Brasil e Portugal.
Júlio Monteiro Aillaud (?/1927), o fundador da emblemática livraria do Chiado “Aillaud & Bertrand”, lançando escritores como Aquilino Ribeiro, Antero de Figueiredo e Raúl Brandão (o Dostoievski português, como o é a portuguesa Agostina Bessa Luís), criando e financiando revistas, como Atlândida, Ilustração, Voga e Magazine Bertrand e desenvolvendo a difusão do livro português do Brasil a Timor.
Esta nova lusofonia, teve por sementes: os 6 jesuítas levados por Tomé de Sousa, o 1º Governador-Geral do Brasil; a Nova Lusitânia, a Capitania de Pernambuco, a Florença da América; vultos como Manuel da Nóbrega (fundador de S. Paulo, 1549), José Anchieta, (linguísta, teatrista e beato, com o Papa João Paulo II em 1980), António Vieira ( o Padre dos Sermões), Alexandre Gusmão ( percursor do romance) e o Conde de Sabugosa (fundou o Teatro secular no Brasil), o Vice-Rei das Sesmarias; o enriquecimento cultural de D. João V, com Academias e Colégios. O terror pombalino e a sua censura, como a de Pina Manique não deixaram florescer estas sementes. Elas iriam desabrochar, com os Românticos e Mecenas já citados, principalmente pelo Som da Música Clássica, com os irmãos Croner e Mestre Ivo Cruz, o brasileiro fundador das Orquestras de Câmara e Filarmónica de Lisboa, com Francisco Freitas Gazul e a Família de Freitas Branco, pelo Som da Música Ligeira de Raúl Ferrão e Lopes Graça. As vozes de Carmen Miranda, de Stella Tavares, Amália Rodigues e Cesária Évora, são 100 anos de uma Mensagem escrita de Fernando Pessoa e de Agostinho da Silva, pintada por Almada Negreiros e Lima de Freitas, teatrealizada por Luísa Durão e Vasco Santana, televisionada por Pedro Homem de Melo e Vitorino Nemésio.
Nova Lusofonia de eternas 7 Notas com novas reformas de som e grafia do Português, sendo o nosso melhor filólogo Aniceto Viana (1840/1914), o Nauta da Reforma de 1911, o maior erudito do Mundo em línguas, abrangendo o remoto sânscrito. Serão novas letras para o imortal lexicrógrafo Cândido de Figueiredo compilar em Novo Diccionário da Língua Portuguesa, dizendo o grande brasileiro Rui Barbosa que este Académico das Letras seria sempre “a maior das nossas competências actuaes em materia de lexicologia portuguesa”. Estas e outras obras de vulto publicavam-se então na Imprensa Portugal-Brasil, Sociedade Editora Arthur Brandão & C.ª, um de tantos pilares que não emanava de acordos de grandes comitivas políticas.
Não se falou em tantos Nautas de hoje, muitos deles fazendo lusofonia fora das Barcas, ou na Nova Barca da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). Na prática, esta idealizada Barca só começou a ter Amarras 600 anos depois se erguer o Mosteiro da Batalha, com Mestre Afonso Domingues, 500 anos depois de Vasco da Gama rumar ao Oriente, 400 anos depois da morte de Filipe II de Espanha, 300 anos depois da descoberta do Ouro do Brasil, 200 anos depois da loucura de D. Maria I, 100 anos depois do Tratado de Paris, ou seja a EXPO 98 de Lisboa, com a sua Ponte Vasco da Gama e o Prémio Nobel da Literatura, José Saramago. Que a CPLP siga a Rota da Barca Luxitânia, das Artes, Ciências e Letras, sem lhe darem os Governos um acento de Forças de Manutenção de Paz. As Musas e os Mecenas surgirão sem Guerra. O Mundo do séc. XX alastrou a sua I Guerra até hoje por ter afundado o Navio Lusitânia, em 1915. Hoje ela se mantém, pela Cimeira dos Açores, talvez assim dure até 2015. Assim não haverão Musas e Mecenas, pois dissemos ao Mundo que o petróleo se chamava Fundação Calouste Gulbenkian, o crude da Paz e da Cultura, um dos Baluartes da lusofonia. A avidez do lucro, de uma Matriz de Trevas de fim de Ciclo, derrama este crude de Finisterra da América, ou Alasca, à Finisterra da Europa, ou Galiza, condicionando independências, como o ouro, a prata, os diamantes, as sedas, as madeiras preciosas e as especiarias impediram que o que a Barca Luxitânia rasgou fosse verdadeiramente livre e independente. Tenhamos Fé e Esperança para que a Barca da CPLP leve a Caridade ao Mundo, já que o Planeta está enfermo de Justiça, Misericórdia, Prudência e Força Espiritual, apesar de tantos Credos de Fé e alegados Iniciados de Mistérios. Não precisamos de Césares, precisamos de Sertórios. Assim seja o Canto da Barca Luxitânia na Lusofonia de Cesária Évora.
Termino, evocando todos quantos aqui não foram recordados na figura de 2 Bispos: D. José Caetano Coutinho, Bispo do Rio de Janeiro, o entusiasta da Independência do Brasil, sagrando D. Pedro I a 1 de Dezembro de 1822, presidindo à Constituinte e à Assembleia Legislativa e depois ao Primeiro Senado (1827/1831); D. Ximenes Belo, Bispo de Timor, o entusiasta da Paz para um Independente Timor. Sejam estes Prelados o símbolo das lutas de séculos para sermos livres, longe da Mater, da Mãe Gea que nos gerou. Cantava Ary dos Santos e interrogava Natália Correia porque não dizer Mátria em vez de Pátria. Digamos, por isso, Barca e não Barco, pois Ela é Arca e não Arco.
João Santos Fernandes (*)
(*) Coronel do Exército português, natural de Lisboa, autor de Portugal Iluminado e O Despertar do Ser, livros publicados pela Hugin Editores. Possui obra escrita dispersa por Congressos, Conferências e Ordens a que pertence, procurando o transcendental cristão. Com uma carreira militar controversa e diversificada, às vezes mesmo polémica e relatada pelos jornais, foi pública a sua acção nas investigações das mortes de Humberto Delgado e Sá Carneiro, começando cedo a ser conhecido pela imprensa, em 1975, quando tentava apoios do Governo para um seu projecto de desenvolvimento de Portugal. Recentemente, publicava o jornal Diário de Notícias, de 26/4/2004, extractos da sua Carta de Abril aos Órgãos de Soberania e outros destinatários.


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