IMPÉRIO DO DIVINO
As idéias do V Império permaneceram adormecidas por mil anos até que nascesse Joachino dei Fiore (1132-1202), na Itália, abade cisterciense, filósofo, místico, defensor do milenarismo e da idade do Espírito Santo.
Na sua interpretação do texto sagrado, existiriam três idades na história, sendo o três o número do progresso, no desenvolvimento do mundo. A primeira, a de Deus Pai, a mosaica, do poder absoluto, inspirando o temor sagrado. A segunda, a de Deus Filho, com a revelação do Novo Testamento e a fundação da Igreja de Cristo, indo do nascimento de Jesus à Idade Média. A terceira, a do advento do Império do Divino Espírito Santo, um tempo de amor e igualdade universais, em que as leis evangélicas seriam definitivamente compreendidas e aceitas. Nesta era não mais existirão Igrejas ditando Leis e disciplinando a Fé, pois tudo será da inspiração divina.
Fiore achava que a segunda idade estava no fim, a ser marcado por um cataclisma. A História estaria evoluindo através dessas idades até a apoteose do Juízo Final.Este tempo ainda por vir seria a fase final da História, com o aumento da espiritualidade no mundo. As igrejas seriam substituídas pelo corpo místico, contemplativo e igualitário, em que os pobres reinariam.
Algumas doutrinas de Fiore sobre a Santíssima Trindade foram condenadas, outras tiveram expansão entre os cistercienses florianos e os franciscanos joaquimitas, que nelas incluiram a ressurreição de São Francisco e a morte do anticristo Frederico II da Sicília. Como entre essas idéias estava a substituição dos Novo e Velho Testamento pelos livros de Fiore, constituindo a Eterna Revelação, o papa Alexandre IV, em 1256, condenou todas as suas obras, também refutadas por Tomás de Aquino, na Summa Teológica.
OS APÓSTOLOS RECEBENDO A LUZ DO
Contudo o joaquimismo continua latente no Cristianismo Católico e Evangélico. Sendo suas idéias as introdutoras da noção de progresso nas concepções religiosas.
Em Portugal tiveram ampla difusão, com a criação do culto do Espírito Santo, apoiado pela rainha Santa Izabel, esposa de Dom Diniz, mais tarde fundindo-se ao sebastianismo e ao V Império do padre Antonio Vieira.
Santa Izabel era filha de Pedro III de Aragão e de Constança, filha de Manfredo da Sicilia, filho de Frederico II, duas vezes excomungado por pretender terras dos Estados Pontifícios. Portanto Santa Izabel era bisneta de Frederico II da Sicília.
Seu marido D. Dinis (1261-1325) foi aclamado rei, em 1279. Foi o rei da época em que os Templários foram perseguidos pelo rei frances Felipe, o Belo, e pelos papas de Avinhão, especialmente Clemente V. Qundo subiu ao trono, Portugal estava em atrito com a Igreja Católica, normalizando-se a situação ao assinar um tratado, com o papa Nicolau III, de Roma, em oposição ao de Avinhão. Salvou os templários portugueses da perseguição originada, na França, e os incluiu na Ordem de Cristo.
Nos Açores, nas comunidades açorianas do Brasil e em algumas outras localidades portuguesas o culto do Império do Divino Espirito Santo, representa um remanescente das doutrinas de Joaquim de Fiore, introduzidas, em Portugal, no tempo de Santa Izabel, talvez trazidas do Aragão. Os centros iniciais deste culto seriam Tomar, a capital Templária de Portugal, e a cidade de Alenquer, que, para os espiritualistas franciscanos, seria a capital desse V Império, o do Espírito Santo..
Deixando de lado a esquematização das festa e das sociedades que as organizavam, a presença das idéias de Fiore neste culto ainda são patentes, nos Açores, e em outros locais, entre as quais citamos:
1. Fé – Deve-se ter no Divino e nos seus sete dons. O Divino Espírito Santo está presente em todo o lado, tudo sabe e tudo vê, não havendo para ele segredos. As ofensas ao divino são punidas severamente (Diz-se: o Divino Espírito Santo é vingativo), não ficando impunes as promessas não cumpridas. Os Sete Dons do Espírito Santo são: Sabedoria, Entendimento, Conselho, Fortaleza, Ciência, Piedade e Temor, as fontes de toda a virtude, devendo guiar os irmãos.
2. Esperança — Os seus devotos esperam a chegada de um tempo novo onde todos os homens serão irmãos e o Espírito Santo será a fonte de todo o saber e de toda a ordem.
3. Igualitarismo — Todos os irmãos são iguais e todos podem ser mordomos, coroados e imperadores, merecendo igual respeito e obediência quando investidos dessas autoridades. É a expressão prática do igualitarismo joaquimita.
4. Solidariedade e a Caridade — Na distribuição das ofertas e das pensões devem ser privilegiados os mais pobres, para que todos possam igualmente festejar o Divino Espírito Santo. Todas as ofensas devem ser perdoadas, para se ser digno de receber o Divino Espírito Santo.
5. Autonomia em face à Igreja — O culto do Divino Espírito Santo não depende da organização formal da igreja, nem necessita da participação formal do clero. Não existem intermediários entre os devotos e o Divino. É clara a influência do pensamento joaquimita, preferindo a igreja mística à igreja formal.
A festa so Espírito Santo corresponde à de Pentecostes, oriunda do Judaísmo e adotada pelo Cristianismo. Logo depois da Ascensão de Jesus, encontravam-se os apóstolos reunidos com a Mãe de Deus, sendo o dia da festa de Pentecostes. Os apóstolos tinham medo de sair para pregar. Repentinamente escutou-se um forte vento e línguas de fogo pousaram sobre cada um deles. Cheios do Espírito Santo, passaram a falar em línguas desconhecidas. Nesses dias estavam muitos estrangeiros em Jerusalém, que vinham de todas as partes do mundo para celebrar a festa judaica. Cada um ouvia os apóstolos falarem em sua própria língua e compreendiam perfeitamente o que eles falavam. Todos eles, a partir desse dia, não tiveram mais medo e saíram a pregar pelo Mundo os ensinamentos de Jesus. O Espírito Santo lhes concedera forças para a grande missão de levar a Palavra a todas as nações e batizar todos os homens, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
A coincidência da festa do Espírito Santo chegar a Portugal através de Tomar deve-se ao fato daquela cidade abrigar a maior fortaleza e a sede da Ordem Templária, naquele país. Através dela foi efetuada a conquista aos mouros das terras do Ribatejo e do Alentejo.
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